Eu não gostava de praticar a expressão "emburrada", nem por isso conseguia evitar. É inevitável esconder o desagrado, mas lá estava ele, exibindo-se em minha face.
-Você parece o tipo de garota que lê muito- diz Ozônio.
Sim, ele se apresentou como Ozônio. E além da besta ele trouxe um vira lata chamado Óxido. E é muito inteligente e talvez um pouco inconveniente, já que fez muitas observações desde que chegou. Ele me analisa atentamente enquanto enrola uma mecha do cabelo longo e encaracolado.
-Você acha? pergunto sorrindo, ele com certeza sabe ler as pessoas. Disse coisas sobre Daryl que não o agradaram em nada e ele ficou incomodado o bastante para invadir a mata sozinho. Mas eu confiava em suas habilidades e que ele voltaria. Por mim. Não é assim que se diz adeus, mandando à merda o cara que o ajudou .
Ele senta no banco ao lado da minha cadeira. Eu estava jogada em cima de um exemplar de "O theorema Katherine", tentando entender uma equação. Sem sucesso. O livro fora presente de Ozônio, direto de sua estante particular.
-Ou disso ou gosta de equações complicadas.
Fiz uma careta.
-Matemática nunca foi o meu forte- assumo.
Ele da um sorrisinho torto
-Nem o meu.
-Você parece o tipo de cara extremamente inteligente, matemática, português, biologia, nada é problema pra você.
-Você acha? Ele devolve a pergunta com deboche.
-Não. Eu sei.
Ele sorri.
Eu também. Estou certa.-Está disposto a abrir mão do conforto da sua casinha para fugir? Pergunto.
O sorriso perde o rumo em seu rosto.
-Não quero mais ser um deles. Não quero estar aqui,
-Eles são assim tão maus ?
Ele pensa um pouco.
-Eles só não são...descentes. Quer dizer, a filha do Gabriel meteu o pé na sua cara. E ela tem o que? Doze anos?
Ele ri timidamente.-O que eles fazem aqui? De verdade.
Ele olha para a janela, detrás das árvores se pode ver uma parte do complexo do presídio.
-Eles recrutam- ele leva as mãos até a cabeça e faz si nal de aspas- pessoas para se juntar a eles.
-Qual o objetivo de tantas pessoas? A maior parte deles nem está apta para combater zumbis.
-Eles precisam de pessoas para várias funções. Estar aqui é levar uma vida de escravo. Cada uma das pessoas que eles capturam tem duas opções: Luta na arena e prova que pode ser boa em alguma coisa ou morre e vai para o muro.
-O muro?
-Nas partes cegas do presídio existem muitas falhas na segurança, como eles não tem tanto pessoal preparado para defender o lugar assim, eles usam os zumbis. São acorrentados como os da arena e ficam presos ao muro para impedir a passagem de inimigos. Não da para ver daqui, porque este lado é melhor protegido por guardas.
-Nossa -digo chocada.
-Eu sei. É assustador.
-Não. É inteligente. Eu subestimei esses caras, eles são realmente espertos.
Ozônio da de ombros.
-Por que quer tanto sair daqui? pergunto- Quer dizer, eu entendo que o que eles fazem é horrível, é cruel. Mas é a sua casa. Você disse que sua família está aqui.
-Isso não vem ao caso agora. O que importa é que está escurecendo e temos de ir.
-Viajar a noite não é uma ideia boa- afirmo- Já ficamos aqui o dia todo, porque não podemos esperar mais um pouco?
-Não temos escolha. Eles vem atrás de vocês pela manhã, temos de estar longe.
-E quanto a você? Não vão sentir sua falta ?
Ele sorri novamente.
-Não. Eu sou ninguém para eles. Assim como a camada de ozônio.
Solto uma gargalhada.
-Então é dai que vem o apelido?
-Talvez -responde.
Ouço um barulho na entrada, em seguida Daryl aparece com a cara pra dentro.
-Temos problemas.
Ozônio levanta e me estende a mão. Agarro-a e acompanho ele até o telescópio onde Daryl já está procurando alguma coisa.
-Onde? Pede Ozônio.
-Ao Norte, trezentos metros.
Ozônio ajusta os ângulos e mira no local descrito por Daryl. Quando olha de volta para nós, sua expressão é de pânico.
-O que? Pergunto. -O que você viu ?
Ele não fala. Daryl não responde. Decido ver por mim mesma. Luto um pouco para chegar ao objetivo mas quando o encontro , percebo que não queria tê-lo visto.
-Zumbis.
É tudo o que consigo dizer.
Dezenas deles se esgueirando por entre as árvores, talvez atraídos pela confusão no presídio, pessoas correram pela mata o dia todo a nossa procura.-Vamos- alguém diz. Não sei qual dos dois é. Óxido late ao pé da árvore mas ninguém ordena que se cale. Estamos todos em choque.
-Tenho suprimentos escondido pelo caminho todo daqui até a estrada principal. Vamos partir agora, não podemos perder tempo.
-É mentira- digo rapidamente.
-Não, é verdade. Estão por toda parte.
-Não, nisso eu acredito. Mas é mentira que você não seja valioso. Você deve ser um membro muito importante, para ter conhecimento sobre todas as falhas e os pontos fortes. Rotas, segurança, armas. Você é com certeza uma parte crucial daqui.
-Podemos discutir isso no caminho- responde ele colocando a mochila das costas.
-Não vou engolir sua história- informei.
-Ah ela vai sim- intromete-se Daryl- Ela sempre engole.
Ignoro a vontade de empurra-lo escada abaixo e passo à sua frente descendo pela escada de madeira. Ozônio vem em seguida e desprende o cão da coleira que o prendia, os dois parecem conhecer muito bem um ao outro, e também confiam plenamente. Diferente de Daryl e eu. Humanos. Incompatíveis.
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DIXON - No Fim Do Mundo
Fanfiction"Quando o mundo caiu as máscaras caíram com ele. As pessoas não precisavam mais esconder seus medos nem seus desejos mais profundos. Quando o mundo caiu nós só tivemos a certeza de que os verdadeiros montros estavam realmente dentro de nós e não era...