Capítulo 2.

4.1K 182 6
                                    

— Este tipo de comentário simplesmente confirma minha preocupação em relação ao estado mental de seu tio-avô quando ele fez o testamento — fora a resposta mordaz de Marcus.
— Suponho que você esperava que ele deixasse o di¬nheiro para você? — retrucou Lucy.
Como resposta, Marcus a olhara de tal forma, que seu rosto queimou.
— Não seja tão infantil — dissera-lhe friamente.
É claro que naquele momento ela não se deu conta que Marcus era dono de milhões, senão bilhões, no co¬fre do banco de sua família, do qual ele era o presidente.
O Sr. McVicar observava-a solidariamente. Ele sabia perfeitamente bem da tensão entre sua cliente e o ban¬queiro formidavelmente rico que seu falecido tio-avô ti¬nha nomeado como curador do dinheiro que deixara para ela.
Agora aquele dinheiro tinha quase todo ido embora engolido pela ganância e ações fraudulentas do ex-marido de Lucy, e a falência de sua uma vez bem-sucedida pequena empresa.
Mas em sua opinião, não havia outra pessoa melhor para ajudá-la além de Marcus, cuja sensatez para os ne¬gócios era formidável e legendária. O próprio Sr. McVicar insistira para que ela não concordasse com o pedido do banco de que assegurasse as finanças da Prêt a Party dando como garantia sua herança, mas ela se recusara a ouvi-lo. Moralmente, Lucy era irrepreensível mas, infe¬lizmente, fora ingênua demais e agora estava pagando o preço por isto.
Ele retornou para o assunto em questão.
— Se você pudesse atrair um sócio rico que estivesse preparado para colocar dinheiro na empresa, então...
— Na verdade, foi exatamente isto que eu fiz.
Logo que as palavras saíram de sua boca, Lucy per¬guntou-se que diabos estava fazendo. Foi a referência a Marcus que a instigara a mentir para ele criando um financiador em potencial? Lucy fechou os olhos reconhe¬cendo sua vulnerabilidade. Apenas ouvir o nome de Marcus era o suficiente para incitar nela um furor defen¬sivo.
O Sr. McVicar pareceu tanto aliviado quanto surpreso.
— Bem, isto é uma notícia realmente excelente, Lucy. A situação muda completamente de figura — dis¬se-lhe com entusiasmo, tão alegre que a culpa de Lucy aumentava desconfortavelmente. — Na verdade, o me¬lhor resultado pelo qual alguém poderia esperar. Mas é obviamente algo sobre o qual devemos conversar. Acho que devemos marcar uma reunião com seu possível só¬cio e os consultores legais dele ou dela o mais breve possível. Oh, e é claro que seu banco tem de saber o que está acontecendo. Tenho certeza de que ficarão bem mais flexíveis quando souberem que tem capital a ser injetado na Prêt a Party. Também acho que seria uma boa idéia que isso fosse a público, talvez até mesmo um anúncio de meia página nestes jornais lidos com mais freqüência por seus clientes, dizendo mais uma vez que seu ex-marido não tem mais acesso ou envolvimento al¬gum com qualquer aspecto da Prêt a Party e que, além disso, você agora tem um novo sócio.
Lucy sentia-se como se estivesse atolada em uma lama sem fim. Por que ela deixara que o pensamento na desaprovação de Marcus a impulsionasse a cometer tal estupidez? Que diabos ela fizera? Como poderia admitir para o Sr. McVicar que mentira — e por quê?
— Er, no momento não posso dizer quem ele é, Sr. McVicar — começou Lucy desconfortavelmente. — É segredo. Negociações são... um... bem, você sabe como é...
— É claro. Mas devo insistir que você se lembre, Lucy, que tempo é essencial aqui.
Balançando a cabeça positivamente, Lucy saiu do es¬critório o mais rápido possível. Como pôde ter mentido daquela forma? Ia contra tudo que acreditava. Agora se sentia culpada e envergonhada.
Que diabos iria fazer? Precisaria de um milagre para salvá-la agora. Automaticamente, virou a esquina e cor¬reu para a rua Bond, sem prestar atenção nas vitrines das lojas de luxo. Roupas de grife não faziam exatamente o seu tipo. Gostava de roupas antigas, recuperadas nas feiras de rua e sótãos de casas. O tecido delas era tão vi¬çoso, senti-lo contra sua pele era algo que amava: seda verdadeira e cashmere; lã, algodão e linho. Fibras artifi¬ciais podiam ser mais práticas para a vida moderna diá-ria da cidade, mas em muitos pontos era uma garota an¬tiquada que almejava a volta a um estilo de vida mais calmo.
A verdade era que secretamente não teria amado nada além do que se casar e ter filhos, os quais ela e seu marido criariam em uma casa de campo. Invejava suas duas melhores amigas, o casamento feliz e a nova famí¬lia, mais do que eles ou qualquer outra pessoa podiam imaginar — afinal de contas, ela tinha seu orgulho. Foi este orgulho que a levara a abrir a Prêt a Party. O mesmo orgulho que acabara de fazer com que dissesse aquela estúpida mentira, lembrou-se.
As revistas de uma banca de jornal próxima chama¬ram sua atenção. Parou para examiná-las. Na parte da frente, como sempre, estava a A-List Life. Lucy come¬çou a rir.
Seu excêntrico dono e editor Dorland Chesterfield havia sido um grande amigo seu, contratando a Prêt a Party para organizar vários de seus eventos — eventos freqüentados por várias celebridades. Ela até mesmo considerara pedir para que ele a ajudasse a sair da con¬fusão na qual Nick a deixara, não fosse o fato de ela sa¬ber que se tinha alguma coisa que podia dominar sua ge¬nuína bondade era seu amor por divulgar fofocas. A úl¬tima coisa que precisava nesse exato momento era ter a história de sua ruína espalhada nas páginas de A-List Life.
É claro que suas duas amigas — agora ex-sócias na Prêt a Party — tinham maridos extremamente ricos e as duas gentilmente ofereceram ajuda financeira, mas Lucy não podia aceitá-la. Por um lado, havia seu maldi¬to orgulho e, por outro, não era apenas de dinheiro que precisava, mas de alguém para trabalhar com ela. Rece¬ber dinheiro para pagar as dívidas da Prêt a Party era um gesto gentil, mas ela queria — na verdade, precisava — provar que não era a idiota que todos obviamente pensa¬vam que era e que podia tornar seu empreendimento um sucesso.

NO CALOR DA SEDUÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora