— Marcus, você tem certeza de que estamos fazendo a coisa certa?
Eles tinham acabado de chegar de uma visita à casa dos pais dela, que ficaram alegres com o fato de que iriam se casar, mas desde que voltaram para Londres, Lucy começou a se sentir triste.
Em Maiorca, lavada pelo sexo e pela fantasia, ela sentira-se como se qualquer coisa fosse possível, até mesmo que Marcus poderia amá-la um dia — mas ago¬ra, em Londres, algumas realidades estavam recusando-se a ir embora.
— O que você quer dizer exatamente? — perguntou Marcus. Ele franzia a testa para ela com aquela mistura de impaciência e irritação familiares que sempre esma-gavam seu coração. — Pensei que com a reação que nossas famílias tiveram fosse óbvio que estamos fazen¬do a coisa certa. — Ele levantou-se e andou até a janela, e Lucy pegou sua caneca de café com os dedos tensos. Estava claro que ele não queria continuar a conversa, mas ela precisava. Precisava... Precisava do seu amor, ela admitiu. E na ausência disso, precisava que ele lhe assegurasse que ela não tinha nada a temer. Precisava de esperança. Precisava acreditar que ele poderia algum dia amá-la. Mas ela não podia dizer nada disso para ele, admitiu ela, pesarosamente, porque sabia que ele não entenderia suas necessidades e ficaria irritado com elas.
— Nossas famílias supõem que... que gostamos um do outro — disse-lhe cautelosamente. — Não sabem a verdade. E não sei se um... um relacionamento, um ca-samento, sem amor pode sobreviver.
— Amor? — Marcus sacudiu a cabeça, a expressão ficando sombria. — Por que as pessoas são obcecadas pela ilusão de que o que se chama de amor é algo de va¬lor? Não é — disse-lhe asperamente. — Você deveria saber disto. Afinal de contas, você se casou com Blayne porque o amava, e olha onde isto levou você.
— -Você e eu temos motivos práticos para nos casar¬mos que são muito mais importantes do que amor. Pre¬ciso e quero uma esposa que entenda meu estilo de vida e que divida comigo o desejo de ter filhos, eu certamen¬te não quero ser o primeiro Carring a não produzir um herdeiro ou uma herdeira. Sexualmente, como já vimos, somos compatíveis. Você quer ter filhos e não é o tipo de mulher que gostaria de tê-los fora de um casamento. Você se casou uma vez pelo suposto amor, Lucy. Achei que você fosse inteligente o suficiente para reconhecer que foi um erro e que não quer repeti-lo.
— Mas e se um dia você se apaixonar por alguém. Marcus?
— Me apaixonar? — Ele olhou para ela como se ela tivesse sugerido que ele matasse a própria mãe. — Você não ouviu nada do que venho dizendo? Meu pai se apaixonou quando abandonou a minha mãe. Ele abandonou minha mãe e os filhos por causa deste amor, e se não fosse o acidente que o matou, teria acabado com o ban¬co e com a felicidade de minha mãe. Vi então o que era o amor, e jurei a mim mesmo que nunca iria me entregar a uma coisa destas.
Mas você tinha seis anos de idade! Lucy queria pro¬testar. Mas sabiamente conteve-se. Não tinha idéia de que Marcus tinha uma visão tão forte e amarga sobre o amor, ou que era tão contra ele.
Seu café esfriara, mas ela ainda mantinha a mão em volta da caneca, como se buscasse dela calor e conforto.
— O que foi? — perguntou ele quando a olhou e viu o desespero em seus olhos.
Ela balançou a cabeça.
— Não... não sei se devemos nos casar, Marcus.
— Agora é tarde demais — disse-lhe. — Sua mãe já está organizando o casamento e... — Ele fez uma pau¬sa, e então a lembrou. — Não vamos esquecer: você pode estar grávida de um filho meu. Vamos nos casar, Lucy. — Ele reforçou calmamente. — E nada vai mudar isto.
Assim como nada mudaria sua opinião sobre ó amor, Lucy reconheceu desesperada. Como ela pôde ter se en¬ganado acreditando que ele a amaria? Marcus nunca a amaria. Marcus não queria amá-la. Não queria amar ninguém.
— Quero falar com você sobre Prêt a Party — conti¬nuou ele rapidamente.
Lucy ficou tensa. Não queria falar com Marcus sobre isso. Ela recebera uma carta de Andrew Walker reite¬rando que não queria que ela falasse sobre o encontro que tiveram com ninguém, e explicando que ainda esta¬va fora do país a negócios e entraria em contato quando retornasse. É claro que não poderia haver segredos entre marido e mulher, mas dera sua palavra e não tinha a in¬tenção de quebrá-la — e, além disso... a traição de Nick deixara uma cicatriz. Ela sabia que Marcus nunca a trai¬ria financeiramente, mas sua crescente insegurança em relação ao futuro do casamento deles fazia com que ela segurasse Prêt a Party com firmeza.
— Decidi que a maneira mais simples de lidar com a situação atual seria através de uma injeção de capital su¬ficiente para saldar as dívidas — disse ele.
— Não! Não, não quero que você faça isso. Lucy podia ver que sua explosão o surpreendera.
— Por que não? Há menos de dois meses atrás você implorou para que eu permitisse que você utilizasse o que ainda restava em seus fundos para colocar na em-presa.
— Era diferente — disse-lhe obstinadamente. — Era meu dinheiro, não o seu. E, além disso... — Ela mordeu os lábios. Não podia contar para ele sobre Andrew Walker, não ainda, e mesmo se contasse, ela suspeitava que ele não entenderia como ela seria capaz de aceitar ajuda financeira de outra pessoa. Ter um marido envolvido em seus negócios e quase o destruindo, dera-lhe uma li¬ção que não queria repetir.
Marcus franziu a testa quando a olhou. Estava óbvio para ele que Lucy reconsiderava o casamento. Era por¬que, apesar de tudo o que ele fizera, ela ainda amava Nick Blayne? E por que ela não queria aceitar que ele pagasse as dívidas da Prêt a Party?
— Lucy...
Ela interrompeu-o.
— Prêt a Party é minha responsabilidade, Marcus, e quero que continue sendo.
Sua responsabilidade e talvez salvação, caso ele de¬cidisse algum dia acabar com o casamento.
Uma intensa solidão invadiu-a. Às vezes, era como se toda sua vida emocional mantivesse segredos que não podia compartilhar com outra pessoa. Ela queria muito chorar, mas é clara que não podia. Suas duas melhores H amigas tiveram tanta sorte, encontraram suas almas gêmeas e parceiros verdadeiros — homens com os quais podiam dividir qualquer parte de suas vidas. Mas ela não. Nunca tivera, e agora nunca poderia dividir seus desejos mais íntimos com alguém.
Casar-se com Marcus significaria fechar a porta de seus sentimentos para sempre. Mas ela sabia que não era forte o suficiente para deixá-lo afastar-se dela e achar outra pessoa. A dor seria simplesmente demais para su¬portar. E, como o próprio Marcus a lembrara, já podia ser tarde demais para ela desistir do casamento. Ela po¬dia já estar grávida.
Lucy olhou para seu relógio. Marcus estaria em Edinburgh. Ele disse que ficaria fora por apenas dois dias, mas ela já estava sentindo sua falta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NO CALOR DA SEDUÇÃO
RomanceA atraente Lucy Blayne desapareceu da mídia desde que foram reveladas as traições e as trapaças de seu marido. Mas ela está determinada a reestruturar sua vida e, para isso, conta com a ajuda do conselheiro Marcus Carring, um banqueiro rico e famoso...