Correr nunca me fez bem, eu era uma ótima sedentária, efeito colateral de ter asma. Daryl quase me carregava no colo conforme íamos descendo a ladeira íngreme da rodovia principal. Os carros abandonados iam ficando para trás e nós descíamos para o desconhecido. Os galhos espinhosos cortavam meus braços em feridas leves porém ardidas e conforme avançávamos as folhagens roçavam meu rosto, era irritante.
-Há um rio no final da descida- grita Ozônio- é o mesmo que usamos para abastecer a base, podemos nos esconder nas margens até que eles vão embora. Se eles não nos viram temos uma chance.
Pela borda da floresta eu podia ver a silhueta da ponte, a rodovia era sustentada por pilares com mais de vinte metros de altura, lá em baixo, a água batia violentamente contra eles.
-Vamos Maria- dizia Daryl continuamente. Sua voz era abafada pelos ecos de minha mente.
Tropecei em algo e cai, senti uma dor forte e cortante no lado da barriga e gritei, vi os movimentos de Daryl puxando uma faca e de ozônio me arrastando para longe enquanto descíamos. Ao ser pegada do colo por Daryl, notei que meu moletom tinha uma mancha de sangue. Eu quis entender o que havia acontecido, mas tudo tinha sido tão rápido, e tinha aquele cheiro...
Continuei em estado vegetativo enquanto sentia o embalo de pequenas ondinhas, acordei de supetão com um grito que fez Óxido latir. Eu mesma me assustei.
-Tudo bem- disse alguém do meu lado, antes de reconhecer que era a voz de Daryl, eu levantei as mãos e soquei seu rosto. Quando me dei conta do que tinha feito, Daryl já estava acariciando o próprio rosto e olhando feio para mim. Ozônio ria.
-Que espécie de pesadelo você estava tendo ? Ele quis saber.
Ignorei, e virei-me para Daryl.
-Daryl eu....
-Tudo bem -ele disse antes de me deixar terminar- Eu sei.
Assenti. Minha cabeça doía.
Ozônio me estendeu uma latinha com legumes cozidos.
-Vai te fazer bem- disse.
Recusei a comida e me levantei. Senti uma pontada de dor na cintura. Minha surpresa foi que não eram apenas meus devaneios a estarem balançando, estávamos mesmo em um pequeno barco de pesca, protegidos pelo compartimento de estoque. Tinha muita comida ali dentro, o suficiente para nos abrigar durante a tempestade iminente.
-Por que estamos aqui? Perguntei.
Daryl, que ainda massageava o queixo apontou para Ozônio.
-Ele vai contar para você.
Virei para Ozônio e ele engoliu em seco.
Notei novamente a mancha de sangue no meu moletom. Ignorei-a, queria ouvir o que ele tinha a dizer.
-Gabriel tem outro amigos além de Luís no complexo, Tomás é um deles, você não o conhece porque geralmente as pessoas de maior poder observam tudo de longe e em silêncio. E ele também é meu pai.
-Ele não é só o seu pai- afirmou Daryl.
Ozônio assentiu.
-Ele é um dos chefes do Governo. Acredito que tenha vindo para me recuperar e também apostaria como não vai desistir enquanto não conseguir o que quer.
Dei de ombros. Era só um problema a mais mas tudo bem, poderíamos fugir para bem longe e ele nunca nos encontraria. Tudo dependeria da gravidade do meu ferimento, e ele doía MUITO. Eu não acreditava que pudesse andar logo, sequer a andar algum dia.
-Se ele é o seu pai então é claro que ele te quer de volta.
-Não me quer como filho, só quer um sucessor, ele vai morrer logo e precisa de mim no lugar dele.
-Tudo bem, vamos dar um jeito- afirmo tentando me levantar, o que parece impossível.
Ele começou a chorar. E estranhamente, os olhos de Daryl lacrimejavam também.
-Mas o que é isso garotos? Uma TPM masculina ? Debochei para quebrar o clima.
-Eu sinto muito mesmo.
Tinha alguma coisa a mais que eu ainda não sabia. Mas quando minha barriga latejou novamente eu descobri, levei a mão até o hematoma suspeitando de que tivesse sido causado pelo meu tombo mas ele tinha sido causado por um zumbi, era uma marca de mordida.
Uma grande mordida.
A ideia de morrer assim me soava ridícula, tão ridícula que ao invés de chorar ou entrar em desespero eu queria rir. Por que então a sensação de que minha vida ainda seria longa? Só podia ser piada. Quando finalmente encontrei pessoas que combinavam comigo, e uma pessoa de quem eu realmente gostava Deus faz isso comigo?
Deixo uma lágrima escorrer. É tão constrangedor ser a vítima, sinto-me envergonhada e indefesa. Claro que Daryl era demais para mim. Isso jamais aconteceria com ele, ele não é desleixado, sempre presta atenção e está atento. Se eu tivesse sido um pouco mais como ele, talvez a minha história não terminasse aqui.
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DIXON - No Fim Do Mundo
Fanfiction"Quando o mundo caiu as máscaras caíram com ele. As pessoas não precisavam mais esconder seus medos nem seus desejos mais profundos. Quando o mundo caiu nós só tivemos a certeza de que os verdadeiros montros estavam realmente dentro de nós e não era...