Capítulo 35 (revisado)

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-Eu disse que o cigarro ia acabar matando você.

-Estou bem vivo para sua informação- respondo. Só escuto um som de deboche vindo de ozônio.

-Mas olhe o que ele causou.

Eu paro de andar, ele para também, como sempre, imitando meus passos. Eu estico meu dedo indicador na direção de seu peito.

-Você causou isso garoto- digo, ele engole em seco- E vai causar coisas muito piores por não saber quando é hora de ficar em silêncio.

-Porque com você é tudo na base da ameaça, não é ?

-Acredite, sou melhor fazendo do que falando.

-Ah eu acredito.

Continuamos andando pela estrada, está escurecendo agora, o carro ficou para trás há horas e tudo o que há no horizonte são os picos dos primeiros prédios de Atlanta que não está distante agora.

A decisão de trazer Ozônio comigo foi a coisa mais madura que já fiz na vida, porque eu o culpava totalmente pela morte de uma pessoa importante e tê-lo ao meu lado fazia parecer que eu estava seguindo em frente, mas eu não estava. Parte de mim, uma grande parte acreditava que mesmo tendo vivenciado tão poucos dias ao seu lado, ela jamais ficaria para trás. Não é assim que você se livra do peso da jornada.

-Você acha que tenho culpa? Ozônio pergunta, eu sei sobre o que ele está falando, pois sua voz carrega o mesmo pesar visto em meus olhos.

-Acho! -Não me poupei de responder.

-Eu não queria que ela tivesse sido mordida.

-Nem eu.

- Eu preferia que fosse você- foi um comentário ofensivo, mas merecido.

-Eu também- respondi. E era verdade.

-Mesmo?

Encaro-o de volta.

-É claro, ela mais do que qualquer pessoa, merece viver.

-Você daria a sua vida pela dela?

-Se eu pudesse escolher, não hesitaria.

-Mas você não pode.

-Eu não pude.

Houve um tempo prolongado de silêncio e quando ele foi quebrado o sol já estava se pondo e eu via a periferia de Atlanta, os becos misteriosos que escondiam criaturas famintas.

-Você acha que ela já se transformou?

Mais uma vez, meu coração foi trincado.

-Eu não quero falar disso.

-Não seja egoísta, não fique agindo como se a dor fosse só sua.

-Você não a conhecia- cuspo as palavras.

-E nem você.

Aquilo já estava me incomodando ao extremo.

-Você pode pensar o que quiser, eu não ligo. Contanto que você guarde isso para si.

Ele aperta e passo e permanece em silêncio, aparentemente aceitando o fato de que eu realmente não me importo com ele.

                                                                                         *


      Há muitos quilômetros dali, tudo que os olhos castanhos recém acordados podem ver, é a luz emitida por uma lua cheia no céu. Algo está balançando e o estômago do misterioso se revira devido ao agito do que parecem ser ondas. Sem saber onde está, a pessoa por trás dos enjoos se vira e cai de cara na água rasa, afundando o rosto da areia e se afogando até recobrar a consciência. Se é que um dia ela recobrará.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora