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Tiago narrando:

Cheguei na boca de cara, tava sem pó fazia dois dias, já estava sentindo os efeitos da abstinência.
Tiago: Dodô ta ai? - perguntei para o vapor, parado na porta.
Ele assentiu. Abri a porta e entrei na sala do Dodô, ele estava com uma balança pesando as drogas.

Dodô: Titi, meu parça! - falou irônico, dando uma rápida encarada para mim.
Tiago: Tá aqui! - joguei um envelope de dinheiro na mesa.
Dodô: Que porra é essa? - franziu o cenho.
Tiago: Sua grana! - respondi.
Dodô abriu o envelope sem presa, e um sorriso surgiu em seus lábios ao contar as notas de R$100,00.
Dodô: Quanto tem aqui? - me encarou.
Tiago: Dois mil, caralho! - suspirei impaciente.
Dodô: Isso aqui não paga nem os Red Bull que tu bancava nos baile! - balançou a cabeça.
Tiago: Espera, eu achei que você... - meu coração acelerou.
Dodô: Achou errado, playboy do caralho! Eu quero cada centavo que tu me deve, tá entendendo?! - se levantou, vindo até a mim.
Tiago: Porra, a gente é parceiro... - mordi os labios, nervoso.
Dodô: Parceiro?! - riu irônico - Eu comi tua mina! Corno da porra! - me empurrou - Eu quero que tu e teu amiguinho paguem tudo que me devem, morô?!
Tiago: Sem condição, cara! - balancei a cabeça.
Dodô: Ou eu mato a vadia escrota da tua irmã! E vem a mamãe de brinde!
Tiago: Relaxa! Eu vou pagar, porra! - exclamei, fazendo sinal de rendição com as mãos.
Dodô: To bem relaxado, mermão - sorriu sarcástico - Agora pode vazar!
Tiago: Jaé! - murmurei, indo em direção a porta.
Dodô: Ah, a Bia mandou um beijo! - senti o deboche em sua voz.

Não respondi, sai da boca com sangue nos olhos, eu iria acabar com aquele desgraçado. Liguei no celular do Bernardo várias vezes, mas não obtive retorno. Peguei meu carro e desci pra pista, indo para a casa.
Entrei pela porta da frente, já passava do 12:00hr, e com certeza a Ju ainda estava dormindo, ao entrar no meu quarto, a encontrei sentada na minha cama com a minha mãe.

Tiago: E ai! - exclamei surpreso.
Juliana: Oi Ti - murmurou, seus olhos estavam vermelhos.
Grazi: Tiago, nós precisamos conversar seriamente! - me encarou.
Tiago: Como assim, mãe? Ta doida? - dei risada.
Grazi: Doida eu estava quando dei liberdade pra vocês! - falou com rancor - Eu já sei de tudo. Já falei com a Lavínia e com o Marcos!
Eu e Juliana nos entre olhamos, engoli em seco.
Tiago: Tudo o que, dona Graziela? - dei um riso fraco.
Grazi: Para de graça, Tiago! - alterou a voz, me encarando - Você roubou dinheiro da minha poupança. Para pagar drogas!
Tiago: Eu não peguei nada e...
Juliana: Tiago - me interrompeu - Para! A mamãe já sabe, confessa logo!
Tiago: Ta legal - assenti - Eu tava devendo para um amigo e...
Grazi: Chega de mentiras, meu Deus! - suspirou impaciente - Vocês estão frequentando favela, e usando drogas! O Bernardo foi expulso de casa, por esse motivo!
Tiago: Mãe, eu... - senti meu mundo desabar.
Grazi: EU DEI O MEU MELHOR A VIDA INTEIRA PRA VOCÊS! ESTUDEI, BATALHEI E QUANTAS VEZES ME HUMILHEI, PRA DAR UM CELULAR BOM, UMA ROUPINHA NOVA! - ela berrava - E AGORA, EU SOU ROUBADA PELO OS MEUS PRÓPRIOS FILHOS. A MINHA FILHA DANDO PRA BANDIDO, E O MEU FILHO SE ENDIVIDANDO COM DROGAS!
Juliana: Mãe, me desculpa! - falou entre soluços.
Grazi: EU SABIA QUE AQUELA BEATRIZ NÃO ERA BOA COISA! - deu uma breve pausa, ignorando a Ju - MAS A TROUXONA AQUI, NÃO QUIS JULGAR, PENSOU NA FELICIDADE DO FILHINHO, COMO SEMPRE!
Tiago: Mãe, eu posso sair de casa, beleza? - falei impaciente.
Grazi: Não, isso séria cômodo demais pra ti - balançou a cabeça - Vocês vão para São Paulo, morar com o seu pai!
Juliana: Eu não vou para lugar algum, mãe! - falou, se levantando.
Grazi: VOCÊ VAI SIM, JULIANA! EU MANDO EM VOCÊ! - berrou, a segurando pelo o pulso.
Tiago: Mãe - segurei seu braço - Vai com calma...
Grazi: Cala a boca, Tiago! - me empurrou.
A Ju já foi se soltando, indo para o seu quarto, mas foi impedida, com a minha mãe lhe puxando pelos
cabelos.
Grazi: EU VOU FAZER O QUE EU DEVIA TER FEITO HÁ MUITO TEMPO! TE DAR UMA BOA SURRA! - a jogou na cama.
Juliana: MÃE, POR FAVOR! - colocou as mãos na frente do rosto, choramingando.
Foi tudo muito rápido, minha mãe tirou o cinto da calça, e sem k.o desceu nas pernas da Juliana, que berrava entre o choro. Eu não interferi, não tava afim de apanhar, deixei a treta rolar.

Juliana: PARA! TA DOENDO! - gritava.
Grazi: QUANDO O TRAFICANTE TE BATE, TU NÃO CHORA, NÉ!
A surra durou dolorosos minutos.
Grazi: VOCÊ SÓ ME DECEPCIONA! - finalizou, lhe dando um tapa no rosto.
A Ju não falou nada, apenas soluçava fundo, seu corpo estava todo marcado. Minha mãe a encarou por um instante, e depois saiu do quarto, em silêncio. Com certeza iria para o seu, se entupir de remédios e dormir.
Tiago: Maninha - me sentei ao seu lado.
Juliana: Me deixa, Tiago! - murmurou.
Tiago: Não pô - segurei sua nuca - Deita aqui no meu ombro, vem cá!
Ela apenas deitou, e permanecemos em silêncio.

AO SUBIR O MORRO (F!)Onde histórias criam vida. Descubra agora