Capítulo 95 (revisado)

256 18 0
                                    

-Você já pensou em um nome? Pergunta Alec inocentemente tentando me distrair.

Franzo o cenho mas continuo sem falar nada. Engolindo a raiva que me obrigo a sentir por ele.

-Gosto de Victória, se for menina. Podemos chamá-la de Vic. Ou Vica.

Ele espera alguma responda e quando não a encontra continua.

-Não? Então posso pensar em algo melhor. Não sou bom com nomes para homens, então nem posso opinar.

Só a voz dele já me deixa estressada, sinto uma gota quente de suor escorrer pelo meu rosto. Um consolo para o dia frio.

-Maria pare de birra! Pede.

Para mim aquilo é o cúmulo. Chega de todos achando que meus conflitos internos são birra. Sempre me acusando de ser infantil e mimada. Eu mal tenho vinte anos, esperam que eu tenha a mesma carrasca que Alec e Daryl tem. Eles foram soldados, são soldados, eu sou uma mera mortal com nada mais do que um sangue incomum.
A raiva e o nervosismo fazem o ponto cicatrizado da minha cintura latejarem. Luto para não me contorcer de dor na frente de Alec. Traidor.

-Não precisa me ignorar- avisa- Tudo o que fizemos foi poupar você de uma decisão difícil. Sei que não abriria mão de nada por Daryl, menos ainda agora que estão esperando um bebê. Mas também sei que você se importa com aqueles garotos e que se Daryl fosse nossa melhor chance de ajudá-los você não ia desperdiçar isso.

-EU PODERIA TER IDO COM ELE- grito em resposta, cansada de manter a compostura.

-Você é a nossa melhor chance. Acha que s desperdiçariamos isso? Questiona.

-Acho que são todos uns idiotas. Você, Rony, Abraham e principalmente Daryl se permite que o manipulem tão facilmente- minha voz é calma agora. Conquistei o direito de ser ouvida sem alterar meu tom, mesmo que as vezes eu ainda faça isso.

-Não haja como se isso fosse por qualquer um de nós que não você Maria- acusa ele- Nós recolhemos sobreviventes, os que cruzam nossos caminhos, e oferecemos o melhor que conseguimos, mas não vamos atrás de ninguém, principalmente de quatro adolescentes tolos que se não me engano apontaram uma arma para a sua cabeça não muito tempo atrás. Eles se perderam no acampamento quando os canibais nos atacaram, poderiam muito bem ter sido mortos.

-Poderiam, mas não foram.

-Não, não foram. E agora estão desperdiçando nossos recursos limitados. E tudo isso para satisfazer uma vontade sua. Mandamos Daryl e alguns dos nossos melhores agentes de campo para Atlanta e tudo isso pra que?

Quero gritar de novo. Mas será que Alec realmente não vê como eu vejo? São só crianças, indiferente de seus pecados, ainda são crianças. E nenhum deles merece esse mundo caótico. Se nós podemos aliviá-los disso então porque não podemos faze-lo sem escândalo? Alguma coisa, bem escondida em mim se quebra. É algo sobre meu respeito e admiração por Alec e nossa amizade. Se eu fosse qualquer pessoa, alguém com um sangue qualquer estariam cagando para mim. Mas eu não me aproximo das pessoas só pelo que elas tem, eu me importo. E dói tanto que eu seja a única me sentir assim...
Na prefeitura, naquele primeiro dia do fim do mundo, eu vi um homem correr em direção ao perigo para salvar uma mulher, quando ele poderia ter se escondido e esquecido aquilo. Mesmo que naquele momento eu não tenha visto a cena daquela forma, depois eu entendi que alguns sacrifícios valem a pena, aposto como ele não teve nada em troca, mas também não deve nada para sua consciência.

-Não faça essa cara. No final, era o que você queria.

Engulo as lágrimas e me recuso a olhar para Alec, Rony nos encara, silencioso do outro lado do mercadinho, vejo nos olhos dele que ele detestou cada palavra de nossa conversa. Também vejo que ele concorda com tudo o que foi dito.

Depois de me recompor detenho minha atenção em vasculhar as prateleiras, se me trazer aqui em uma falsa missão vai ser em vão... Eu já não tenho mais nenhum motivo para perder meu tempo, tenho que aproveitar ao máximo. Com as palavras de Alec ainda ardendo, me abaixo para ver embaixo das prateleiras mais altas, encontro uma lata de milho, um sachê de orégano e sementes de tomate. Ouço som de passos e enquanto tento alcançar um pacote de massa percebo o movimento sorrateiro de Rony. Ele se abaixa, no outro corredor e me encara por debaixo da prateleira. Péssimo lugar para ter uma conversa Rony.

-Alguma coisa produtiva? Pergunta ele empurrando o saco de massa mais para perto de mim, nossos braços chegam a se cruzar no caminho. Sua pele é muito seca.

-Nada que mereça ser registrado no estoque.

-Quer dizer que vai contrabandear sua comida para dentro dos limites do muro sem compartilhar? Pergunta ele deitando-se no chão. Faço o mesmo, encostando a barriga pontudinha no chão gelado.

-Isso mesmo- concordo.

-Que feio- diz ele mostrando um pacote de salgadinho bem enfiado dentro da mochila. O sorriso no rosto é sempre um conforto.

-Tenho uma coisa que pode te animar- diz ele.

Infelizmente sei que não é Daryl de volta para mim. Tampouco LG, Cadu, Biba e Nego que ele fora buscar.

-Vai ser difícil, minhas expectativas são muito altas- digo a ele que só meneia a cabeça em resposta. Me levanto para encontrá-lo do outro lado do corredor.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora