Capítulo 92 (revisado)

218 19 1
                                    

Respirar para falar não era meu forte, e isso acaba gerando várias frases frouxas e gagas.

-Maria você está sendo inteligente demais novamente, não conseguimos acompanhar.

-Daryl seria a UNICA coisa capaz de me tirar daqui- contei aos homens que me olhavam piedosos como se eu já houvesse chegado em um extremo da insanidade- E não se ache- eu disse especialmente a Daryl- Não estou falando sobre o quanto você significa. Só estou dizendo o óbvio, que eu faria qualquer coisa de boa vontade se fosse por você.

Ele não era de desviar os olhos, mas o fez assim mesmo.

-Se capturarem Daryl eles teriam todo o poder, eu daria tudo o que quisessem.

-Isso é burrice- disse Daryl levantando-se da mesa. Falar sobre sentimentos já era um inferno para ele, mas falar disso na frente de todos os nossos amigos era demais- Você não seria assim tão estúpida.

-Seria- confirmou Louis em voz baixa.

-Daryl não será capturado, não acho que este seja o plano deles- disse Alec parecendo frustrado pela conversa.

-Bom, só estou dizendo o que acho. Não tem sentido que eles me capturem se tiverem certeza de que eu morreria pela causa, eles irão tentar tirar algo que eu realmente ame.

Daryl encarou-me, o cenho mais franzido que nunca.

-Você está grávida, acho que seu filho é argumento suficiente para você querer se manter em segurança- disse Alec.

-Não use nosso filho como exemplo- explodiu Daryl- Não discutam uma situação hipotética. É perda de tempo, poderíamos estar lá fora armando táticas para nos defendermos, para destruírmos eles. Mas estamos aqui, discutindo uma teoria furada de Maria.

Ele feria com palavras.

-Também não é assim- defendeu Alec observando enquanto meu lábio inferior tremia- É importante ver esse lado, Maria está certa, se eles capturassem você a teriam nas mãos, e isso é inaceitável, nós só não cogitamos que este seja o intuito deles.

-Eu vou dizer pra você qual é o intuito deles- berrou Daryl realmente irritado, chutou uma de nossas cadeiras fazendo-a chocar-se contra a parede e em seguir virar dezenas de pedaços no chão.  Alec e Louis se levantaram- Tudo o que aqueles merdas querem é poder levar Maria daqui e fazer dinheiro com ela, ganhar as vidas. Chegar primeiro nessa corrida idiota de salvação. Vocês idiotas da ONU nos enfiaram nessa bosta toda, e agora não sabem como nos tirar daqui. E por causa disso, Maria tem que ser usada de gato e sapato para dar um jeito em tudo. E eu sei que ela vive dizendo que tudo bem, que não se importa, que é otimo poder ajudar. Mas está apavorada, como nunca. Porque ela não pediu por essa merda toda. Ela não pediu pra nascer. Vocês a planejaram e agora não sabem lidar com o que ela se tornou. Que é muito mais do que vocês merecem, por tudo o que tem feito com ela. E ainda por cima você Maria, fica se sentindo a heroína, achando que vai fazer uma grande coisa "curando" toda essa gente burra. Não ache que qualquer um de nós acredita que você vai fazer isso pelas pessoas, é só pela sua consciência.

Depois de gritar a plenos pulmões ele se trancou no banheiro.

-Eu sei que você se esforçou para fazer este almoço Maria, mas eu tenho mesmo que ir- disse Louis visivelmente apavorado.

Eu assenti.

-Eu o acompanho- disse Alec olhando para mim, ele sabia que não era o momento de confrontar Daryl ou de me confortar. E eu estava com os nervos a flor da pele.

-O rádio, caso precise- disse Rony estendendo o pequeno aparelho que eu agarrei e coloquei sobre a mesa.

Quando eles saíram eu tranquei a porta. Ignorei a mesa pela metade e os  pedaços de madeira espalhados e deixei-me cair na cama perfeitamente posta. Teria tomado um banho para relaxar, mas Daryl ocupava o banheiro no mais absoluto silêncio.

O sono não veio. Mas eu estava emocionalmente cansada. Não atingida pelo que Daryl disse, mas pela forma como falou. E era realmente aquilo que ele achava? Que tudo não passava de uma farsa?

Acordar na margem de um rio, molhada e sem ouvir o coração bater, sem sentir a própria respiração, foi o momento em que mais senti medo em toda minha vida e eu passei por cima disso quando me disseram que eu poderia ajudar. Eu superei. E agora até eu mesma passara a acreditar que era apenas para aliviar a minha consciência.

Que tipo de pessoa eu seria se pudesse salvar uma raça inteira e não fizesse?

Eram perguntas demais, e não sei por quanto tempo fiquei pensando nelas antes de ouvir a porta do banheiro se abrir.

-Que show- eu disse a Daryl.

-Cale a boca- rugiu.

-NÃO! Respondi indignada- NÃO VOU CALAR! E não ache que você tem o direito de chegar aqui bancando o machão depois de ter gritado comigo na frente deles porque você não tem. Se é isso o que você pensa então tudo bem. Ótimo. Parabéns pela ignorância. Mas você guarda pra você porque não tem ninguém interessado nos seus sermões padre Daryl. Você não sabe ouvir, o que diz é lei. Deus o livre eu estar certa alguma vez, porque só você pode. E desculpa se eu falei que te amo na frente dos outros, desculpa se isso fere a sua postura de durão. Essa pose toda.

-Você nunca disse isso pra mim, e vem falar quando estamos no meio de uma discussão governamental, como se não significasse nada- retrucou.

-Mas do que você está falando?

-Desde quando você me ama?

O que?

-O que??

-Você disse ao Alec, que eles iriam tentar tirar algo que você realmente ame.

-E isso não era evidente? Eu berrei mais alto ainda por ele estar estressado por causa daquilo.

Ele arqueou as sobrancelhas.

Não era? Como se ele não tivesse ficado com o meu coração desde o início. Como se não soubesse.

-Não sei, você nunca me disse. Você só disse aos outros.

♡♡Não esqueçam de votar ♡♡

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora