DIXON - No Fim Do Mundo

Capítulo 81 (revisado)

-O que você mais precisa agora é juízo, Maria Joana Ketzer- disse Rony exausto depois de percorrer o prédio todo a minha procura e me encontrar no quartinho ainda espiando Harry e Louis. 

-Eu nem lembrava do meu nome e você o tem na ponta da língua- respondi enquanto deixava que ele me examinasse. 

-Você carrega uma vida dentro de si, alguém que depende da sua estabilidade. 

-Ah faça-me o favor Rony, se tem uma coisa que minha vida não reconhece é estabilidade. 

-Mas a partir de hoje terá. O comandante Abraham entrou em contato com os superiores e uma unidade de evacuação está a caminho, devem chegar pela manhã e partiremos a seguir. 

-E para onde vamos? perguntei muito duvidosa de que haveria neste mundo um único lugar seguro depois dos mortos. 

-Whashington- respondeu ele como se fosse óbvio- A cidade foi cercada logo após a quarentena. 

-E por que o mesmo não aconteceu com Atlanta ou qualquer outra grande cidade? 

-Aconteceu em Seattle, mas é longe demais para nossos recursos. 

Reviro os olhos. Não tenho certeza de que quero aproveitar esta oferta do destino. 

-Vou conhecer o Presidente? perguntei com um traço de sorriso do rosto. Seria muito elegante incomodá-lo um pouquinho. 

-Não, o Presidente não fica em terra por mais de um dia. 

-Então onde ele está? Uma arca espacial? Já chegamos a essa tecnologia?

-Não- respondeu ele rindo enquanto apertava minha barriga- Ainda não. Ele está no Atlântico, navios de guerra até onde sabemos, mas sua localização não é exata, já que sua segurança é essencial. 

-Como ele deixou chegar a esse ponto? Tantas e tantas pessoas morreram, bilhões, é muito mais do que consigo processar, e ele está na segurança de um navio de guerra. 

-Assim como muitos outros presidentes Maria, não se engane, nós sabemos que o mundo é de quem tem dinheiro. 

-Acho que o mundo agora é de quem tem poder- respondi sentando-me- poder para liderar exércitos em meio ao caos. 

-Então o mundo é seu Maria- afirmou ele segurando minha mão, e pela primeira vez notei nos traços de seu rosto que era um homem cansado, não mais que trinta e poucos anos, os cabelos ruivos misturados aos grisalhos dando-lhe uma aparência amigável. O sorriso torto, as sardas no rosto, a inteligência, o conhecimento médico e de sobrevivência, Rony merecia um passe para o único lugar seguro agora, mas ele não o tinha porque na visão dos grandes do alto escalão, ele era dispensável. Assim como qualquer um ali, exceto a mim. E esse pensamento me fez levantar uma questão importante. 

-Se sou tão importante como dizem, por que estou em terra e não em alto mar? 

Rony revirou a maleta em busca de algo. 

-Os navios não tem o suporte que o CCD tem, por isso vamos para Whashington salvar o mundo. 

-Se a cura vai sair de mim posso pelo menos escolher quem irá recebê-la? perguntei brincando. 

-Acredito que não. 

-Rony- comecei incerta- Tem uma coisa que ocupou os meus pensamentos desde o dia em que descobri que fui uma criança planejada. 

-Diga- respondeu curioso. 

-E se eu tiver que morrer para que eles obtenham a cura? perguntei com os olhos cheios de lágrimas, era uma conversa que nunca havia compartilhado com ninguém. Um medo só meu.