A roupa secou em meu corpo. O suor escorre da ponta de meu nariz, tento não ligar para isso então apenas dou continuidade a difícil tarefa de tirar a vegetação da frente do meu rosto. Depois da busca na Rodovia Principal -onde encontramos comida e armas- Ozônio disse que o melhor a se fazer é ir para o Leste, afinal Atlanta não está tão longe. Não confio nele mas meus extintos dizem mesmo que Atlânta é o destino certo. Merle e eu sempre conversamos sobre essa cidade, um dia, dizia ele, nos perderíamos, e então Atlânta nos uniria novamente. E isso talvez funcione, pois ele sabia que meu lado irmão protegido me faria procurar por ele. E eu tenho que começar de algum lugar. Ele foi o único que sobrou. Minha única família.
Depois de andar o dia todo debaixo de um céu emburrado, encontramos uma minivan que ainda tinha gasolina e pneus cheios, foi com ela que partimos para nosso desconhecido destino. Resolvi não dirigir, em nenhum momento consegui parar de pensar em Maria. Minha Maria.
Detalhes irrelevantes de nossa pequena jornada juntos me vieram a tona como um soco na cara. Então permaneci acordado, mesmo quando meu corpo clamava por descanso.
Minha visão ficou turva.
As asas na loja foram a primeira imagem a dominar meus pensamentos. A menina escondida atrás da prateleira, eu a vi pela janela. Notei quando um algo caiu de seu bolso e foi parar onde minha visão não alcançava. Ela acabou com aqueles mortos em minutos, depois suou e respirou fundo, tentando controlar o medo estampado nos olhos. Não fiquei para ver sua cara quando roubei a mochila, a mochila que ela tanto precisava. A vi atravessar a rua, cansada, ofegante, angustiada. Chorando, mesmo que ela mesma não soubesse que estava fazendo isso, correu pela rampa de acesso ao segundo andar e então caiu de joelhos no chão, murchando as asas que atraíram minha atenção. Ela não era um anjo, obviamente, mas nos meus sonhos as vezes aparecia assim, com essa sensação de salvação. Era difícil até ficar acordado, eu passava as horas dividido entre pensar nela e na hipótese de deixar o garoto para trás. Ele não me era útil em nada e ainda tinha o porém de ser bastante irritante. Mas eu não podia deixá-lo, Maria não faria isso, ela procuraria um forma de mediar a situação.
-Ela costuma usar um rabo de cavalo alto e botas de salto baixo- foi o que Elise disse- Talvez isso ajude procurar pela pessoa certa- ela deteve a mão em meu antebraço por tempo demais. Sua insistência em ficar próxima de mim era quase um apelo para que eu ficasse com ela, e eu odiava isso nas mulheres. Debruçada demais, oferecida demais e tão óbvia, o papel de inocente não lhe caía bem. Em grande parte aceitei procurar por sua amiga para me livrar de suas garras. Mas foi ela quem me proporcionou todos os acontecimentos posteriores. Não posso reclamar.
Mas de alguma forma quando a vi atravessando a rua não tive dúvida de que era ela. Sempre foi ela. Carregava traços femininos debaixo da aparência despojada. Eu não costumava cobiçar as mulheres, se eram atraentes e sedutoras pouco me interessavam, nunca tive casos além de uma noite, sequer tinha amizades reais com mulheres. Eu costumava fugir delas, era verdade. Mas não tinha como fugir de Maria, ela estava sempre ali, as vezes planejando escapar por entre meus dedos, mas eu sempre a segurava por perto. Por causa disso resisti o máximo possível em manter proximidade com ela, não gostava de sentir o que sentia, de estar preso a alguém que não fosse eu mesmo. Era arriscado demais. Confiar nos outros como eu confiava nela, era colocar minha vida em jogo e eu nunca vivi nada assim, não estava pronto para me despedir de mim mesmo. Havia coisas para viver. Mas agora nenhuma delas parecia ter sentido. Há uma semana eu era só um cara, cumpria ordens, estava onde tinha que estar, era fácil, mesmo depois do fim era fácil. Mas então veio aquele furacão em forma de mulher, tão jovem, tão cheia de energia e com aquela ...luz. Eu não podia negar, Maria tinha seu brilho, seu prestígio, coisas que nunca vi em ninguém antes e a danada sabia utilizar todos os seus recursos. Aquilo era difícil de contornar.
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DIXON - No Fim Do Mundo
Fanfiction"Quando o mundo caiu as máscaras caíram com ele. As pessoas não precisavam mais esconder seus medos nem seus desejos mais profundos. Quando o mundo caiu nós só tivemos a certeza de que os verdadeiros montros estavam realmente dentro de nós e não era...