Capítulo 46 (revisado)

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         -Como é que um desconhecido causa tanto estrago? Perguntou Carol.

          -De onde eu venho, são sempre os desconhecidos a arranjar problemas- respondi. 

Ela solta a fumaça de seu cigarro. Ele está quase no fim.

          -E de onde você vem? Ela quer saber.

         -Isso não importa- digo seco- Importa é para onde vou e como vou chegar lá.

Ela arqueia as sobrancelhas como se meu determinismo fosse motivo de deboche. Esse tom sempre me anojou.

        -E para onde vai? Daryl Dixon.

        -Não muito longe. Procuro uma pessoa.

        -Uma mulher, eu imagino.

        -Não pelos motivos que imagina- garanto a ela. 

        -Homens como você não mudam o rumo de suas vidas sem um bom motivo. Imagino que não seja qualquer mulher também.

Seu cigarro chega ao fim mas ela continua com o toco entre os dedos.

          -Não é- respondo. Maria não é qualquer mulher, jamais será, não tenho problemas em admitir isso. 

Ela assente.

         -Com o que você acha que posso ajudar ?

         -Não acho.

Ela me encara.

         -Não acha ?

Dou de ombros.

        - Não sei como você poderia me ajudar.

        -Olhe- ela disse- Dale me contou sobre Maria, sobre seu problema com esse governo e todo o resto.

       -Dale não sabe de todo o resto.

       -Ele me contou o que sabia. Tudo o que você contou pelo menos. Ele é um homem bom, só quer ajudar.

       -E você? Quer ?

Ela baixa a cabeça.

       -Eles capturaram alguns de nós enquanto fazíamos uma busca nos carros, na rodovia. Eles procuravam uma mulher, provavelmente essa mesma mulher. Nós não tínhamos a informação e então eles mataram Sophia- ela faz uma pausa, lágrimas nos olhos- Mataram uma garotinha inocente que nada tinha a ver com seus problemas.

         -Sua filha? 

Ela assente e desvia o olhar. 

        -Ela tinha onze anos, eles não tinham como ter certeza de que falávamos a verdade então fizeram isso para ter certeza de que nós entenderíamos o recado. 

       -Carol- Rick se aproximava- Você não pode deixar passar alguns detalhes desta história.

Ele coloca a mão em seu ombro mas ela o afasta e joga o cigarro fora.

      -Eles a mataram, e a culpa é dela. Isso não está em discussão.

Rick Grimes vira o rosto e coloca a mão na cintura. Dale havia falado que antes do mundo cair Rick era um assistente de xerife e ele parecia carregar essa postura por onde vai. 

Indiferente, Carol nos deu as costas e foi embora.

Por um momento ficamos em silêncio, a noite estava caindo de novo e cada vez mais a escuridão tomava conta da floresta.

      -Ela me culpa por não estar lá- disse Rick quebrando o som dos grilos não tão distantes. Estamos na borda do acampamento, os últimos carros, posicionados em direção a única trilha estão a vinte metros e as pessoas passam distantes, recolhendo roupas, preparando o jantar e observando as crianças.

     -Quando toparam com O Governo ?

Ele assente.

-Dale, Rosita e eu estávamos na próxima cidade ao Sul, esvaziando um supermercado, nós ouvimos tiros, e decidimos olhar mais de perto. Entramos na floresta e chegamos ao presídio, não sabíamos ao certo o que eram mas com certeza eram perigosos, os muros, a forma como aqueles cadáveres protegem aquele lugar, é assustador, eles precisam estar lidando com algo muito grande.

Ele faz uma pausa. O vento se torna mais gélido a cada minuto.

     -Nós vimos os carros saindo e uns caras ditando ordens, eles procuravam uma mulher. Não sabíamos como agir, eles tem um número realmente significativo de pessoas o que chega a ser absurdamente grande contra o nosso pessoal e não pareciam ser boa gente. Estavam tão perto do acampamento, resolvemos voltar e contar aos outros, encontrar uma solução juntos. Mas quando nós nos aproximamos era tarde. O nosso pessoal estava em uma busca por alimentos, roupas, você sabe, o grandão encontrou eles e a Sophia acabou sendo mordida.

      -Achei que tivessem atirado nela- comentei. 

      -Acaba sendo a mesma coisa, eles a pegaram e enquanto ela era refém foi mordida, não hesitaram em atirar nela na frente de Carol. 

Meu Deus, só de ouvir sinto que seria incapaz de sentir tanta tristeza. Penso no trauma que isso deve significar para uma mãe. Mas afinal, o que Carol queria levando-a consigo a missões assim, fora do acampamento. Ela tinha onze anos.

     -Como era esse grandão a quem está se referindo? pergunto voltando ao assunto. 

     -Um cara negro, parecia ser do exército ou coisa assim. Eu não cheguei a vê-lo de perto. Como eu disse, era tarde quando chegamos.

Gabriel, tinha de ser Gabriel.

     -O que ela estava fazendo lá ? A menina ? Era só uma criança.

     -Carol é uma mãe muito apegada. Ela era. Sophia só estava segura quando ficava perto dela, não confiava a menina a ninguém. Ela insistiu para que Sophia ficasse no carro, foi a única vez em que ela esteve disposta a deixar a garota com outra pessoa mas a menina insistiu tanto que Carol a levou para junto, ela sabia dos riscos. Mas aquele dia, ela parecia estar sentindo, era como se ela soubesse.

Ele balançou negativamente a cabeça.

     -Quando Carol, Abraham e Sasha não forneceram algumas informações, o grandalhão deu uns tiros, pra assustá-los e isso atraiu alguns mortos. Ele pegaram Sophia, porque como a Carol te contou, queriam garantir que o meu pessoal estivesse falando a verdade. Acredito que não tinham intenção de machucá-la, mas se descuidaram por um minutos e ela foi pega. O resto você já sabe. 

    -Eu não vou discutir sobre as decisões que tomei. Enfim, a Carol não acredita mais que eu possa ser um bom líder.

Eu o encarei.

   -É porque talvez você não seja um bom líder, Rick.

Ele me encarou de volta mas seu olhar logo se perdeu atrás de mim, ele se moveu rápido, sacando a arma e atirando. E então começaram os gritos. 

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora