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Estela Wilson
Noite / 10:47PM
Segunda-feira
Dentro do carro junto com Justin.

— Você pode me explicar o que está acontecendo? E por que você estava enfrente aquela delegacia?

   Justin simplesmente me ligou e sem delongas disse que precisava da minha ajuda. Ele não quis dizer mais nada disso além de me dizer onde estava. Explicando para minha mãe que precisava ir ajudar um amigo, ela me deu meia hora para voltar em casa. Mas quando vi seu estado, percebi que a meia hora que ela me deu, não daria para resolver o problema que ele tinha.

  A delegacia onde ele estava ficava bem distante da minha casa. Na mesma hora pensei, o que ele poderia ter feito para parar naquele lugar? Só consegui chegar através do GPS caso contrário, eu não teria chegado no tempo que gastei.

  Parei o carro ao lado dele que estava sentado no meio fio com as duas mãos na cabeça. Não demorou para Justin entrar e bufar parecendo estar bastante nervoso. Reforcei as mãos sobre o volante e deixei que ele tomasse iniciativa para falar alguma coisa. Eu não sabia do que se tratava, e pelo o que conheço dele, se eu falasse qualquer coisa que o deixasse desconfortável, seria mais um motivo para ele não me dar ouvidos.

  Agora estamos indo para a casa dele. E eu ainda não sei o que aconteceu.

— Minha mãe foi presa. — Disse sem me encarar. Já estou me acostumando com isso. — Quando cheguei em casa ela não estava mais por lá. Ela foi presa junto com mais dois homens. Minha preocupação nem era por ela ter sido presa, mas sim aonde estava meu irmão.

Nós trocamos olhares rápidos.

— Perguntei ao policial onde estava o Jaxon, mas ele disse que...que quando chegaram não encontraram mais ninguém além da Pattie e os outros dois homens.

— Justin...Sua mãe, ela não... — Ele me cortou negando o que eu poderia ter dito.

— Se ela vendeu o Jaxon? — Assenti já com medo da sua resposta. — Eu espero de verdade que não.

— Você conseguiu falar com ela na delegacia?

— Consegui, mas continuou do mesmo jeito. Ela disse que não se lembra.

— Não se lembra dele? — Parei o carro no semáforo aproveitando a deixa para olha-lo e esperar por sua resposta.

— A última vez que ela o viu foi no jardim.

— Meu Deus! — Voltei a olhar para frente.

— Eu não sei por onde começar. Liguei para os meus amigos, mas nenhum atendeu... Então te liguei.

— Ainda bem. Temos a vizinhança toda para procurar seu irmão. — Virei a esquina da sua casa. — Não tem ninguém que possa estar com ele?

— Teria a vizinha do lado, mas ela estava na minha casa quando encontrei os policiais na porta me esperando.

— Espero que ela tenha nome.

— Se não me engano é Beth é o nome dela. — Respondeu antes de descermos do carro. — Falei poucas vezes com ela. 

— E se nesse meio tempo alguém o encontrou e veio entrega-lo deixando com essa senhora? Podemos ir até a casa dela pra vermos. 

   Travei o carro e o encarei pronta para começar as buscas. Mas ele não desceu. Seu corpo ainda se encontrava na mesma posição de segundos atrás.

— Vamos Justin.

— E se ele não estiver lá? E se não estiver em lugar nenhum? — Perguntou.

   Olhei para os dois lados com as mãos na cintura a procura de alguma resposta que o fizesse descer do carro e criasse um pouco de esperança.

— Bom, você confia em mim? — Perguntei e isso fez ele levantar o olhar e fixar em mim, mas não significa que obtive resposta. — A gente vai até a casa da sua vizinha e vai perguntar mais uma vez sobre o Jaxon, e se ela não tiver notícias, não iremos parar até que nós encontremos ele.

     A porta do carro foi aberta, e segundos depois ele já estava ao meu lado com uma das suas mãos no bolso.

     A casa da tal vizinha Beth estava silenciosa. Olhei com a testa franzida para o Justin antes de tocar a campainha. Foram alguns segundos antes da porta ser aberta e eu quase dar um pulo para trás ao encontrar uma senhora com seus bobys na cabeça, eles estavam muito grandes. Eu realmente me assustei.

— Justin? — Sua voz saiu um pouco baixa, talvez na tentativa de reconhece-lo.

— Jaxon está com a senhora? — Sua pergunta saiu mais como uma afirmação para si mesmo enquanto esperava pela resposta dela.

— Não o vi hoje ainda. Você não conseguiu encontrá-lo? — Perguntou pegando seu gato preto antes que ele saísse para a rua.

— Não! Eu pensei que poderia estar com a senhora nesse meio tempo. Obrigado. — Disse dando as costas. — Sabia que seria perca de tempo vindo aqui.

  Dei um leve tchauzinho para senhora que ainda nos observava antes de descer por completo a escada da sua casa.

— Você é sempre muito educado. — Falei o alcançando. — Fui irônica.

— Que se foda, Estela. Eu te chamei aqui para me ajudar a procurar meu irmão e não fazer piadinhas sem graça.

   Atravessamos a rua e fomos na próxima casa. Bom, eu estava com um pouco de esperança de encontra-lo nas redondezas.

                                  [•••]

— Não, o que aconteceu? — Um homem que mora enfrente a casa do Justin perguntou. Mas ele deu as costas mais uma vez e saiu.

                                  [•••]

— Não, não tem nenhuma criança aqui. — Um casal de jovens responderam.

                                  [•••]

— Hoje praticamente não ouvi o choro dele. Aconteceu alguma coisa? — Uma garota que aparentava ter uns dezessete anos disse.

                                  [•••]

— Você já chamou a polícia? — Outra idosa perguntou. Justin estava quase explodindo de tanta raiva. E ele sempre saia sem agradecer, ficando esse papel a mim que sempre saia com um sorriso sem graça pela maneira que ele agia com as pessoas.

                                  [•••]

— Que merda, por que isso foi acontecer logo comigo? — Justin se sentou na escada da sua casa colocou as suas mãos no rosto, e respirou fundo. — Ninguém viu ou ouviu alguma coisa nessa merda de rua.

— Precisamos ter mais um pouco de calma. Vê se eu estou certa, ele tem apenas dois anos, sua mãe só se lembra dele no jardim e de mais nada? — Foram as únicas coisas que ele me contou, e eu só queria ter certeza de que não faltava nada.

— Demorou para perceber isso?

— Claro que não. — Me juntei a ele. — Você não sabe pra onde sua mãe foi hoje, antes de tudo acontecer?

— Por que eu deveria saber? Eu não fico colado nela, só pra você ficar sabendo.

— Assim você não ajuda, Justin. Está bem tarde, e se não tivermos pelo menos um pouco de noção de onde ele possa estar, as coisas irão ficar bem piores.

  Ele não disse nada. Deve ter percebido que eu estava certa.
 
  Essa raiva que Justin estava sentindo não iria ajudar absolutamente em nada. Eu até entendo esse medo dele de que algo possa acontecer com o seu irmão, mas se ele manter pelo menos 1℅ de calma eu iria agradecer muito.

— Você não tem nenhum parente que sua mãe possa ter ido hoje fazer uma visita? — Ele riu, mas riu de uma maneira debochada.

— E você acha que minha mãe tem cara de quem faz visitas? — Eu o encarei seria. — Não tem ninguém, minha família mora no Canadá.

— Bom, o jeito vai ter que procurar um pouco mais distante. — Falei com o controle do carro em mãos.

— Mas acontece que eu não tenho noção por onde começar.

   Pela primeira vez eu vi o seu semblante triste. Seus olhos me olhavam mostrando desespero, e aquilo com certeza não era de se acontecer na frente de qualquer pessoa. Justin se mostra muito duro na frente de todos, seus sentimentos que o deixa desamparado deve se mostrar só para ele mesmo.

— Vamos fazer assim. — Me levantei. — Você procura nas duas ruas atrás do campo, que eu vou nessa direção. — Apontei na direção da minha casa.

  Ele se levantou já começando a andar na direção contrária do que eu havia falado. Balancei a cabeça e fui para a outra direção.

— Justin? — Ele se virou para mim. — Nós vamos encontrar ele, Ok?

    Não esperei uma resposta dele, até por que quanto antes irmos à procura do Jaxon, mais rápido nós o acharemos. Quando eu já estava longe o suficiente da casa do Justin, comecei a pedir a Deus que me ajudasse. Jaxon pode estar em qualquer lugar com qualquer pessoa, e a gente não fazia ideia aonde ele poderia estar.

    Eu tinha que crer e ouvir a voz de Deus enquanto ainda assim tentava imaginar qual lugar ele poderia estar. O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem enquanto eu caminhava olhando para o mesmo. Minha voz era a única na rua. Eu realmente estava orando em voz alta, e não me envergonho se tiver alguém me ouvindo.

— Pai, nos ajude a encontrar o Jaxon. — Falei antes do meu celular começar a tocar. Aquilo me assustou. — Encontrou ele?

— Ainda não, e você, tem alguma novidade? — Justin perguntou do outro lado da linha.

— Nada, ainda. Mas eu creio que Deus vai nos ajudar. — Falei parando na esquina e olhando para os dois lados. — Ele vai nos levar até o Jaxon antes mesmo de dar meia noite.

— Não fale baboseira, Estela.— Ele parecia ter revirado os olhos. — Continua procurando. Qualquer coisa me liga.

— Você vai ver Justin, Deus vai te mostrar o que eu te disse... Antes da meia noite.

— Tchau!

   Ele desligou a ligação e na mesma hora algo me tocou quando vi um pequeno grupo de mendigos na próxima rua. Aquilo estava me incomodando, não os mendigos, mas sim o que eu estava sentindo. Era como se Deus tivesse dizendo: Vá até lá.
 
    Resisti um pouco, e aquela “voz” no meu coração estava mais intensa. Vá até lá, não se preocupe. Caminhei com passos lentos e praticamente com o coração na mão. Tinha cerca de três homens sentados por debaixo de alguns papelões. Uma pequena lata estava com fogo, parecia estar sendo usada para aquecer o local.

  Quando um dos homens virou o rosto para a minha direção, meus pés pararam no mesmo instante. A ideia de dar pra trás não saía da minha cabeça. Mas, eu tinha que confiar em Deus, Ele não iria deixar que nada acontecesse comigo. Com mais alguns passos a frente e firmes, agora os três olhavam para mim.

— Quer alguma coisa, mocinha? — O homem que parecia ser o mais velho perguntou.

— Oi. — Sorri sem jeito. — Desculpe incomodar vocês, mas eu estou a procura de um garotinho loirinho, ele tem dois anos. Ele tem esse tamanho aqui, e o irmão dele está desesperado a procura dele, vocês por acaso não viram ele ou ouviu alguma coisa?

   Os três homens se olharam rapidamente e voltaram a me olhar. Tinha um silêncio ali, além do barulho das folha queimando na lata de fogo. Devagar, um dos homens esticou o braço para trás e voltou a me olhar.

— Seria esse aqui? — Disse tirando o pedaço de tecido que usavam como cobertor.

  Dei um passo enorme a frente com o meu coração quase saindo pela a boca quando encontrei Jaxon dormindo apenas com uma frauda e uma regata. Me abaixei até ele e passei  minha mão em seus cabelos, respirando agora aliviada.

— Graças a Deus. Obrigada pai! — Sussurrei agradecendo olhando para ele.

— Nós o encontramos a duas ruas daqui. — O mais novo disse. — Ele estava chorando muito então o pegamos e damos alguns biscoitos.

— Você é o que dele? Conhece a mãe dele?

— Não não, é irmão de um amigo meu. Estamos já um tempo procurando por ele. Meu Deus, Jaxon!

— Não se preocupe, ele está bem. — O mais velho disse se levantando e ficando ao meu lado.

— Que Deus os abençoe. Se eu puder ajudar em alguma coisa.

— Quem sabe algum dia. Mas hoje não precisamos de nada. — O mais novo disse sorrindo. — Ficamos felizes por entregá-lo em segurança.

   Peguei o Jaxon no colo e o mesmo continuou dormindo. Me despedi dos moradores de rua e comecei a fazer o caminho para a casa do Justin.
  
   Com uma mão livre, peguei com dificuldade meu celular e coloquei o número do Justin para chamar. Em poucos segundos ele atendeu com uma esperança na voz.

— Me fala que o encontrou, porque eu já não sei mais aonde procurar.

— Eu te disse que Deus iria nos levar até o Jaxon antes da meia noite. — Falei sorrindo de orelha a orelha. — E agora são que horas, Justin?

— 23:57...Onde vocês dois estão? Ele está bem ? Na onde ele estava? Me fala, Estela!

— Ei, calma. Estou indo para a sua casa. Corre pra lá!

— Tá bom! Mas você está com ele mesmo? Ele tá bem? Estela, me responde. — Dava pra ouvir seus passos correndo pela rua e sua respiração ofegante.

— Calma, tá tudo bem. — Falei. — Mas você não vai agradecer...— Ele me interrompeu.

— Obrigado.

— Ei, não pra mim. Mas, pra Deus! Foi ele quem me levou até o seu irmão.

Ele bufou.

— O que eu deveria dizer?

— Um “Obrigado, Deus"? — Falei meio óbvio.

— Eu já te agradeci Estela. Já estou quase em casa. Toma cuidado!




Oi pessoinhas de Deus
Jaxon está bem🙆
Estou feliz por isso❤
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