Capítulo 12 (revisado)

1.8K 224 28
                                    

Daryl insistiu para que eu ficasse em sua barraca pelo menos naquela noite. Ele disse que a caçada demoraria a noite toda e provavelmente iria dia a dentro. Me deu algumas instruções e pediu para que eu ficasse longe de Merle enquanto ele estivesse fora.

As pessoas andaram distantes de mim durante todo o meu primeiro dia lá. Eu achei algumas comidas secas nas coisas de Daryl e me preparei para a chuva que iria despencar. A barraca dele era estranhamente bem constituída. Era grande mas não muito espaçosa, ele tinha algumas coisas espalhadas que eu resolvi arrumar, como agradecimento. Daryl a tinha montado entre uma árvore e uma picape que Merle arranjou para dirigir, uma lona preta foi posta acima dela para que a chuva não atrapalhasse a situação que já era ruim. Cavei valas ao redor do espaço com uma enxada que achei na traseira da picape e direcionei-as de modo que a água fosse desviada para a estrada e não para o acampamento. Algumas pessoas passaram por mim e avaliaram a ideia que tive, chegaram a conclusão de que eu era mais burra do que parecia pois meu ato parecia inútil . Todos pareciam se achar mais espertos do que eram. Quando a chuva começou a cair e as barracas começaram a se encher de água eu quase apontei o dedo do meio para os olhos que me encaravam das pessoas que se esconderam da chuva dentro de seus carros.

Coloquei todo tipo de vasilha que achei na picape e na barraca debaixo da chuva. Deixei que a água se acumulasse dentro delas para que pudéssemos ter água. Um bem em extinção a essa altura.

Quando a chuva passou no final da tarde, uma garotinha com longas chuquinhas loiras veio falar comigo enquanto eu colocava a água em litros de refrigerante que havia pegado do depósito de lixo do acampamento.

Queria saber se eu era a nova namorada do Daryl.

-Não- foi tudo o que consegui dizer.

-Elise queria ser namorada dele - ela disse.

Engoli em seco.

-Você roubou o lugar dela - me acusou.

Fechei a cara.

-Não, eu não roubei. Elise ainda pode ser namorada dele se quiser.

Ela deu de ombros e sentou-se ao meu lado em uma cadeira de praia.

-Tudo bem. Você é mais inteligente que ela. E Daryl já disse a ela que eles não serão mais do que pessoas que vivem no mesmo acampamento. 

Me perguntei como ela sabia daquilo, mas o acampamento não era grande e não tinha muitos passatempos nos dias atuais. É claro que as fofocas iam correr. 

Eu sorri.

-E como você sabe ? Eu perguntei.

Ela deu de ombros novamente.

-Ela disse pra minha mãe que as valas iam acumular a água e você ia ficar encharcada. Minha mãe desistiu da ideia na hora.

Eu procurei Elise com os olhos, ela estava sentada em cima de uma caminhonete com uma grande arma na mão. Os olhos delas encontraram os meus e ela acenou com a cabeça, formal. 

-Eu sabia que a sua ideia era boa -a menininha comentou.

Então nós duas rimos.

-Cristina- disse uma voz -Pare de perturbá-la.

Era a voz de um garoto, talvez alguns anos mais novo que eu, mas bem mais alto. Ele se aproximou e tocou seu ombro.

-Esse é o meu irmão super protetor -Cristina disse.

-E essa é minha irmã de dez anos que acha que é muito esperta.

-É porque eu sou -rebateu ela.

Aquela cena me fez lembrar de minha própria irmã. Aquela criança de três anos que tinha controle sobre mim.

-Vamos logo mocinha. Não é seguro ficar fora ao escurecer -Disse o garoto.

-Ela pode cuidar de mim -defendeu a menina, então se virou para mim - Não pode ?

Eu ia responder dizendo que sim, que podia. Mas Merle Dixon respondeu por mim.

-Ela não pode cuidar nem de si mesma . Agora de o fora daqui com o seu irmão.

E os dois saíram apressados. Me deixando sozinha com aquele homem assustador.

Ele deu uma boa olhada na barraca do irmão.

-Eu disse que ele precisava de uma mulher.

Encarei-o com nojo de novo.

-Sabe. Você é uma vadia bem bonita, quando meu irmão der um trato em você, vai se tornar mais suportável também.

Dei um tapa em sua cara. Queria ser forte o bastante para ter dado um soco.

Ele agarrou o meu braço com força. Sabia que ele me bateria ali mesmo como já deve ter feito mil vezes com outras mil mulheres. Ele teria feito isso se pudesse. Mas alguém gritou "zumbi" e sua atenção saiu de mim direto para um único zumbi que se arrastava pela estrada.

Merle soltou meu braço e saiu.

Notei que quem havia gritado zumbi era o irmão de Cristina, ele poderia também ter dado conta de um único zumbi. Mas não deu. E só fez isso porque sabia que o sanguinário Merle me deixaria em paz se arranjasse outra coisa pra espancar.

O agradeci mentalmente e então entrei na barraca. Não fui comer o jantar coletivo, e ninguém veio me convidar. Apenas fiquei ali deitada e tremendo de frio. Não adormeci por conta do frio. Bati o queixo por duas horas enquanto lembrava de dias mais felizes e imaginava dias melhores em algum lugar seguro.

Não bastasse a chuva, o frio também estava agitando as pessoas. Me preocupei com Daryl, quis saber se estaria bem e o que seria de mim se ele não estivesse, já que era a única pessoa que eu conhecia. Como num passo de mágica, reconheci o ronco de sua moto e depois sua silhueta se aproximando perto da barraca. Quando ele abriu a barraca, pude sentir o ar gelado entrar junto com um corpo encharcado.

-Você está bem? Perguntou ele a mim.

-Acredito que a pergunta certa seja- VOCÊ está bem?

Ele começou a tirar a roupa.

-Já tive noites piores- afirmou.

Passei meu cobertor para ele.

-Não -disse ele me jogando o cobertor de volta - Olhe para você. Está com mais frio que eu.

-Vamos dividir então -sugeri eu. Só para um segundo depois, reconhecer a merda que falei.

Daryl não falou nada. Seu olhar falou por si só, ele não tinha gostado da ideia.

Gostando ou não, no minuto seguinte ele se deitou ao meu lado e nós arrumamos o pequeno cobertor de modo que cobrisse a nós dois. Nossa proximidade me causou outro arrepio, e acho que ele pode sentir, mas confundiu com o frio. Pois passou seu braço timidamente pelo meu corpo em baixo do cobertor e me puxou para mais perto de si. Sua respiração ofegante na minha nuca. Seu corpo gelado enroscado no meu corpo exposto. Três camadas de roupas entre nós. O silêncio da noite. Adormeci assim que o calor que irradiava de um ponto de meu corpo se espalhou por todos os outros.


                                                                      NÃO ESQUEÇAM DE VOTAR <3

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora