19 • Viagem

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Olhei expectante para o telemóvel, mas as minhas esperanças desvaneceram-se numa milésima de segundo ao ler o que estava escrito no ecrã.

Rita - O que foi?

Eu - O Diogo não pode vir. Ofereceu-se para passar a semana a tomar conta dos primos e agora não pode sair de casa. Juro-te que às vezes apetece-me pedir-lhe para não ser tão boa pessoa.

Rita - Não faz mal, podes não o ter a ele mas tens-me a mim, pode-se dizer que estás muito melhor acompanhada!

Eu - Tens razão, vamos é fazer este dia render alguma coisa!

✳✳✳

Antes de sair, olhei uma última vez para o meu quarto impecavelmente arrumado. Vou sentir falta do meu espaço pessoal porque, afinal de contas, é o reflexo da minha personalidade. Bem, exceto hoje, em que a minha mãe me obrigou a arrumá-lo. Não entendo, se não vou estar no quarto, qual é a necessidade de ele ficar arrumado? Desconfio que a minha mãe já esteja a prever que vai morrer de saudades minhas e quer que o quarto esteja fantástico para me receber quando me for buscar antes do dia previsto. Ou será que ela já está farta de me aturar e vai adotar uma filha para me substituir durante o tempo em que eu estiver fora? Naaa, impossível, eu sou um anjinho muito bem-comportado.

Agora aqui estou eu, prestes a entrar num autocarro cheio de crianças barulhentas e irrequietas. Coragem.

3, 2, 1, aqui vou eu. Que barulheira infernal! Está ali um lugar livre à janela, ótimo!

Quando me ia sentar senti alguém a pisar-me o pé.

Eu - Aii!

O rapaz que me pisou o pé virou-se para trás, meteu-me a língua de fora e continuou a andar como se nada tivesse acontecido.

Eu - Mas que descaramento! As crianças de hoje em dia não têm vergonha nenhuma na cara!

Sentei-me e vi uma rapariga a mastigar uma pastilha de boca aberta e a olhar fixamente para a minha cabeça. Olhei para cima e vi que fiquei num lugar mesmo em baixo do ar-condicionado e que tenho os cabelos todos no ar por causa da corrente de ar. Ótimo.

Vesti o casaco e meti a mochila em cima das pernas para tentar proteger-me do ar fresco. De seguida encostei a cabeça à janela e fechei os olhos numa tentativa de adormecer.

Péssima ideia. Está demasiado barulho para adormecer.

Abri os olhos e assustei-me quando percebi que a rapariga da pastilha elástica ainda me estava a observar. Comecei também a fixá-la até que ela disse:

- Não és muito velha para estar aqui?

Eu - Diz isso à minha mãe.

Rapariga - És daquelas raparigas rebeldes que são expulsas de casa pelos pais?

Eu - Claro que não! Sou super bem-comportada!

Rapariga - Então estás aqui a fazer o quê?

Mas que chata! Será que ela não vai parar de fazer perguntas?

Eu - Também gostava de saber!

Para reforçar que a conversa terminou ali, coloquei os fones nos ouvidos e olhei pela janela.

Infelizmente ela não entendeu a mensagem, porque 5 segundos depois já me estava a cutucar o braço. Tirei os fones e disse-lhe:

- Não, não sou órfã, para o caso de quereres saber. Agora deixa-me em paz com a minha música, por favor.

Ela olhou-me desconfiadamente mas calou-se.

Borboleta Lutadora (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora