Acordei na manhã seguinte com alguns sentimentos transbordando. Depois de segurar meu cabelo para trás enquanto eu vomitava Daryl me trouxe água. Eu lavei o rosto, prendi o cabelo e me despi, precisava de um banho.
-A barriga já está aparecendo, um pouco, eu acho- disse Daryl meio sem jeito. Ele quase parecia emocionado.
Ignorei seu comentário. Lidar com os sentimentos dele no dia anterior tinha me deixado exausta. Era hora de lidar com os meus.
-Meu filho, ou filha, sei lá, ele nunca vai conhecer o Natal. Ver todas aquelas luzes coloridas e toda aquela neve.
Daryl parou ao lado da porta prestando atenção ao que eu dizia, ele falava consideravelmente pouco depois de eu te-lo xingado.
-Não vai pedir doçuras ou travessuras no halloween ou se fantasiar de thor, de princesa léia, voldemort ou algo assim.
-Eu não conheço essas pessoas.
Ignorei-o novamente.
-Nunca vou poder empurra-lo num balanço de um parque com todas aquelas crianças chatas e barulhentas ao redor.
-Onde você quer chegar com tudo isso? Perguntou Daryl.
-Eu tenho medo de não ter o que oferecer, de não ter coisas importantes para mostrar a essa criança. Eu fui excluída em partes pela minha família que não era das mais exemplares. Mas eu tenho muitas lembranças boas.
Alguns minutos de silêncio se passaram, só o som de uma pequena gota que se formava na torneira semi fechada e depois explodia na pia era ouvido. Um silêncio de reflexão. Daryl sentou-se a minha frente, encostou as costas na parede do banheiro e recostou a cabeça nos ladrilhos gelados.
-Eu cresci numa fazenda, cercada e longe do mundo lá fora e mesmo assim era grande e espaçosa. Não tinha muito com que brincar e nem com quem brincar então na maior parte do tempo eu só ficava em cima de uma árvore observando meu pai e Merle trabalharem, mas tinha uma pequena porção desse tempo em que eu fazia meus próprios brinquedos, ficava na garagem decorando o nome e as funções das ferramentas e até regando a horta. Eu fiz minhas próprias brincadeiras, enquanto as outras pessoas faziam as delas. Quero dizer que é possível tirar algo do nada e transformar isso em uma coisa real. Eu trabalhei depois com o meu pai, antes de nos mudarmos para mais perto da cidade e ele se perder no álcool. Eu continuei dentro das minhas limitações, e por mais que não seja o ideal, aquilo foi bom para mim. Talvez eu possa ensinar ao nosso filho como ele pode se divertir com o que o mundo é agora. Só com o que tem ao nosso dispor e só porque vivemos numa prisão não significa que não possamos criar uma coisa descente para ele ou ela. Você é tão criativa Maria, eu esperava que você pudesse ser a motivação, sempre vivendo mil vidas e falando sobre mil assuntos, muito me admira que tenha perdido a esperança.
Eu não falei nada por vergonha. Cada vez que eu conhecia um pouco mais de Daryl só repensava mais sobre como podia existir um sentimento daqueles. Não parecia amor, nem parecia com algo descritível, eu era incondicionalmente dependente dele. Não adiantava o quanto eu conseguisse negar.
-Você não está sozinha. Era só o que eu queria dizer desde o início. Acho que tudo soou meio confuso.
-Você se saiu bem.
-E você também vai se sair, como mãe. Então relaxe e não pense tanto sobre isso. Não passe essas paranóias para o bebê.
E de repente caiu a ficha de que em breve. Muito muito em breve nós teríamos um bebê. E imaginar a cena de Daryl segurando nosso filho nos braços me fez chorar muito.
-Nós precisamos vence-los- comentei entre soluços.
-Quem?
-Ao governo. Aos rebeldes que se juntaram a eles. Aos canibais. Todos eles.
-Já os vencemos- disse Daryl parecendo ter certeza de suas palavras. -O governo está muito fora de alcance agora, eles dominam uma proporção grande do estado mas não essas bandas. E os canibais são problema deles agora. Os rebeldes que vierem encontrarão morte certa. Estamos muito bem equipados Maria, para que não nos alcancem.
-Isso não me reconforta- eu disse secando as lágrimas. -Porque eu quero paz e eu não consigo alcançá-la. Eu tenho mil coisas para me preocupar.
-Vamos lidar com todas elas, uma de cada vez.
Funguei uma vez mais. Toda vez que chorava minhas narinas ficavam trancadas.
-Você tem alguma notícia a respeito da busca pelos meninos.
Ele sabia que eu estava falando sobre Lg. Biba. Cadu e Nego.
-Eu não sei de nada. Mas não vai ser difícil descobrir. Sei que você gosta deles e que se preocupa, eu também sei que por sermos a unica base restante da região também temos problemas maiores do que procurar sobreviventes, ainda mais crianças presas em território hostil.
-A terra toda é um maldito território hostil agora.
-Você sabe do que estou falando.
Eu sabia. Governo. Canibais. Zumbis.
Mas eu acreditava que aqueles garotos em especial saberiam se virar, só não sabia por quanto tempo.-Eu vou me informar sobre a situação e pressionar um pouco. Seria voluntário para a missão de busca mas imagino que....
-NÃO.
No que dependesse de mim Daryl Dixon nunca mais colocaria os pés nos arredores de Atlanta. E isso era a minha lei.
-Imaginei- respondeu ele. E gostei de perceber que pela primeira vez ele baixava a cabeça para uma decisão MINHA.
-Se eu não conseguir pressionar chamo reforços- brincou ele sorrindo para mim.
-E quanto a segurança da cidade, eu soube que mais agentes chegarão em breve. Parece que vai rolar uma reunião grande, há muito burburinho nos corredores da sede, mas nada que pareça importante. Só vão nos contar quando já estiver acontecendo.
-Obrigada, por estar me contando tudo isso. Cansei de ser poupada dos assuntos piores e do trabalho duro.
-Mas é o que você precisa.
-Eu logo vou arranjar o que fazer, pode apostar.
-Eu não duvido. Tenho até medo de qual vai ser o seu próximo passo.
E era para ter. Lemonade Mouth era um dos meus filmes preferidos, e eu acordara sentindo cheiro de revolução no ar.
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DIXON - No Fim Do Mundo
Fanfiction"Quando o mundo caiu as máscaras caíram com ele. As pessoas não precisavam mais esconder seus medos nem seus desejos mais profundos. Quando o mundo caiu nós só tivemos a certeza de que os verdadeiros montros estavam realmente dentro de nós e não era...