Capítulo 70 (revisado)

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Mandar em minhas ações se tornava fácil quando você era Daryl Dixon. O homem falava e eu parava pra ouvir, não por ser mulher e superestimada, mas por ser mulher dele e apaixonada.

-Não preciso que você diga o que tenho que fazer- eu disse para Daryl quando passamos pela lona de nosso novo "alojamento" ele havia passado a velha camisa social azul marinha por cima dos meus ombros e me empurrava de uma maneira quase rude para dentro. Ozônio, que nos acompanhava de perto, lançou para mim um olhar de quem dizia: "ele precisa e você sabe". 

-Ok- continuei- Então talvez você, por ser um pouco mais esperto tenha ciência do que é certo e melhor para mim. Mas Daryl, Gabriel é uma ameaça e eu já estou farta de ameaças, não posso ao menos ter um dia de paz. E Carol... simplesmente está ajudando a tornar tudo um inferno. 

Ele parou ao lado do meu colchão e me puxou para um abraço apertado contra seu peito definido.

-Queria dizer que posso proteger você disso, com Carol, mas não posso. Mas quanto a Gabriel, ele não é ameaça, não para você. Não enquanto eu estiver por perto e estou sempre por perto.

Ele baixou os lábios para mais perto do meu ouvido.

-E eu vou sempre estar. 

Inspirei e soltei o ar com impaciência. Não sei quanto tempo mais ia conseguir aguentar isso.  As mãos de Daryl retiraram a camisa de mim e ela deslisou até o chão deixando meu corpo exposto. 

-Vou matá-lo- prometeu Daryl tocando os pontos vermelhos em meus ombros e pescoço. Gabriel quase me matara no aperto. Ele quase me matara de muita formas. Qualquer dia eu retribuiria o favor. Mas dessa vez eu terminaria o serviço. 

-Ozônio cuidará de você essa noite- afirmou olhando de esguelha para Ozônio que engoliu em seco e concordou. 

-Onde você vai? perguntei hesitante. 

-Ronda. Bob, Alec e Rony. Não vamos muito longe, só verificar o sinal com o rádio de contato, precisamos de novas informações sobre a localização dos seus amigos especiais. -Notei um quê de deboche quando pronunciou a última palavra. 

-Até o médico vai e eu não? perguntei insatisfeita.

-Médicos do exército não são médicos comuns- disse Ozônio atirando-se em uma cadeira de plástico perto de minha cama- São muito melhores do que aqueles que você assistia em Grey's Anatomy. E você sabe que o Owen é bom. Você se surpreenderia em como Rony pode ser durão. 

Daryl assentiu indiferente e beijou minha testa com hesitação. Não é o tipo de carinho que você vê saindo de um homem como aquele, mas ele estava se esforçando e isso me fazia amá-lo ainda mais. Malditos clichêeees. 

  Meia hora depois, Daryl havia partido e Ozônio e eu estávamos dividindo um pacote de cereal e envolvidos na maior discussão sobre séries que nunca conseguiram terminar por causa do apocalipse.

-Não consigo imaginar aqueles atores todos, ricos e felizes fugindo de um bando de devoradores de cérebro. 

-Comem tudo, não só o cérebro- afirmei colocando um punhado de cereal na boca e forçando a mastigação.

-Outro dia encontrei um zumbi. Ele estava encostado em uma parede chupando um osso com fiapos de carne, igualzinho ao meu tio Vágner espalitando os dentes depois do almoço de domingo. Eu ri e joguei um bocado de cereal na cara dele. Ozônio ergueu os braços, indignado.

-Por ser mau- falei recolhendo os farelos e jogando-os fora- O que aconteceu com seu tio Vágner? Ele deu de ombros. 

-Não faço ideia. Ele morava no Texas e nunca teve pretensão de sair de lá.

-E o resto da sua família? eu quis saber.

Ele me olhou desconfiado.

-E a sua? perguntou arqueando uma sobrancelha. 

Como um tapa, lembrei pela primeira vez em muito tempo dos meus pais, dos meus irmãos e de como a vida era tediosa e chata antes de tudo isso. 

-Era só uma família normal- respondi dando de ombros.

-Aham- duvidou Ozônio- Uma família normal que doa a filha para ser cobaia de cientistas loucos. 

-Quem sabe o que há na cabeça desses pais loucos? disse despreocupada, mas uma pontinha de dor e ressentimento girava descompassadamente dentro de mim. 

-Prefiro as pessoas de agora- Ozônio disse deitando com a cabeça nos meus pés e puxando todo o cobertor para si. Eu sorri, pensando em Daryl e no próprio Ozônio, grandes pessoas. Um grande amor. Uma grande amizade. E em todos os soldados que andavam ao meu lado e formavam minha guarda. E principalmente por todos aquele que já haviam morrido em nome da causa pela qual eu existia. 

-Eu também- respondi e fechei os olhos para aquele longo dia. 

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora