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Eu o escutava atenta.

Cadu: Esse cara o Gilbert, chefe do morro, era o meu pai, ele engravidou a minha mãe, quando era novinha, e mandou ela guardar segredo, ou então mataria minha vó, e ela. Minha vó morreu quando eu tinha 06 anos, ah eu amava aquela coroa! - ele deu uma pausa - Nessa altura minha mãe já tinha a Mari, a gente nunca soube quem era o pai, ele sumiu no mundo. Minha veia nunca foi atrás, disse que se sustentou um sozinha, dois não era impossível. Que homem só faz peso na terra! Depois quando eu tava moleque, o Gilbert começou a se aproximar, vai saber... Peso na consciência, se pá. Eu sempre fui o privilegiado, mas ralava pra caralho como todo mundo! Ele nunca pensou em ninguém nesse morro, só no lazer dele! Foi então numa discussão com a minha mãe, que foi na boca me tirar de lá, ele confessou que era meu pai! O sangue ferveu, óbvio! Mas nunca julguei minha veia, eu sabia como o Gilbert era, e não ia cair no papo dele! A partir dai, o ódio só foi aumentando, dia apos dia eu lutava pelo morro, foi então que me aliei ao Dodô, soldado aqui da Rocinha feito eu. Bolamos um confronto, e matei o Gilbert! Um tiro na testa - sua voz era fria, sem arrependimento - E outro no coração! POW POW! - ele imitou um revólver com os dedos - Lembro até hoje "Carlos, eu sou teu pai, meu filho!" , foda-se! Eu tomei a Rocinha, e até hoje dou minha vida por esse lugar, UPP é o caralho! O Dodô jurou vingança, não se contentou em ser "só" meu aliado, correu pro Antares e se virou por lá!
Samantha: Nossa, eu... Nem sei o que falar! - murmurei, olhando o mesmo.
Cadu: Não diz nada - sorriu, fazendo cafuné em mim - Mas sabe quer saber quem é o Cadu de verdade?
Eu assenti.
Cadu: O Cadu é um homem com alma de moleque, que já passou e já viu coisa que até o diabo duvida! Que sonha em ter um filho, uma familia da hora e dar todo o carinho que nunca recebeu de um pai! Que quer ver essa molecada daqui feliz, no caminho certo. Sei que talvez, eu não consiga isso comandando um morro, não é uma boa influência! Mas faço o que posso, to na luta também, pela sobrevivência!
Senti meus olhos lacrimejarem, o encarei com orgulho.
Samantha: Tu é o cara, meu amor! - segurei seu rosto - Nunca imaginei que sua historia fosse assim!
Cadu: Tô ligado, mas na moral, nunca contei isso pra nenhuma mina! To te confiando a minha historia! - sorriu e me abraçou de lado.
Samantha: Segredo só nosso! - pisquei, mordiscando minha fatia.
Cadu: Ei, tu quer casar comigo? - riu, brincando com o meu cabelo.
Samantha: Eu caso, no dia que tu tiver seu nome limpo, sem crimes, sem tráfico! - falei séria.
Cadu: Coé, pô! - riu sem-graça.
Samantha: É, bonitinho - assenti com a cabeça - Eu aceito sua "profissão", mas não concordo. Não quero viver foragida, ou ter um marido foragido e envolvido nisso... Saber que a qualquer momento posso te perder, viver com medo!
Cadu: Então pode escolher a igreja! - selou nossos lábios.
Samantha: Para de zoar! - rolei os olhos.
Cadu: Bota um F, porra! Ainda vou colocar uma aliança nesse dedo! - falou, entrelaçando nossos dedos.
Samantha: Duvido! - ri.

Terminamos de comer a pizza e ficamos conversando, até tarde. Logo o Cadu pegou no sono, levei as coisas para a cozinha, ajeitei a cama, fui até o banheiro para escovar os dentes e fazer minhas necessidades, logo apaguei as luzes, voltando para o quarto. Deitei do lado do meu amor, abraçando o mesmo, e peguei no sono.

AO SUBIR O MORRO (F!)Onde histórias criam vida. Descubra agora