25 • Tempestade

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Entrei no refeitório com uma vontade súbita de comer tudo o que me aparecesse à frente. Peguei num copo de leite e num prato e enchi-o de tostas, fatias de tarte, croissants e bolachas. De seguida sentei-me e comecei a engolir a comida à mesma velocidade a que vários pensamentos aleatórios se amontoavam na minha cabeça.

O Gabriel sentou-se à minha frente e eu corei por ter sido apanhada por ele a comer à selvagem. Comecei a comer mais devagar mas depois lembrei-me que não quero saber do que ele pensa de mim e voltei a sugar a minha comida num abrir e fechar de olhos.

Gabriel - Bem, parece que já não comes há uma semana!

Eu (a gritar) - Se vieste para aqui chatear-me podes ir já embora! Hoje não estou com paciência para te aturar!

Ele parou de mastigar e olhou para mim, claramente admirado com o meu tom de voz. Não é de estranhar, até eu fiquei admirada comigo própria. Há quanto tempo é que não tinha uma explosão destas?

Olhei em volta e vi toda a gente a olhar para mim. Envergonhada, baixei a cabeça e murmurei um pedido de desculpas quase inaudível, recomeçando a comer logo de seguida.

Gabriel - Aah... Bem, eu queria falar contigo, mas se calhar não é a melhor altura...

Eu - Podes falar.

Se ele quiser falar mal do Diogo que aproveite para o fazer agora. Ainda estou com a cabeça a mil, por isso nem sequer vou prestar muita atenção ao que ele tenha para dizer.

Gabriel - Quero pedir-te desculpa por tudo o que disse ontem e pela maneira como falei contigo... Não era minha intenção, mas é que... bem, eu e o Diogo temos uns assuntos pendentes e pronto, nunca nos demos muito bem... Mas por mim podemos deixar este assunto de lado, se quiseres. Prometo que não volto a deixar que a nossa zanga interfira novamente. Achas que me podes dar uma oportunidade? Para começarmos de novo?

Eu - Por mim tudo bem, desde que cumpras com o que prometeste.

Gabriel - Obrigado! Prometo que não te vais arrepender!

Levantei-me da mesa, arrumei o meu tabuleiro e saí para a rua, sendo seguida pelo Gabriel.

Gabriel - Amanhã tenho a tarde livre... Achas que podemos fazer alguma coisa juntos?

Eu - Tipo o quê?

Gabriel - Vem ter comigo àquele café mesmo ao lado do mercado por volta das 4. Lanchamos lá e depois decidimos o que fazer. O que achas?

Eu - Parece-me bem.

Gabriel - Então fica combinado! Agora tenho de ir, porta-te bem!

Não sei porquê, mas a ideia de ter planos para amanhã fez com que eu entrasse na sala de artes bastante mais calma que antes. Parece que as más energias que reinavam sobre mim se dissiparam de repente.

Debrucei-me sobre as telas espalhadas na mesa, indecisa no que pintar. Já estou farta de pintar coisas relacionadas com o Diogo. Quer dizer, não estou farta de recordar os nossos momentos, estou é farta das ondas de saudade que me assolam cada vez que penso nele. Quem me dera que ele tivesse vindo comigo, sinto imensa falta dele.

Fiquei alguns minutos a olhar em volta sem que me ocorresse nenhuma ideia, até que decidi sair da sala e procurar por inspiração.

Borboleta Lutadora (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora