Capítulo 34 (revisado)

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Não aguento mais o péssimo gosto musical de Ozônio. Entre tantas coisas superficiais que eu poderia detestar, esta é de longe a que mais odeio. Estamos viajando à três dias, Atlanta está perto, finalmente. Apesar de não ter sido uma distância tão grande, os mortos dificultaram o processo, tornando os dias que seguiram a morte de Maria, ainda mais insuportáveis. Mas atirar na cabeça deles tem sido um alívio, é bom poder descarregar um pouco de raiva em alguém que realmente merece.

-Isso é One Direction? Pergunto ao garoto -Espere, espere. Se você disser que sim eu te expulso do carro.

Ele ri.

-Você não faria isso- pergunta ele duvidoso.

Encaro-o com olhos semicerrados.

Ele engole em seco.

-Se bem que você é o Dixon, estou aprendendo a não duvidar de nada que você ameace fazer.

Da última vez em que duvidou de mim, três dias atrás, o deixei pendurado por um único pé em um árvore por meia hora.

-Como você sabe que isso é One Direction? questiona. 

A lembrança de Maria murmurando aquela música enquanto esperávamos no trailler me veio a mente, mantive esse pensamento para fora de alcance.

-Isso mesmo, eu sou UM dos Dixon, você não vai sobreviver com dois de nós.

Ele desvia os olhos da direção e me encara.

-Você está brincando não é?

Apenas continuo passando a língua pelo palito de dentes em minha boca. As pontas tem um leve gosto de menta.

-Preciso de um cigarro- comento vinte minutos depois, cansado do silêncio que me faz pensar nela.

-Você nunca fumava perto de Maria, não enquanto estive com vocês, mas depois que ela se foi você...

-NÃO TOQUE NO NOME DELA- repreendo-o.

Ele fecha a cara, culpado e por alguns instantes não fala mais nada. 

-Desculpe- pede.

-Não desculpo- digo roubando a frase de Maria, que nunca tinha o hábito de perdoar. Coisa esta que não é do meu feitio também. Na maioria das vezes ela me desculpava por um ou outro comentário infeliz silenciosamente, mas era na natureza dela fazer charme antes de dar o braço a torcer- Ela está MORTA, e nada vai trazer ela de volta.

-Ela não está MORTA, Daryl. Você não a matou, não atirou nela, você permitiu que ela voltasse para sofrer eternamente.

As palavras dele me acertam em cheio.

-Ela QUERIA ISSO-argumento -Ela me pediu pra deixar isso acontecer.

-Ela estava doente, delirando, não sabia o que queria, você não fez o que era melhor pra ela. Você fez o que você quis. 

Ele estava me enfrentando como nunca antes e isso me irritava de uma maneira absurda. 

-Você não sabe o que era melhor pra ela, você não a conhecia.

-E você a conhecia? Questiona ele. -Porque eu sei que ela não conhecia você.

A expressão em meu rosto responde por mim.

-Você só pensa em si mesmo Daryl, em mais ninguém- ele cospe as palavras. 

Tiro a carteira de cigarro do bolso e saco o isqueiro, a fumaça me fara esquecer, meu silêncio responderá por si só.

Vejo Ozônio me encarando pelo canto dos olhos. Óxido, nos observa do banco de trás.

-Você só cala a boca quando reconhece que está errado não é?

-Cale a droga da boca- grunhi, chegava ao fim mais um momento de trégua- Não estou com paciência para você hoje. Aliás nunca tenho paciência com você. Só não te chutei ainda porque não quero ter a sua morte em minhas mãos. 

-Viu só. Você é tão previsível- resmunga ele me levando ao limite- Acha que só você é capaz de sobreviver. Não é porque eu tenho sentimentos que sou vulnerável, eu dou conta. Eu me viro. 

-Já mandei calar a boca.

-Muito diferente de Maria- murmura. 

Meus olhos enxergam apenas um borrão quando meus punhos acertam seu queixo com violência.

De repente o carro perde o controle e sai da estrada.

Tudo que eu vejo durante um instante é a aproximação de uma árvore, o peso da batida sobre meu corpo e então a fumaça do cigarro. Ou seria do carro...

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora