Capítulo 1.

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— Você está dizendo que meu ex-marido arruinou meus negócios de tal forma que estamos praticamente falidos?
Lucy olhou fixamente para seu advogado. Um susto e um medo tão intensos assaltavam-na, uma sensação de que a situação em que estava envolvida era tão apavo-rante e insuportável que não podia ser verdadeira.
Mas tudo era verdade. Ela estava lá, sentada de frente para o Sr. McVicar dizendo-lhe que seu ex-marido tinha arruinado de tal forma a reputação e o status financeiro de sua empresa de organização de eventos, que havia criado com tanto entusiasmo e prazer antes de seu casa¬mento, deixando-a não mais viável.
Nick a traíra sexual e financeiramente durante o bre¬ve casamento... mas, ela não o traíra também? Culpa não iria ajudá-la agora, Lucy advertiu a si mesma en¬quanto lutava com o grande peso dos problemas que agora enfrentava.
— Tenho algumas comissões de alguns eventos até o final do ano — disse ela ao seu advogado, cruzando os dedos atrás de suas costas e esperando que ele não per-guntasse quantas, já que na verdade havia tão poucas.
— Talvez, com isto em vista, o banco...?
Seu advogado balançou a cabeça. Ele gostava de sua jovem e bonita cliente e sentia muito por ela, mas em sua opinião, ela era gentil demais para o mundo imper-doável dos negócios.
— Sinto muito, minha querida — disse-lhe. — Como você mesma disse, muitos clientes em potencial já can¬celaram seus eventos e pediram que o dinheiro fosse de-volvido, e acho... Bem, vamos dizer apenas que vive¬mos em um mundo cruel, onde confiança é algo em que ninguém coloca um preço.
— E por causa do que Nick fez, ninguém mais terá confiança na Prêt a Party — é isto o que você quer di¬zer? — Lucy perguntou-lhe com amargura. — Mesmo que Nick não faça mais parte dos negócios, ou de minha vida, e sobretudo sendo eu quem abriu a empresa?
O olhar solidário do advogado foi tudo o que obteve como resposta.
— Ouso dizer que não deveria culpar os clientes por darem para trás. Afinal de contas, suponho que aos olhos deles se eu fui estúpida o suficiente para casar-me com Nick, então não posso ter muita credibilidade.
Marcus. Se havia uma pessoa que gostaria de remo¬ver magicamente de sua vida e de suas memórias para sempre, esta pessoa não era Nick, mas Marcus.
— Não há nada que possa fazer para salvar meus ne¬gócios? — suplicou ela a seu advogado.
— Se você pudesse encontrar um novo sócio — al¬guém de estatura financeira conhecida e íntegra, de res¬peito e confiança, e que queira investir capital o sufi¬ciente para saldar todas as obrigações proeminentes da Prêt a Party...
— Mas eu tenho a intenção de pagá-las sozinha. Ain¬da tenho dinheiro em meus fundos — interrompeu Lucy com fúria.
— Sim, é claro. Sei disso. Mas acho que saldar as dí¬vidas, embora seja algo muito honrado a ser feito, não vai ressuscitar a confiança dos clientes em você, Lucy. Lamentavelmente, as atitudes de seu ex-marido prejudi¬caram a reputação de sua empresa de forma quase sem conserto, e o fato de suas duas sócias terem deixado a Prêt a Party...
— Mas isto foi porque as duas se casaram e têm ou¬tras responsabilidades agora, é tudo. Não por qualquer outra coisa! Carly está grávida e tem um filho para cui¬dar, além de ter de trabalhar com Ricardo no orfanato que fundou. E Julia tem um novo bebê para cuidar — e também está envolvida com a Fundação.
— Claro, entendo. — Seu advogado acalmou-a. — Sei de tudo isto, Lucy, mas infelizmente os olhos do mundo externo — o mundo que você quer atrair — não vê isto. Eu realmente sinto muito, minha querida. — Ele fez uma pausa. — Você pensou em se aproximar de Marcus? Ele...
— Não! Nunca! E eu absolutamente proíbo você de dizer qualquer coisa sobre isso para ele, Sr. McVicar — disse Lucy furiosa, levantando-se tão abruptamente que quase derrubou a cadeira. O pânico e a aflição agarra¬vam-na pela garganta com tanta força como se fosse o próprio Marcus que tivesse agarrando-a. Como ele ama¬ria isto. Como ele amaria dizer a ela que tinha avisado que isto iria acontecer. Teria uma lista de todas as coisas erradas que fizera, de todos os pontos nos quais falhara.
Às vezes, aos olhos de sua família e Marcus, Lucy sentia-se como se tivesse passado sua vida inteira fra¬cassando. Para começar, uma filha, e não um filho — uma filha para casar-se e não um filho para ser um her¬deiro. E, embora seus pais tivessem tido um filho, Lucy de alguma maneira sempre sentiu que os deixara triste por ter nascido primeiro e com o sexo errado. Não que seus pais lhe tivessem dito que ela era uma decepção para eles, mas Lucy nascera com uma natureza sensível e não precisava que as pessoas lhe dissessem o que sen¬tiam. Ela sentira a decepção de seus pais — assim como mais tarde reconhecera a irritação de Marcus em relação a ela.
Não que alguém precisasse adivinhar o que Marcus pensava ou sentia. Nunca conhecera alguém tão mais capaz ou descomprometido em relação a dizer exatamente o que pensava ou sentia. Marcus deixara claro na primeira vez em que se confrontara com Lucy em seu escritório em Londres que não aprovava o fato de o primo-avô dela ter deixado uma quantia de dinheiro tão alta para ela.
— Suponho que seja por isto que você concordou em ser meu curador, não? Porque você não aprova o fato de eu ter o dinheiro, e quer fazer com que a minha vida seja a mais difícil possível!

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