Capítulo 44 (revisado)

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O acampamento não era bem protegido, a noite não consegui ter uma boa visão de tudo, mas as coisas ficaram mais claras quando o dia amanheceu. Estávamos em uma pequena clareira e havíamos subido a floresta mais do que eu me lembrava. Refleti sobre a quanto tempo não dormia e o quanto isso tem me afetado. O vigia no trailer, um homem chamado Dale, cedeu-me de boa vontade a cama de seu trailer e umas roupas limpas para que eu me lavasse. A cama era apertada demais para mim de forma que acordei com dor no pescoço tentando inutilmente fazer em mim mesmo uma massagem que aprendi a tempos. Resolvi caçar antes de que todos acordassem para depois pensar no que fazer então sai em busca de alimento e voltei com algumas frutas e um esquilo. Quando voltei notei que Dale havia sido substituído por um jovem asiático que agora tomara seu posto, o garoto me cumprimentou quando estava passando e disse que Dale gostaria de me ver em seu trailer. Entrei.

                      -Um caçador, que sorte- ele disse.


                     -A cozinha não tem muitos utensílios mas você pode usar o que precisar ou então pedir para Carol ou Lori uma ajuda, elas prepararão comida para você.

                    -Obrigada- respondi- Mas eu posso me virar.

Ele sorriu e concordou.

                     -O trailer é seu, fique quanto precisar.

                     -Não estou planejando ficar por muito tempo, só o suficiente para informações.

Ele arqueou as sobrancelhas.

                   -Sim, de fato Rick conversou comigo sobre isso. Você está procurando uma moça, certo? 

                    -Sim- afirmei, ele parecia muito mais disposto em colaborar do que o tal de Rick. -O nome dela é Maria.

                    -Sinto muito- ele respondeu- Eu não soube de nada, mas Rick talvez possa lhe ajudar.

Ele não podia. Havia feito a mesma pergunta a ele na noite anterior e recebido a mesma resposta. Por um segundo imaginei que estar ali era em vão, aquelas pessoas não tinham as respostas que eu precisava e eu estava perdendo o tempo. No entanto, algo ainda me fazia querer ficar ali, eu achava que poderia descobrir algo mais. Eu disse a Dale que conversaria com Rick novamente e que nos veríamos mais tarde, o que podia muito bem ser mentira já que a minha intenção era descobrir o paradeiro de Maria e dar o fora. No entanto...

Não havia uma quantidade significativa de pessoas no acampamento mas era com certeza um grande banquete para os mortos que andavam na floresta em busca de alimento. Esse foi um comentário que Gleen, o asiático vinha dizendo a Rick o dia todo mas o cara estava claramente mais preocupado em mimar a esposa. Pelo que entendi ela estava grávida. Aparentemente o comportamento do líder estava deixando a desejar. 

                     -Essa não é a atitude de um líder- foi o comentário de um sujeito chamado Spencer, o que fez todos em volta pararem suas tarefas e prestarem atenção. Eu havia saído do trailer para procurar alguém que talvez soubesse de alguma coisa quando a confusão chamou minha atenção. 

                     -Não podemos mais ficar indo lá fora para visitar farmácias e lojas de roupas para dar conforto a Lori e as outras. Tudo bem, nós temos muitas crianças e mulheres inofensivas, isso não significa que não tenhamos necessidades maiores para suprir- continuou ele.

Uma mulher de cabelos raspados jogou fora a bituca do cigarro que acabara de fumar e virou para Spencer.

                    -E o que seriam as nossas prioridades aqui?

                   -Com certeza não são os seus cigarros, Carol.

Ela arqueou as sobrancelhas.

                  -Meus cigarros não são problema seu. E de mais ninguém aqui.

                  -Spencer, quer nos dizer o que você acha que devemos levar como prioridade? Perguntou Rick.

                  -Armas são um bom exemplo.

A mulher chamada Carol se levantou e andou na direção de Spencer.

                 -Você é mesmo um idiota. Da última vez que usou uma arma os gêmeos de Daniel e Julia foram levados.

Ele suspirou e por um momento enxerguei um brilho de culpa em seus olhos.

                -Não foi culpa minha- ele se defendeu.

                -É o que estão dizendo a você. Mas eu vou te falar- ela apontou o dedo no rosto do homem- As pessoas aqui só tem respeito por você em consideração a sua mãe.

Uma mulher gemeu ao meu lado. Era baixinha e magricela.

                -Pelo menos alguém tem respeito pela minha, mas e você Carol, é uma mãe que merece respeito ?

Ela chutou seu joelho esquerdo e ele caiu de quatro na terra. A mulher ao meu lado gritou e as pessoas ao redor se afastaram.

               -A droga de uma arma tirou a vida da minha filha- Carol berrou- E também teria tirado a sua se não fosse o Rick. E é esse tipo de prioridade que você quer ter ?

No chão, Spencer gemia de dor enquanto tentava encarar a mulher. Sua mãe tentava ampará-lo pedindo que se calasse. 

              -Só não acho certo que...- mas foi interrompido. 

              -Não me importo com o que você acha certo seu bosta, e ninguém aqui se importa. Spencer você é um lixo- dizia ela segurando as lágrimas.

A menção da morte da filha desestabilizou-a.

             -E você é uma vadia!

             -Agora chega Spencer!- disse a mulher ao meu lado, provavelmente sua mãe.

Spencer tateava o chão a procura de alguma coisa que eu não sabia o que era e mais ninguém parecia estar prestando atenção naquilo, exceto por mim e Dale, que olhava concentrado o homem humilhado no chão.

Carol cuspiu no chão ao lado dele e se virou no exato momento em que ele achou o que procurava, levantando-se como um ninja para acertá-la com uma lamina espelhada.

E teria acertado, não fosse as dezenas de coisas que aconteceram depois disso.

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