DIXON - No Fim Do Mundo

Capítulo 36 (revisado)

-Você precisa falar mais sobre isso- insistia Ozônio.

-Não há nada além disso.

Ele bufou.

-Você precisa se concentrar, falta alguma coisa que você não percebeu.

Relembro o sonho em minha cabeça. O Cupcake era macio, Maria podia sentir, ela queria conversar com alguém sobre como decorar ele, sabia que não era boa com decoração mas queria fazer isso para me presentear, era o meu aniversário dessa vez.

-Eu já lhe disse tudo o que vi.

-Daryl- ele chamou minha atenção - Alguma coisa passou despercebida, ou você não contou. Todos os detalhes são importantes.

-Eu já disse a você, ela segurava um bolinho nas mãos, queria decorar ele com creme laranja ou algo assim, ele era macio e ela queria deixar ele bonito antes de apodrecer.

-Como você sabe que era macio?

-Eu...é, é complicado. Eu estava no corpo de Maria, eu sabia que era ela e que estava fazendo algo para mim, mas era ela.

-Essa era a parte que não se encaixava- comentou.

-É só um sonho, por que você se importa?

Ele engoliu em seco.

-Porque você acordou gritando. Foi...bizarro.

Dei de ombros.

-Não foi nada demais. Só um sonho.

Ele não podia discordar, era de fato só um sonho, Maria não era mais real. E algo dentro de mim dizia que ela nunca foi.

-Você deveria voltar- disse ele.

-Pra onde? Perguntei.

Ele deu uma colherada no enlatado e se voltou para mim. Aparentemente sopa de ervilha era a única coisa que ele sabia cozinhar e nem ele aguentava mais. 

-Para buscar vingança contra o governo.

Arqueei as sobrancelhas. Ele não podia estar falando sério.

-Não me olhe assim Daryl. Não haja como se não quisesse se vingar do que causaram a Maria.

-Eu e você também levamos isso à ela, nem por isso eu atirei na sua cabeça e depois na minha.

Ele deu de ombros. Venci o debate, de novo.

-Mesmo assim- insistiu ele- Maria foi só uma das vítimas do governo, muitas pessoas já morreram e muitas ainda vão morrer se eles não forem detidos.

-Isso não é problema meu. As pessoas que se livre deles por si só.

-E então o que é problema seu? Ir atrás do seu irmão morto?

-Merle não está morto.

-Se toca Dixon. O Governo acaba com qualquer um que fique em seu caminho. Ou pior, eles escravizam as pessoas.

-Meu irmão não é como essa gente fraca.

-Espero mesmo que não, mas se ele voltou para o acampamento, então está morto.

Foi a minha vez de engolir em seco.

-O que você sabe sobre o acampamento?

Ele pensa sobre as palavras que acabou de dizer.

-Não muito na verdade

Agarro a sopa de ervilhas dele e pego uma colher. Um sorriso malicioso se abre no canto de sua boca.

-Não me faça bater em você- digo.

-Okay. Okay - ele levanta os braços na defensiva- O Governo sabia sobre o acampamento, é claro. Quando o pessoal da prefeitura seguiu você e Maria eles encontraram os outros, era questão de tempo até acharem um jeito de render todos os outros. Quando Maria foi expulsa Gabriel e as filhas já estavam vigiando o local e então se separaram do resto enquanto eles atacavam o acampamento com aquela ladainha que eles usam pra contar história. Não podiam dizer coisas pessoais de todos, era muita gente. Eu não sei bem que história inventaram afinal mas as pessoas de lá foram levadas para algum lugar na Costa.

-Você sabe se o meu irmão está lá?

-Talvez. Se ele não saiu a tempo é bem provável que sim.

É claro que ele não saiu a tempo. Merle me mandou atrás de Maria enquanto ele organizava tudo. Ele sabia que tinha alguma coisa errada para acontecer.

-Tem alguma chance de o meu irmão ter tido contato com esse tal "governo" antes dos outros?

Ele pensa.

-Talvez, as vezes os líderes recrutam o pessoal influente dos grupos e fazem eles mesmos renderem as pessoas. E se eles negarem... eles morrem.

-Não, Merle não negou. Se ele foi recrutado para algo assim então com certeza ele participou por vontade própria. 

-Você não tem vergonha de ter um irmão assim? brinca ele. 

-Eu conheço o meu irmão, sei como ele age e o que ele faz por benefícios.

-Mas ele poderia ter pedido para Gabriel poupar a você e a Maria.

Nego.

-Ele acreditou que eu iria de boa fé quando Gabriel contasse que ele era parte disso.

-Mas Gabriel não contou.

-Gabriel já queria me matar antes mesmo de falar conosco.

-Esse não faz muito o estilo do grupo, quer dizer, eles não fazem isso. Eles são bons de papos.

-A menos que eu tivesse uma coisa que eles quisessem muito.

Ele para de falar e só me encara.

-Maria.

Maria, concordo com ele. Mas desconheço o motivo e não tenho certeza se quero conhecer, agora ela está morta, Gabriel nunca a terá de volta. De qualquer forma, tudo a respeito de Merle e uma possível aliança com o governo não passam de especulação. Me preocupo com isso quando encontrar meu irmão. 

-Daryl- diz Ozônio levantando e se pondo de pé diante da janela. Uma luz fraca emana detrás da cortina nos alertando de que o dia torna a nascer -Tem uma coisa que você precisa saber.