51 • Dificuldades

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Olhei para o Gabriel e ele olhou para mim com pânico no olhar. Tenho a certeza que ele não queria que eu visse aquilo. E eu também preferia não ter visto.

Ele pegou no meu braço e arrastou-me para outra rua, deixando o amigo dele com o pacote na mão.

Gabriel - Bianca, eu...

Eu - Desde quando é que te andas a drogar??

Algumas pessoas que andavam a passear por ali ficaram a olhar-me fixamente, mas eu não me importei minimamente.

Gabriel - Eu não me ando a drogar! Eu apenas vendo!

Eu - Ai não?! Então podes explicar-me o cheiro do teu casaco??

Ele levou uma mão ao cabelo e puxou-o fortemente, suspirando.

Gabriel - Ok, eu consumo às vezes. Mas é muito raro, Bianca! E é só quando me oferecem.

Eu - E porque é que andas a vender?

Gabriel - Preciso de dinheiro, Bianca. Eu nunca te contei isto, mas agora é a altura certa para o fazer. O meu pai era um bêbado e um viciado em jogos. Ele gastava todo o dinheiro que ganhava na merda daquele café perto de nossa casa. A minha mãe matava-se a trabalhar para ele ir lá e esbanjar o dinheiro todo. Como podes imaginar, estas situações não duram para sempre. O fígado do meu pai não aguentou mais e ele morreu o ano passado.

Eu - Gabriel... sinto muito.

Gabriel - Outra coisa que também não aguentou foi a nossa conta bancária. O meu pai deixou-nos e levou todo o dinheiro que tínhamos. A minha mãe tentou desenrascar-se, mas não conseguia fazer milagres. Eu tive de arranjar forma de ganhar dinheiro. E prometi a mim mesmo que ia poupar o suficiente para conseguir entrar na universidade, conseguir um emprego e dar à minha mãe a vida que ela merece. É o que estou a tentar fazer, Bianca. Eu sei que é um negócio sujo, mas dá dinheiro. É disso que eu preciso.

Fiquei algum tempo calada, a tentar absorver o que me foi dito, até finalmente conseguir falar:

- Tenho imensa pena que tenhas de passar por tudo isso, Gabriel. Não mereces.

Gabriel - Não te preocupes, não vou andar muito mais tempo nesta vida. Já tenho quase todo o dinheiro de que preciso. Só gostava de contar com o teu apoio, se possível. Estou farto de ter gente à minha volta a julgar-me.

Eu - Claro que tens o meu apoio! O que estás a fazer não é correto, mas eu sei que tu e a tua mãe precisam do dinheiro.

Ele aproximou-se de mim e abraçou-me fortemente. Não estava à espera de ouvir o que ouvi, mas fico bastante aliviada por ele ter confiado em mim o suficiente para me contar o seu passado.

Ficámos algum tempo abraçados, até ele aproximar mais a cabeça do meu pescoço e me sussurrar:

- Obrigado, Bianca. Por tudo. Tu és tão importante para mim, não tens noção.

Eu não disse nada. Não sabia o que dizer. Apenas me deixei estar no conforto daquele abraço.

Gabriel - Podemos ir agora buscar a nossa bebida?

Aliviada, afastei-me dele e inspirei profundamente o ar puro da noite meio enevoada. O cheiro do casaco dele já me estava a começar a enjoar.

Eu - Vamos lá. Conversas sérias dão-me sede.

E eu ainda preciso de coragem para outra conversa séria...

Borboleta Lutadora (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora