Capítulo 71 (revisado)

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Exatos três dias vieram e se foram sem nenhum sinal de perigo. Os andarilhos eram quase escassos naquela região e eu começava a acreditar que se mais alguns dias se passassem sem a emoção do combate, eu esqueceria como me defender. Pode parecer mórbido, mas eu tinha saudades de matar. De matar os mortos, é claro, e coloca-los de volta no lugar de onde jamais deveriam ter saído, o inferno. A menos que o inferno fosse a própria terra agora, nesse caso retiro o que disse. Estava em uma ronda com Ozônio, Bob, e para meu azar, o próprio Michael que não parava de reclamar sobre o quanto o clima era instável no pós apocalipse. Ozônio prometeu-lhe um soco no queixo caso ele insistisse em reclamar por mais dois minutos, mas trinta segundos se passaram e eu já estava quase com o punho em seu nariz. Seria um belo soco, eu imagino.

-Acalmem os ânimos crianças- dizia Bob liderando a frente de nossa equipe de caça, com a comida acabando, nós constantemente formávamos grupos de busca pelas redondezas, mas não estávamos com sorte naquele dia- É um longo dia e você devem poupar as energias.

-E esse cara é o que?- perguntou Ozônio em sussurros próximo aos meus ouvidos- Quatro, cinco anos mais velho que a gente? Que moral ele acha que tem para nos chamar de criança?

-A experiência, meu querido- disse eu empurrando galhos de árvores com um facão que tomei emprestado com Alec- Ele estava por ai sendo útil ao país dele enquanto nós jogávamos vídeo game.

Ele soltou uma risada que Michael repreendeu imediatamente, e Ozônio retrucou-o mostrando-lhe a língua.

-Bem maduro da sua parte- eu comentei enquanto focava no chão, nas botas de combate de Bob que estava bem a minha frente.

-Falou a menina que chorou na semana passada porque não encontrou nenhum pacote de biscoito doce no Wallmart.

-Em minha defesa, eu estava na TPM.

-Maria, você está sempre na TPM.

Continuamos seguindo a trilha até entrarmos mais fundo na mata, e então Bob ergueu a mão silenciosamente nos fazendo parar de súbito. Atrapalhada, para variar, eu continuei andando até me chocar contra o muro de músculos que era o seu corpo de soldado.

-Ai- reclamei esfregando a testa com a palma da mão.

-Foi você quem esbarrou em mim- disse Bob baixinho em tom divertido. Ser educado e gentil comigo não era parte de nenhum daqueles homens, mas tirando Michael, todos os outros pareciam impelidos a descontrair na minha presença. Eu era eternamente grata por isso.

-O que estamos caçando, por falar nisso? perguntou Ozônio estapeando as pernas para afastar os mosquitos.

-Qualquer coisa viva e com carne não infectada- disse Bob agachando-se e ficando oculto sob os galhos de árvores.

-Até mesmo humanos? questionou Ozônio engolindo em seco.

-Acho que ele não foi muito específico- debochei abafando o riso- Não é Bob?

Ele apenas respondeu com um meneio de cabeça.

-O que tem ai? perguntou Michael entediado.

-Eu ainda não sei. Daryl e Rony montaram armadilhas nessa parte da mata ontem o dia todo, devem ter conseguido alguma coisa para nós hoje.

-Daryl é muito bom caçador- afirmou Ozônio estufando o peito de orgulho.

-Deus queira que você nunca precise fugir dele então- falei.

O garoto fez um sinal da cruz rápido e olhou para o céu aberto.

-Amém Senhor.

-Silêncio- pediu Bob baixinho- Acho que tem alguma coisa se aproximando.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora