Capítulo 28.

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Lucy insistira que Dorland tinha de ser convidado, embora sua mãe não aprovasse totalmente.
— Lucy, preciso falar com você sobre uma coisa — acrescentou Dorland com uma seriedade pouco fami¬liar.
— O que há de errado? — perguntou-lhe Lucy assim que estavam em um canto.
— Um de meus fotógrafos disse que viu você almo¬çando na brasserie com Andrew Walker.
Que falta de sorte. Ela vira o paparazzi do lado de fora da brasserie e deveria ter presumido que seria vis¬ta. Dorland tinha olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Ele conhece meu primo — respondeu Lucy o mais casualmente possível, mas Dorland estava sacudindo a cabeça.
— Ele é um cara do mau, Lucy. Não se envolva com ele.
O choque por Dorland estar tão sério e dizendo algo tão estarrecedor fez com que ela olhasse para ele preo¬cupada.
— O que você quer dizer com isso?
— O quanto você sabe sobre ele? — perguntou-lhe Dorland.
— É um empresário muito bem-sucedido que cons¬truiu uma empresa sediada em Londres que fornece para os ricos os tipos de serviços domésticos que eles não têm tempo para fazer.
— Esta é a ponta legítima do iceberg — disse-lhe Dorland. A verdade é que ele trabalha para a máfia oriental de lavagem de dinheiro. Os trabalhadores de sua empresa são na sua maioria ilegais. Em primeiro lu¬gar, os pobres sujeitos têm de pagar milhares de libras para entrar neste país, e depois quando chegam aqui lhe  | dizem que podem ser mandados de volta a qualquer hora se as autoridades descobrirem que estão aqui. En¬tão são forçados a trabalhar por quase nada.
— E isto não é o pior. As jovens — garotas —, que às vezes são vendidas pela própria família e às vezes rou¬badas, são colocadas na prostituição e passadas de dono para dono. Ele está envolvido em um dos negócios mais cruéis do mundo. Ele trafica com a miséria e a degrada¬ção humana. E, a propósito, Andrew Walker não é nem mesmo seu nome verdadeiro.
— Como você sabe de tudo isto? — protestou Lucy.
— Sei porque ano passado ele aproximou-se de mim com uma oferta para comprar uma parte da A-List Life. Disseque estava procurando onde investir os lucros de seu negócio. Falou sobre levar a A-List Life para a Eu¬ropa e até mesmo para Rússia. Admito que fiquei tenta¬do, não apenas pelo dinheiro do qual falava — que era fenomenal. Mas assim que comecei a fazer perguntas, todos os tipos de coisas começaram a sair da obscuri¬dade.
— A razão pela qual queria comprar a A-List-Life era porque estava procurando uma maneira de lavar o di¬nheiro que estava ganhando com o comércio de traba¬lhadores ilegais e prostitutas.
A cada palavra que Dorland pronunciava, o coração de Lucy batia mais forte.
— Não vou me intrometer em seus negócios, Lucy, mas sei como estas pessoas trabalham — oferecem um negócio extraordinário. Se era por isto que você estava almoçando com ele, então aceite meu conselho e não se envolva.
— Mas se ele é tão mau assim como você diz, por que as autoridades não fizeram nada em relação a isto? — perguntou Lucy.
— Provavelmente, porque ele é esperto demais para que provem alguma coisa. A única razão pela qual eu sei é porque perguntei para as pessoas certas. Os oligarcas russos atuam em Londres, e alguns deles eu conhe¬ço, e eles conhecem pessoas que conhecem outras pes¬soas etc. Não estão envolvidos de maneira alguma com ele ou com o que ele faz, mas tem contato com quem tem contatos. E me disseram: não se envolva. Ele e as pessoas com quem trabalha jogam muito sujo. Você contou a Marcus sobre ter almoçado com ele? Lucy balançou a cabeça.
— Não. E... e não poderia. Não agora.
— Não. Ele definitivamente não gostaria — concor¬dou Dorland.
— Só tivemos uma reunião, isto é tudo — ressaltou Lucy. — Nada além.
— Bem, se eu fosse você, Lucy, não teria outras reu¬niões. E também certificaria Walker de que você não está interessada em nenhuma de suas propostas. Isto não é da minha conta, eu sei disso, mas sempre gostei da Prêt a Party e de você. Você tem classe, Lucy, e eu gosto disso. Admiro o que você fez com a Prêt a Party, mesmo as coisas não tendo dado certo. Mas é exatamente isto que ele está procurando, e quando ele colocar você na lama com ele, para você sair vai ser o diabo. Estas pes¬soas sabem manter suas vítimas encurraladas e depen¬dente deles.
Lucy olhou para a carta que acabara de fazer. Era para Andrew Walker, dizendo-lhe que como ia se casar, decidira não ir adiante com o negócio sobre o qual con¬versaram. Seu marido iria se tomar seu novo sócio.
Ela assinou a carta e dobrou-a com cuidado colocan¬do-a no envelope.
Só para ter certeza de que Andrew Walker a recebe¬ria, iria aos Correios naquele minuto.
Graças a Deus Dorland a alertara em relação à verda¬deira natureza dos negócios de Andrew Walker. Ela apenas desejava que as autoridades pudessem fazer al¬guma coisa para impedir que ele continuasse com este terrível comércio. Mas quando ela dissera isso a Dor¬land, Dorland balançara a cabeça e dissera-lhe implacavelmente: "Tirá-lo do negócio, não resolveria o proble¬ma. Haverá centenas de homens ou mais querendo to¬mar o lugar dele. Esse negócio é grande e homens como Walker subornam em dobro — em primeiro lugar quan¬do os pobres diabos pagam achando que estão compran¬do o que acreditam ser sua liberdade em outro país e, em segundo, quando têm de comprar com a maior parte de seus salários o silêncio das pessoas responsáveis por eles estarem ali. Não podem ganhar, e homens como Walker não podem perder. E é por isso que é tão difícil para as autoridades fazerem qualquer coisa. As suas ví¬timas temem dizer qualquer coisa."
E Prêt a Party seria um veículo ideal para lavagem de dinheiro. Lucy reconheceu.
Graças a Deus não contara a Marcus sobre isto.
Marcus. Ele estaria de volta naquela tarde e amanhã iriam para o interior para o batizado.
— Você está muito quieta.
— Estou? — sorriu Lucy para Marcus, feliz com o sol, pois isto significava que podia se esconder atrás de seus óculos escuros enquanto Marcus dirigia. Estavam indo dois dias antes para que Lucy, Carly e Julia pudessem passar algum tempo juntas antes que os outros con¬vidados chegassem.
Marcus reservara um quarto para os dois em um pe¬queno hotel, brincando que eles poderiam treinar para a lua-de-mel que seria no Caribe.
Ela sentira uma saudade desesperadora dele enquan¬to ele estava fora, mas na noite passada, quando ele vol¬tou, estava tão à flor da pele por causa de Andrew Walker, que não conseguira relaxar.
Nem mesmo na cama.
— Como foi o lançamento da chuteira?
— Bem. — Lucy podia sentir seu rosto queimando, simplesmente por causa da ligação daquele evento com as revelações de Dorland e sua culpa.
Marcus enrugou a testa enquanto a escutava. Algo mudara enquanto estivera fora. Lucy mudara, pensou ele. Por quê? Por que ainda estava reconsiderando o ca-samento? Ele não tinha intenção alguma de desistir dela. Para ninguém. E se suas dúvidas estavam sendo causadas por Nick Blayne, com mais certeza ainda ele não desistiria dela.
— Falei com McVicar, e disse a ele que tinha a inten¬ção de colocar dinheiro suficiente para saldar todas as dívidas da Prêt a Party e mais algum capital para investir na empresa.
— Não!
Lucy percebeu que sua objeção instintiva fora mais alta do que previra.
— Já disse que não quero que você faça isso.
Lucy temia que Marcus a lembrasse de como fora idiota em relação a Nick. Mas como ela podia dizer a alguém, especialmente a Marcus, que se sentira tão cul¬pada em se casar com Nick sem amá-lo que se sentia in¬capaz de questionar qualquer coisa que ele havia feito?

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