Minha Vida Em Horizonte

Capítulo Vinte E Nove - Eu Cansei!

Débora

- Onde você estava até essa hora minha filha. Martha fala preocupada me abraçando bem forte

- Eu estou bem. Não se preocupe. Digo sorrindo separando nossos corpos

- Você está com fome? Quer algo pra beber? Quer que eu prepare o prato que você mais gosta? Ronda a cozinha inteira atrapalhada enxugando as lágrimas que percorria pelo seu rosto

- Não precisa, eu não quero nada. O que eu quero é tomar um banho bem gostoso e ir pra minha cama que deve estar me esperando.
- Boa noite Martha. Dou um beijo na sua bochecha fofa

Saio da cozinha directamente ao quarto estranhando por não ver ninguém pela casa, apenas a Martha. O resto do pessoal ainda não vi, nem a minha mãe.

Eu sou uma besta mesmo, com certeza os pais não estão nem aí pra mim. Mas mesmo assim, ainda continuo alimentando esperanças que eles vão mudar e vão demonstrar o amor e o carinho que sentem por mim.

Eu não quero ficar em discussões com a Martha, nem vou insistir em me falar seus segredos. Apenas vou tentar esquecer e fingir que nada aconteceu. Mas vou dar um jeito de descobrir sem que ela perceba, afinal, tem a ver comigo.

Entro no banheiro, sentindo a água penetrar os poros da minha pele. Me deixo levar pela música que coloquei no fundo, lembrando dos momentos bons do dia de hoje.

Tive um "encontro" com o Daniel. É pela segunda vez que ficamos assim, tão próximos, sozinhos trocando sentimentos, sensações, felicidades, angústias de cada um.

Saio do banheiro sorrindo de tão feliz que estou.

- Ahh
Que susto, mãe !
- De onde você entrou? Eu não te ouvi. Digo me recuperando do susto que ela me deu. Parecia um fantasma sentado na minha cama

- Entrei pela porta. Queria que entrasse de onde, da janela? Gargalha
- Você é uma burra mesmo, nem sei porquê estuda. Retira suas palavras duras e frias de sua boca tirando todo meu ânimo

- O que você quer comigo? Indago baixo sem a olhar

- Eu vou ser breve. Não vou ficar perdendo meu tempo com um traste feito você. Aproxima-se de mim e me encara
- Vista - se logo e venha para o escritório do seu pai. Seja rápida e não nos faça esperar. Sai do quarto empurrando tudo que vê em sua frente

Fico parada, tentando entender o tratamento que ela me dá.
Porquê é que sempre que fala comigo me machuca, me ofende, me humilha. Me deixa triste, desanimada sem forças nem de viver.

Visto meu pijama e roupão de seda cinza. Desço do quarto indo ao escritório emburrada.

- Mandou me chamar! Solto as palavras friamente

- Mandei sim, pode sentar filha.
- O que está acontecendo querida. Meu pai me encara

- Como assim? Não estou entendendo. Digo com um sorriso torto por causa da sua pergunta

- Pára de fingir e responda logo o que o seu pai te perguntou. Minha mãe grita

- Vocês ainda me perguntam o que está acontecendo? Será que não conseguem enxergar que eu estou sofrendo; eu cansei de ser invisível pra vocês; eu cansei de seguir ordens vossas e nunca opinar nem reclamar; eu cansei de ser ofendida e humilhada por você mãe; eu cansei de fazer as coisas para agradar você pai; eu cansei de nunca receber um abraço vosso, nem sequer um beijo de boa noite; eu cansei de ser exigida mais, mais, mais e nunca receber; eu cansei de viver uma vida assim. Chega! Eu estou farta. Grito com as lágrimas prontas para escorrerem no meu rosto.

- Débora! O que você está falando? Indaga minha mãe sorrindo parva

- Estou falando a verdade. E quer saber, a partir de amanhã, eu não vou mais a faculdade, não vou terminar aquele curso ridículo. Eu estou desistindo. Tiro as palavras de forma seca e fria
- Como assim vai desistir? Indaga meu pai espantado se levantando da cadeira com as sobrancelhas erguidas

- É isso que você ouviu. Eu estou deixando o curso que você me obriga em fazer. Levanto pisando duro o chão
- Se você fizer isso, a gente corta a sua mesada. Minha mãe diz

- Pode cortar, eu não me importo. Pra vocês, o dinheiro fala mais alto não é?
- Pois pra mim não. Saio dali furiosa enxugando as lágrimas pisando duro o chão onde me direcciono até ao quarto.

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