Capítulo 88 (revisado)

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-Quem? Perguntou Rony depois jogar seu corpo em cima de mim e me pressionar contra o metal da caçamba do caminhão.

-O governo mau? Sugeri lembrando-me de meus inimigos mais insistentes.

-Estão muito longe de casa- grunhiu Rony procurando pela arma que caíra com seu movimento violento.

-Podem ser só forasteiros- eu disse ouvindo os tiros de Carol e preparando-me para meus próprios tiros- Gente querendo roubar o caminhão e os suprimentos.

-Logo agora que nossos melhores membros estão numa missão suicida- comentou ele atirando na direção de onde vinham os tiros opostos.

-Ei- resmunguei ofendida-EU sou o membro mais foda desta equipe- respondi levantando-me e pulando ao chão. Como os tiros vinham de um único lado imaginei que não estivéssemos cercados.

-São três, Maria- disse Carol saindo pela porta do carona e abaixando-se ao meu lado.

-Podemos matá-los ou precisamos de informações? Questionei tentando mirar em qualquer um deles, mesmo sem vê-los.

-Você conhece as regras, ninguém pode ficar no nosso caminho. Não importa quem sejam, precisam ser eliminados.

Assenti. Era doloroso que tivesse de ser assim. Fogo contra fogo a todo momento. As pessoas se matando porque eu precisava permanecer viva. Mesmo que já nem acreditasse mais em uma cura.

Rony atirava de cima, nos dando cobertura. Alguns mortos saíam da floresta do nosso lado e precisamos gastar balas com eles para não ficarmos expostos. Mas eu não desperdiçava nada.

-Por quanto tempo vamos ficar na encolha? Perguntei a Carol.

-Nosso pessoal está atrás deles então tecnicamente eles estão em desvantagem. Mas Ozônio está ferido e não sabemos quanto tempo vão demorar para chegar aqui, e quantos vão chegar.

O senso mórbido de Carol me fez desistir de atirar nos intrusos para querer atirar nela.

Observei os tiros parando. Como um cessar fogo. Talvez estivesse sem munição. Tentei ver algo por trás do pneu mas só o que encherguei foi a mata silenciosa. De repente ouvi tiros na direção contrária, onde estavam meus amigos. E por algum motivo eu sabia que não eram eles quem atiravam. Ouvi um grito irreconhecível então não pude mais me conter. Sai detrás do caminhão atirando para todos os lados, regarreguei e corri para mata adentro com Rony gritando comigo pela minha estupidez e Carol tentando me segurar. Se estivesse consciente poderia afirmar que estava chorando. Vi um homem, alto e magro de boné vermelho parado atrás de uma árvore atirando com uma pistola na direção da trilha.

-Ei- chamei só para me assegurar que não fosse alguém que conhecia. Não era. Sua cara feia era só uma cara morta depois que eu atirei nele. Não me lembrava se já tinha matado alguém antes, a ideia me pareceu vaga . Mas eu estava farta de ver meus amigos morrendo, de me sentir culpada por eles, já não podia contar nos dedos o número de pessoas que havia perdido. Era demais pra mim. Não me senti culpada, me senti aliviada. Um a menos.

-Estou vendo eles- ouvi Carol gritar enquanto saía correndo para mais a fundo na mata. Eu não pude acompanhá-la porque uma forte onda de dor estourou no lado da minha barriga me fazendo contorcer o corpo todo. Minha visão ficou turva e a dor quase me fez desmaiar, mas resisti.

Resisti até o momento em que Daryl entrou no meu campo de visão. Ileso. Intacto. Bravo e guerilheiro como sempre.

-Quem? Perguntei. Ele entendeu imediatamente.

-Harry, e foi feio. Édipo não respondeu. 

Deus e os coadjuvantes.

Pensei em Louis e em como ele estaria se sentindo. Como eu me sentia por ele. Ver alguém amado sentir tanta dor. E não ter o poder de curá-lo.

-Você está ferida? Perguntou Daryl primeiro arrastando-me depois passando a me carregar nos braços. Lembrei-me de uma certa vez em que ele me arrastou por horas enquanto eu estive incosciente. Ainda tenho sensibilidade nas costas por causa daquilo.

Juntei forças para dar a ele uma resposta mas nem eu consegui ouví-la. A dor me rachando ao meio. Se o parto ainda seria pior do que aquilo eu já queria morrer.

-Como ela está?  Ouvi a voz de Rony.

Não ouvi a resposta.

-Me soltem- ouvi uma voz desconhecida.

E dessa vez ouvi a resposta. O som de um chute muito bem dado.

-Poderíamos voltar mas concluir a viajem é muito mais rápido e mais seguro para Harry e Ozônio- era Rony.

-Vai demorar horas até termos recursos para salvá-los disse W.

Eu absolutamente não podia perder os dois de uma vez só.

-Maria precisa de cuidados- disse Daryl parecendo estar há um quilômetro de distância agora. Mas eu tinha certeza de que os braços que me tomavam eram dele.

-Essa vadia matou o Ross- disse uma outra voz.

-Se ela ouvir você chamando-a de vadia vai te matar também- respondeu Louis.

"Vou matar" tentei dizer. Porque iria. Porque queria. 

-Não temos escolha, precisamos voltar- disse Alec apreenssivo.

-Bom você é o líder, você decide- respondeu Carol.

Eu também queria matá-la. Com as minhas próprias mãos talvez fosse interessante também.

-Precisamos decidir rápido, estamos perdendo três pessoas. O que há de errado com ela? Perguntou Daryl estapeando meu rosto. Eu fiz uma anotação mental para retribui-lo por aquilo.

-Pode ser uma complicação grave da gravidez. Ela passou por um stress muito grande. Achou que poderia ter sido você quando ouvimos os tiros em sua direção- disse Rony, eu senti suas mãos em mim.

-Maluca- resmungou Daryl- Parece até que não me conhece.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora