Capítulo 37 (revisado)

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    Esperei muito, muito tempo pelo momento em que eu esmurraria a cara de ozônio, então quando o momento chegou eu aproveitei ao máximo. Deixei que toda a raiva que eu estava sentindo nos últimos dias me invadisse e fosse usada contra o garoto magrela. Quando finalmente parei ele estava chorando, chorando mesmo, não estava chorando pouco e todo aquilo fez eu me sentir mal. Sangue escorria de várias partes do seu rosto e grandes hematomas já estavam formados em seu rosto, acentuando traços que antes não eram muito presentes.

-Pare de chorar- berrei.
Ele continuou.

Nossos confrontos eminentes atraíram os mortos que agora surgem de várias partes. Agarro Ozônio pelo colarinho sujo e arrasto-o para os andares superiores de um edifício comercial. Óxido nos segue, ele late violentamente para mim, sabe que seu dono está em perigo.

-Cale a boca cachorro idiota- cuspo para ele. Agora estou tão louco que falo com cachorros também.

Jogo Ozônio no chão quando chegamos ao terceiro andar e paro para fechar as portas. O barulho atrai mais errantes vestidos de terno e gravata que estavam no lado de dentro. O garoto se encolhe no chão em posição fetal, sangue escorre pelo canto da sua boca e ele eleva a mão até lá na inútil tentativa de parar o sangramento.

Jogo meu lenço para ele. O que diabos está acontecendo comigo ? Eu fiz isso com ele, não deveria estar ajudando-o agora. Nunca deveria ter ajudado.

Ele agarra o lenço e me encara. Seu olho esquerdo é invisível em meio ao inchaço, o direito ainda seca as lágrimas.

-Você pediu por isso -eu digo
Ele assente. Sua expressão demonstra o quanta dor sente apenas em se mover. Um gemido sai dele quando se esforça para encostar-se na parede.

-Eu sei- disse ele.

Ele mantém os olhos fechados. Ou para não ter que olhar pra mim e encarar a realidade ou porque não consegue mais mantê-los abertos . Ou os dois.

-Acredite em mim, eu não consigo mexer um dedo mas se tivesse que apanhar de novo pelo que eu fiz então eu apanharia.

Não consigo continuar olhando para ele.

-Ok. Melhor assim, talvez eu precise descarregar mais um pouco logo mais.

Ele estremece. 

-Desculpe Daryl.

-Não é a mim que você deve desculpas.

-É também, e só a você que eu posso pedir. Maria... ela...

-Ainda há uma chance.

Ele tenta engolir a saliva.

-Daryl, eu não acho que...

Levanto as mãos em protesto.

-Isto não está aberto para discussões. Eu vou.

Ele manteve os olhos fechados enquanto assentia de novo. Depois de acabar com os zumbis começo a checar a mochila.

-Nós vamos- disse ele levantando-se. 

 E de fato, nós fomos.

Levamos três dias até que Ozônio se recuperasse um pouco e eu varresse a área para procurar sinais de Merle. Mas Atlanta era um labirinto, grande e com muitos pontos cegos, ela era um risco que eu não podia correr. Não agora. Juntamos suprimentos e conseguimos um carro que nos levaria de volta para o sul do estado de onda havíamos partido alguns dias atrás. Ozônio disse que deveríamos começar de onde terminamos, ou seja, do barco de onde o corpo de Maria partiu. Se houver alguma chance, qualquer chance de encontrá-la, nem que eu precise atirar em sua cabeça, eu vou fazer isso. Preciso me redimir com ela.

O MUNDO parece cada dia mais silencioso e sombrio, não que eu já não o visse desta forma há dois meses atrás quando tudo terminou, mas agora, agora nem os pássaros ousam cantar. Até mesmo a inocência deles teme os zumbis. Até mesmo eu, que nunca tive medo de nada, as vezes me pego apavorado diante da situação. Parece que aos poucos a ficha vai caindo mais e mais. O mundo não vai voltar a ser como era antes. As pessoas nunca mais vão ser as mesmas. Algumas, como eu, vão melhorar ao se dar conta disto, outras, como os líderes do governo, se tornarão o pior pesadelo da terra. Ainda mais tenebrosos que os mortos.

Tentei juntar algumas pontas soltas na história de Gabriel e Ozônio, para parar de me fazer tantas perguntas.
O governo era uma instituição pós apocalíptica, gerenciada por sobreviventes que só eram sobreviventes porque tiveram condições e muitos recursos para tal. Políticos, empresários, empreendedores e etc. Essas pessoas traficavam umas as outras em troca de recursos, pois eram bons negociadores e quando não conseguiam o que queriam arrancavam a força deixando em seu rastro um banho de sangue. Eles queriam Maria por um motivo especial que agora eu conhecia, mesmo não entendendo direito e não iriam parar até estarem com ela sob sua posse. Algo que eu jamais permitiria. Maria precisava, e iria ficar nas mãos da pessoa certa. E no momento essa pessoa era eu. Quer eu, ela, Ozônio, ou qualquer outro ache isso certo ou não.

E isso também me fez entender o motivo de eu precisar procurar por ela mesmo antes de Elise pedir. A garota de biblioteca e a pessoa capaz de salvar o mundo eram a mesma pessoa. 

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora