Capítulo 40 (revisado)

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Segui pela rodovia interrompida voltando pelo caminho por onde tinha passado minutos antes com Ozônio e fiz uma curva contramão que garantia uma nova rota até o presídio. Eu não tinha certeza de que sabia exatamente onde ficava, uma vez que não prestei atenção quando estávamos indo embora, eu só queria seguir em frente. Um latido me fez perceber que Óxido ainda estava no carro e que por mais que eu me sentisse só naquele momento, eu não estava. O cachorro, muito bem treinado pelo dono, pulou para o banco da frente e parecia encarar o retrovisor sem piscar durante horas. Foi só quando os mortos interromperam a estrada que ele voltou a parecer vivo novamente. Não eram muitos, dez, talvez quinze, mas estavam em maior número e eu não teria flechas -ou tempo- o suficiente para eles.

-Vamos em frente amigão- foi o recado à Óxido que permanecia agitado com a presença da ameaça.

Quando os mortos se acumularam ao redor do carro eu acelerei, derrubei cinco, seis deles de cara mas os demais continuavam batendo contra as janelas, famintos e desesperados. Os latidos incessantes de Óxido só os deixavam mais ativos, mas ao invés de temer ou me irritar, me fez sentir alivio, era como se estivéssemos debochando deles, pois protegidos pelo carro eles não podiam nos tocar. Estávamos debochando deles como Deus está debochando de nós. Os latidos cessaram e os grunhidos foram abafados pelo som da minha mente. Maria estava presente em mim novamente, e estava mais forte dessa vez.

Agora ela estava no parque, aquele no centro da pequena cidade onde ela morava, de alguma forma eu sabia que ela vivia feliz ali, e estava correndo atrás de um balão amarelo que lhe escapara por entre os dedos, usava um vestido florido que não era típico dela, exibia um sorriso largo que nunca a vi dar. Ela percorreu por entre o túnel de árvores e fez uma careta quando o balão ficou preso entre galhos altos onde ela não podia alcançar, então virou-se para trás, em minha direção, fazendo um pedido silencioso para que eu a ajudasse e foi quando estendi o braço para alcançar o balão que despertei da ilusão.

Bufei. Não era real, isso, as coisas que via, não eram reais. E Maria também não está aqui para torná-las reais. Mas aquele sorriso, minha nossa, tive tão poucas oportunidades de vê-lo que chego a sonhar, e o peso do sonho tranca a minha garganta me impedindo de respirar. Era tão raro vê-la sorrir, mas era a coisa mais preciosa do mundo e eu... eu tive tão pouco tempo.

Uma lágrima escorre, pela primeira vez fico feliz em saber que Merle não está por perto. Ele diria que sou fraco por chorar por uma mulher e provavelmente diria isso de uma forma insensível porque ele era assim. Sim, talvez eu seja tolo por Maria, mas não me sinto fraco, pelo contrário, o amor de Maria me da forças. E é essa força que vai me levar até ela. Eu não acredito que ela seja a cura para o mundo como Ozônio diz, mas eu tenho certeza de que é a cura para mim. E isso basta.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora