Capítulo 76 (revisado)

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Eu não sabia há quanto tempo vinha durando o verão, mas os meses anteriores haviam sido bastante quentes e estavam sendo substituídos por dias mais curtos e manhãs mais geladas. Coloquei a roupa mais quente que tinha e me juntei aos outros ao redor da fogueira, os enjôos matinais que agora não eram sem motivos- nunca havia sido, aliás- me tomavam e me impediam de comer. Rony insistia pra que eu comesse alguns cookies que eles haviam encontrado na tarde anterior em um das casas nos arredores do posto de gasolina. 

-Temos um plano- Disse Alec quando esvaziou sua terceira xícara de café, eu já havia começado a suspeitar que ele não dormia a dias e me sentia culpada por sido. Quase todos os soldados da minha guarda já haviam morrido em minha defesa, alguns no meu lugar, e temia que Alec não descansasse mais por medo de imprevistos. Imagina se ele acorda comigo morta ao seu lado. É mórbido, eu sei, mas acho que é sobre isso que ele pensa na maior parte do tempo. 

-E qual é? perguntou Louis que também bebia seu café fumegante sem comer nada. 

-Daryl e eu passamos por uma cidade não muito longe daqui. As mansões são bem cercadas e as que vasculhamos tinham bastante suprimento. 

-Onde estão esses suprimentos? perguntou Carol. 

-Não podíamos carregar tudo, estávamos a pé- ele disse lembrando que deixaram os carros escondidos próximos a nós para o caso de uma fuga de emergência. Não que eu fosse a qualquer lugar sem Daryl.  

-Nossa prioridade eram armas e munição, perdemos quase tudo na base militar- ele disse com quê de tristeza da voz. Nós realmente perdemos muito. E muito mais do que armas. -Mas o ponto é que devemos partir o quanto antes, esse animais estão por ai nos caçando e por mais que Daryl tenha apagado nossos rastros ele ainda acha que aqueles... canibais, são bons de caça. E tem motivos suficientes para acreditar que saíram da ilha agora que encontraram o que comer. Parecem bons caçadores.

-Não são melhores que Daryl- Carol argumentou, e por mais que eu odiasse ouvir seu nome na boca dela, tinha de torcer para que aquilo fosse verdade. 

-Nós não sabemos- disse Alec um pouco abatido- Mas por via das dúvidas vamos sair hoje mesmo e deixar o lugar o mais normal possível, Daryl ficará para trás e limpará nossos rastros. É essencial que eles não cheguem até Maria, essa é nossa prioridade. 

-Não sei se gosto da ideia de Daryl ficar  para trás- disse à Ozônio enquanto desmontávamos a barraca- Não, eu com certeza não gosto desta ideia. 

-É nossa melhor chance. Sua melhor chance. 

Refleti por um segundo. Querendo eu admitir ou não, a minha verdade era que eu achava melhor chance ter Daryl ao meu lado. Ahhh como sou mulherzinha. 

-Eu sei que vocês vão ter um filho e que pra você é crucial que ele esteja sempre por perto. Mas se essa é a melhor chance de deixar você segura, Daryl irá concordar. 

-Concordar? Aposto que isso foi ideia dele. 

Ozônio riu. 

-Certo. Verdade. 

-Vamos rápido com isso pessoal. Queremos estar abrigados quando a noite cair- berrou Alec sem tirar os olhos do rádio que há horas estava chiando.

-Preciso realmente fazer xixi- eu disse à Ozônio quando colocamos tudo na mala do carro.

-Precisa de escolta? ele perguntou brincalhão. 

Dei um soco em seu braço e disse que já voltava. Andei sorrateiramente até fora da trilha e entrei na mata, não precisava ir muito longe, só o bastante para achar um lugar mais privado. Ozônio mantinha os olhos em mim e sorria maliciosamente- típico-, ele ainda podia me ver. Quando avistei a grande árvore, me esquivei dos arbustos que pareciam estar crescendo por ali  há séculos e me abaixei. Escutei um barulho típico dos filmes de terror, o som dos galhos quebrando na floresta, olhei em volta e nada, não havia nada. Alerta, abotoei as calças novamente já com um pouco de dificuldade em espremer a barriga para entrar nela. Não que eu tivesse mais que semanas de gestação, mas ainda estava estufada com a comida da noite anterior. Como deduzi estar segura, baixei a arma e a coloquei de volta no coldre, me virei para a árvore e foi então que vi. Ali, no casco grosso havia um espaço raspado, livre das raízes que cresciam em torno da árvore. Na abertura, uma escritura feita à faca e os dizeres:

Partindo Cidade.

Foi quando meu cérebro começou a trabalhar muito rápido e eu olhei para baixo, a grama estava rala abaixo dos meus pés, alguém esteve ali há pouco tempo. Me virei para gritar para Ozônio que certamente ainda estava de olho em mim. Então uma grande mão tapou minha boca, e era uma mão suja e negra, a mão de um homem, certamente, pois era também a força de um homem. Ele me levantou do chão passando o braço enorme ao redor da minha cintura e eu não consiga nem me debater. Meus pulmões, aqueles imprestáveis pulmões parando de funcionar, minha garganta se fechando e minha visão ficando turva. O homem me arrastou de ré para longe da árvore pelo lado oposto de onde eu viera. Para meu azar, Ozônio não podia me ver dali. Droga. Quando a mata ficou menos densa o homem- eu ainda não conseguia ver seu rosto- desatou a correr ainda me levando com ele e ainda tapando minha boca. Seus passos eram ágeis e certeiros, ele sabia onde estava indo, mas eu não, então passei a mão em volta do meu próprio pescoço já que não conseguia alcançar o dele e arranquei o colar que mantinha junto a mim. Deixe-o pelo caminho na tentativa de que Daryl o encontrasse e entendesse que era meu. Tinha que confiar que ele já houvesse reparado que eu o usava. Quando paramos, eu tinha certeza que alguém já havia dado a minha falta, e fiquei esperançosa sobre um resgate relâmpago. 

-Você não vai correr e também não vai gritar- disse o homem friamente- Porque você não tem chances contra mim e porque tem muito a perder. Eu sei sobre o seu bebê- ele enfatizou- E ele vai ter que morrer se você tentar alguma coisa, porque ele não vai sobreviver dentro de você se nós começarmos a arrancar seus pedaços para comer.

Ele me soltou no chão na mesma hora em que comecei a vomitar. 

-Levante-se -ele disse depois de um momento. -Vou amarrar você.

E ele realmente me amarrou contra uma árvore na clareira . 

-Vou deixar você sozinha por um tempo, vai ser rápido, eu prometo. Quero voltar logo pra poder admirar você- falou com um brilho maligno no olhar- Então não tente nada, estou falando sério, seria uma pena ter que te matar, você é tão bonita, nós podemos nos divertir tanto- ele dizia passando um dedo grosso ao redor do meu rosto. 

-Estamos perto de uma trilha cheia de zumbis querida, se você gritar eles vão te ouvir e de novo será uma pena- Disse, agora aliando meus cabelos. Ele retirou minha arma do coldre e minha faca também, colocou-as na própria cintura e passou a mão por todo o meu corpo parando em diversos pontos mais do que deveria para me revistar. 

-Você é tão bonita- ele disse antes de sair- Mas agora preciso avisar ao meu grupo que teremos um banquete para o jantar. Mal posso esperar até seus amigos chegarem. 

-Daryl vai matar você- cuspi. 

-Não se eu puder matá-lo antes. Mas, cá entre nós, ele é tão durão, eu preferia que ele sentisse aos poucos a própria morte, sendo devorado bem devagar. Seria interessante vê-lo chorar. E depois você seria minha, e eu iria chupar o seu corpo inteiro na frente dele. A última coisa que ele veria antes de morrer.

Então ele se foi e me deixou chorando. Nenhum sinal de Daryl ou dos outros, não estávamos longe, o acampamento ficava a menos de meio quilômetro dali, eles tinham que me encontrar. A minha única preocupação era que tudo fosse uma armadilha, como o canibal havia dito e isso tudo não passasse de uma emboscada para atrair a todos. Ele não sabia sobre mim, ou porque eu era tão valiosa para o grupo, mas sabia que era eu quem teria de ser capturada para que todos se mobilizassem. Eu tinha duas preocupações afinal, agora carregava comigo uma criança, era valiosa em dobro pois meu filho/ filha poderiam conter o meu gene. Eu estava fodida. Ah não, espere, eu já mencionei que havia um zumbi vindo em minha direção rangendo os dentes? Eu estava triplamente fodida. 



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