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Não dei ouvidos, eu sabia que poderia entrar ali dentro e ser pega pelo Dodô, dificultando muito mais minha liberdade, mas não me sentiria em paz, se deixasse o Daleste sozinho, sem ajuda nenhuma. Entrei ofegante no barraco, meu coração palpitou ao vê-lo ali jogado no chão, seus olhos ainda entreabertos, e respirando com muita dificuldade. Ao seu lado estava o Dodô, parecia estar morto.

Samantha: Daleste, não! - me agachei ao seu lado.
Daleste: Sam... Samantha - sorriu forçado, levando uma mão até meu rosto.
Samantha: Não... Não diz nada - pedi, em prantos - Eu vou chamar ajuda, tudo vai ficar bem!
Daleste: Não, fica - pediu, com a voz baixa - Eu já to indo... Tu viu, eu matei esse desgraçado! - falou tossindo, enquanto cuspia sangue.
Samantha: Eu... Eu vi, Daleste - alisei seu rosto - Não me deixa, por favor! - minha voz estava embargada.
Daleste: Tu vai ficar bem, guerreira - segurou minha mão - E... Esse guerreiro ai, vai te dar muito orgulho! - alisou minha barriga.
Samantha: Guerreiro? Menino, é? - ri baixo.
Daleste: Ta ligada, né - sorriu, apertando minha mão.
Ele começou a tossir compulsivamente, apertando minha mão com toda a força possível.
Samantha: Daleste! Daleste! - o chamei.
Daleste: To aqui ainda - sua voz estava super baixa - Jorge Maicon...
Samantha: O que? - franzi o cenho.
Daleste: Meu nome! - seus olhos se fecharam - Eu te amo!
Samantha: Eu também te amo! - soltei sua mão.
Então ele se foi, e minha garganta trancou, parecia que eu ia vomitar meu coração. Me debrucei sobre seu corpo, chorando sem cessar.
Orelha: ELA TÁ AQUI... DODÔ?! - adentrou no barraco.
Cadu: Parece que tá morto, porra! - ouvi sua voz, e senti um frio na barriga.
Samantha: O Daleste morreu! - falei diretamente para o Orelha.
Orelha: Eu... Eu sinto muito, pô. Vem aqui!- me levantou pela cintura.
Cadu ficou olhando, mas nem olhei sequer em seu rosto.
Orelha: Vamo vazar daqui! Eu mando os vapor levar o corpo dele! - falou pra mim.

Assenti, enxuguei as lagrimas e fui andando apoiada no Orelha. Senti o Cadu nos acompanhar com os olhos, mas isso não me importava.
Entrei no carro junto do Orelha, quando estávamos saindo da estradinha de terra, o Cadu buzinou, avisando que estava bem atrás de nós.

Orelha: O pesadelo já era, gata! Acabou! - segurou minha mão, com a sua mão esquerda.
Samantha: O Daleste - dei uma pausa, ainda estava chorando - Não podia ter morrido!
Orelha: Deus sabe o que faz, neguinha - murmurou - E tu? Tá bem?
Samantha: É, apesar de tudo, to sim - assenti - Só quero minha casa, minha cama!
Orelha: Posso dormir contigo hoje? - me olhou de canto.
Samantha: Claro! - sorri.
Voltamos em silêncio para a Rocinha, paramos em frente da minha casa, sorte que o Orelha havia pegado uma nova chave com o seu tio. Desci do carro, dei de cara com o Cadu encostado em seu carro, me encarando.
Orelha: Pô, chefe - falou para ele - Amanhã nois troca ideia, vou entrar com a Samantha!
Cadu: Tu vai dormir ai, mano? - arqueou as sobrancelhas, impaciente.
Orelha: Vou, pô - assentiu.
Cadu: Tá doido, irmão? Me talaricar na cara dura? - riu nervoso, se aproximando do Orelha.
Samantha: VAI SE FODER, CADU! NÃO VEM DÁ SHOWZINHO NÃO! - entrei no meio dos dois - NÃO TEMOS MAIS NADA!
Cadu: Não to falando contigo, Samantha! - me empurrou.
Samantha: MAS EU TO! - gritei - Bora, Orelha!
Cadu: Tá certo - deu de ombros - Vai pro inferno os dois, desgraça! - chutou a porta do seu carro.
Samantha: Não muda nunca, mermo! - ri irônica.
Cadu: NUM FODE! - entrou no carro.
Segurei a mão do Orelha, e entramos. O otário saiu cantando pneus. Só faltei beijar o chão quando abri a porta, tudo estava do jeitinho que eu havia deixado.
Samantha: Ah que saudade! - me joguei no sofá.
Orelha: Imagino - sorriu, me olhando.
Samantha: Valeu por tudo, Orelha! - sorri.
Orelha: Tu sabe que sou amarradão em ti - piscou.

Assenti, meu corpo pedia um banho urgente. Segui para o banheiro, onde fiquei por longos minutos, debaixo da água quentinha, aproveitei e lavei o cabelo, passei hidratante corporal, desodorante, vesti meu pijama confortável, calcei minhas pantufas e, enrolei uma toalha no cabelo, para secar o mesmo. Fui para a cozinha, onde o Orelha estava, preparando algo pra comer.

Samantha: Tá fazendo o que aí? - perguntei, ficando ao seu lado no fogão.
Orelha: Macarrão, né - riu.
Samantha: To cagada de fome, sabia! - sorri de canto.
Orelha: Tu ta bem magrela, novinha - me analisou com os olhos.
Samantha: É - dei de ombros, enquanto alisava a barriga.
Orelha: E esse bebê ai? - sorriu.
Samantha: Acho que vai bem, cada dia sinto uma nova mudança!
Orelha: Dahora! - assentiu.
Ele terminou de fazer o molho, e após temperar o macarrão, colocou na mesa. Fiz um suco de laranja, nos sentamos e comemos em silêncio, repeti três vezes.
Orelha: Ai, vou tomar uma ducha, jaé! - falou, se levantando da mesa.
Samantha: Ok!

Enquanto isso escovei meus dentes, terminei de secar o cabelo com o secador, e organizei a louça na pia, para lavar no dia seguinte.
Me deitei na cama, até que enfim aquele colchão duro não fazia mais parte dos meus dias. O Orelha entrou no quarto de cueca, enxugando os cabelos, que corpo era aquele, Deus.

Orelha: Ta cansada, né? - fez bico.
Samantha: Demais! - suspirei.
Orelha: Poxa - apagou a luz e, se jogou na cama.
Samantha: Boa noite, Orelha - me virei de canto.
Orelha: To te querendo - passou a mão na minha cintura, dando um cheiro no meu pescoço.
Samantha: Agora não, Orelha! - me afastei, cobrindo o restante do meu corpo com o edredom.
Orelha: Pô, por que cara? - resmungou.
Samantha: Deve ser porque, eu acabei de sair de um sequestro, perdi um amigo, minha vida deu um giro de 360 graus, só por isso! - falei, já fechando os olhos.
Ele não disse nada, e se disse não deu pra ouvir, então dormi.

(...)

Acordei na manhã seguinte com o sol invadindo meus olhos, provavelmente já se passava das 12:00hr, o Orelha não estava mais na cama. Me levantei totalmente sem vontade, peguei a toalha e fui para a ducha, onde fiquei por alguns minutos, passei meu hidratante corporal, desodorante, meu perfume biografia, vesti um cropped branco de alcinha, um shorts jeans rosa claro, cintura alta, calcei minhas Havaianas, passei apenas uma base no rosto, de cobertura baixa, para disfarçar as olheiras, dei uma escovada rápida na franja.

Ao entrar na cozinha, encontrei uma caixa em cima da mesa, e um bilhete sobre ela. Desembrulhei a mesma, e quase pari meu filho ali mesmo, quando vi que era uma embalagem de Iphone 5s dourado. Li o bilhete, que dizia assim: ''Bom dia, Samantha. Pô tive que sair vazado logo cedo, ai passando no shopping lembrei de tu, tu vai precisar, né?! Mais tarde a gente se vê. Um beijo no canto da boca, Orelha.''
Ai mas é um fofo mexxxxxmo! Até esqueci minha fome, acho que passei umas duas horas baixando os aplicativos, e fuçando naquela belezinha, eu tinha um Iphone, mas tanto tempo longe do meu maior vício, me fez desaprender a mexer. Mas quando meu estomago roncou, fui pro fogão, preparar qualquer coisa. Já se passava das 15:30hr, quando terminei de limpar toda a casa, que por sinal, estava imunda.
Me joguei no sofá, pensei em ir até a loja onde eu trabalho ou trabalhava, mas melhor deixar pra ir amanhã cedo, meu corpo ainda pedia descanso. Peguei meu celular e disquei o número da Tainá, que eu sabia de cor, estava morrendo de saudades.

IDL:
Tainá: Alô? Quem é?
Samantha: Oi gostosa, tudo bem?
Tainá: Mas que por... SAMANTHA?! - escandalosa.
Samantha: Amiga, que saudades, pretinha!
Tainá: Meu Deus! Onde tu tá, mulher?
Samantha: Calma, to em casa já. Vem aqui agora! Precisamos conversar.
Tainá: Obvio, né mona! Marca um dez ai, to descendo. - falou afobada.
Samantha: Jaé! - desliguei.
FDL.

Enquanto esperava a Tainá, fiquei atualizando minhas redes sociais, que estava abandonada.

AO SUBIR O MORRO (F!)Onde histórias criam vida. Descubra agora