Capítulo 25 (revisado)

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  A casa da árvore era um abrigo melhor do que eu imaginava com meus sonhos de criança. Tinha livros, cadernos, luminárias e o mais incrível de tudo. Um telescópio. Sim, quando você escala uma árvore para subir em uma casa a vinte metros do chão você merece um telescópio para aumentar ainda mais a grandiosidade da vista, que já é fascinante. O lugar era tão aconchegante quanto uma casa, eu mesma poderia viver ali, pois tinha a minha cara. Mas não a de Daryl, ele espionava a janela e o acesso da escada o tempo todo, insatisfeito como se a situação toda fosse muito infantil. Ali estava uma das diferenças que existem entre nós.

De cima eu conseguia ver o que se parecia com uma vila, algumas casas que rodeavam a construção onde estávamos que realmente se parecia com um presídio. O que não dizia nada sobre nossa localização, já que o estado tinha muitos presídios e vários estavam desativados desde antes da pandemia. A única coisa de que eu tenho certeza é que estamos muito longe de casa.

 Determinada a ocupar a cabeça enquanto esperamos pelo garoto, vasculho as coisas dele, muitos dos livros que ele tem aqui eu já li, gostaria de mexer no telescópio, mas não sei usá-lo, mesmo que estejamos no meio do dia seria interessante ver as coisas através dele. 

-O que esses caras sabem sobre nós? Daryl pergunta, embora pareça estar perguntando mais a si mesmo do que a mim.

-Infelizmente nunca saberemos, porque no que depender de mim jamais voltaremos a vê-los. 

-Não sei se será tão fácil assim- resmunga Daryl abrindo um livro só para depois voltar a fecha-lo- Gabriel parecia muito determinado em encontrar você, eu não acho que foi coincidência ele te encontrar e te trazer até aqui. 

-Realmente eu não vejo sentido nas ações de Gabriel ou do homem que estava com ele, mas honestamente... estou mais interessada em viver. 

-Engraçado- debocha- Você estava ansiosa por respostas há poucas horas.

-E isso não mudou, mas não sei se algo do que Gabriel diz saber é verdade, não vou me arriscar aqui quando podemos continuar. 

Ele meneia a cabeça em discordância e começa a fuçar as gavetas que estão por toda parte em busca de comida mas tudo o que encontra é uma garrafa de água.

-Talvez o garoto possa responder por nós- comenta. 

-O garoto não vai voltar -ele afirma.

-Então o que estamos fazendo aqui? pergunto estressada. 

Ele da de ombros.

-Você confiou nele. Confiou que ele traria de volta sua arma- emendo.

Ele ergue as mãos pronto para fazer uma objeção.

-Eu confiei em você. E você confiou nele.

Dou de ombros. É verdade. Ele me pareceu confiável.

-Pode ser- concluo.

Daryl parece inquieto sentado em uma cadeira giratória, parece estar esperando que a qualquer momento alguém invada a casa da árvore avisando que caímos em uma armadilha. 

-O que tem além da preocupação com a besta?

Ele resmunga algo.

-Ainda estamos muito perto. Esses caras devem estar procurando por nós, o que garante que o garoto não os está ajudando?

-Ele não está.

Daryl soca a mesa e uma xícara vira de lado derrubando todas as canetas dentro dela.

-E por que você acredita nisso?

-Seria mil vezes mais fácil, inteligente e menos trabalhoso ele nos ferir e nos manter presos lá dentro do que nos dar uma chance aqui fora onde poderíamos fugir com facilidade.

-Você sempre confia nas pessoas erradas? Pergunta ele.

-Então o problema é que eu confio nele?

-Não -ele diz, duro- O problema é você confiar em estranhos apenas porque parecem amigáveis. Primeiro foi no Gabriel e olhe onde isso nos levou. Agora você quer dar uma chance a esse moleque e sabe-se lá onde ele está agora.

Daryl me culpava pelo que tinha acontecido. Aquelas palavras partiram meu coração, e mais partido que isso, ficou a cara de Daryl quando o garoto apareceu pela entrada segurando a besta de Daryl nas mãos e com um sorriso no rosto.

-Mereço crédito pelas decisões certas também? Debochei. -Ou só pelas erradas.

-Do que estamos falando? Perguntou o garoto.

-Você me deu apoio quando eu quis interrogar Gabriel- acusei Daryl ignorando a pergunta do desconhecido- E claro, não podemos esquecer de que quando ele me levou embora, foi decisão sua ir atrás de mim. Gabriel disse que você resistiu- cuspo as palavras- Se despreza tanto assim as decisões que eu tomo, por que simplesmente não me deixou ir? a esta altura estou gritando. 

-Você estava desolada, não aceitaria nada do que eu dissesse se não tivesse respostas.

-Eu gosto das coisas claras- avisei- Não me precipito com ideias de momento. Não confio só nos meus instintos- acusei.

Ele levantou e apontou o dedo na minha cara.

-Por que você não confia em si mesma. Mas isso não é um problema, é uma salvação já que está sempre errada.

Fiquei de costas para ele e joguei os cabelos para trás.

-Eu sempre estou certa- pode ser arrogância minha mas eu não ia dar o braço a torcer, Daryl não tinha o direito de descontar seu estresse em mim. Posso não tomar as decisões certas sempre, mas EU tomo as minhas decisões. Ele que lide com as dele.  

Daryl tomou a arma da mão do garoto e deu as costas para mim, mas ao invés de sentir raiva eu só conseguia admirar sua bunda linda. Ele podia ser durão o quanto quisesse, mas aquilo era uma crise de ciúmes. 

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora