A saia longa de Suzana não era a melhor opção para uma corrida desesperada. A porta da casa estava escancarada, elas entraram sem medo, olharam pela cozinha, pela sala, no quintal, não havia ninguém.
- Raphael?- Suzana chamou
Demorou um tempo mas passos foram escutados, as duas se prepararam para sair correndo mas quem apareceu, foi o garoto enrolado em uma toalha aos pés da escada.
- Desculpa!- Disse Suzana- Você me deu algumas correspondências que pertenciam a sua mãe! E a porta estava aberta, nos entramos.
- Eu sou muito burro!- Ele olhou para as duas- Não tem problema, esperem um segundo.- Ele voltou correndo para o quarto
As duas ficaram em pé, preocupadas. O que aquela carta queria dizer a final?
Enquanto isso Raphael trocava de roupa em seu quarto, tinha conseguido esquecer a porta de casa aberta mesmo com um assassino a solta, um assassino que já tinha matado- Ele acreditava que era a mesma pessoa- duas ex-colegas dele, era tão surreal. Ele vestiu a primeira roupa que viu, tentando ser rápido mas acabou parado encarando alguns porta retratos.Paloma e Laura estavam em uma das fotos, junto a outros amigos e Raphael, sorrindo vestidos de fantasias de Halloween. Ele não se lembrava daquela festa direito, fazia mais ou menos uns 4 anos, mas conseguia se lembrar dos sorrisos e diversão, e principalmente da sala do beijo, o que tinha garantido que outra festa daquela nunca mais acontecesse dentro da escola. Colocou o porta retrato no lugar e desceu até a sala, onde as duas estavam em pé, paradas como estátuas.
Ver aquelas duas juntos era estranho, era estranho ver a Índia com alguém que não fosse o Daniel... As coisas mudavam...
- Vocês querem alguma coisa? uma água? Suco?- Ele sorriu radiante, correr era a coisa que mais gostava
- Não.- As duas falaram em coro
- Eu vou pegar uma água para mim então.- Ele foi até a cozinha e as duas o seguiram- Sabia que queriam algo.- Ele piscou
- Você notou algo estranho Raphael?- Disse Índia- Algum movimento estranho?
- Tudo sempre do mesmo jeito, a rua é tranquila, Suzana sabe disso.- Ele bebeu a água
- É sim, calma até de mais.
Um barulho podia ser escutado de longe, era um toque animado, uma música famosa.
- É o meu celular!- Ele bateu as mãos nos bolsos- Onde está? Eu devo ter deixado no meu quarto...
- Eu te ajudo a procurar!- Disse Índia
-Tudo... bem...- Elas estavam muito estranhas
Assim que os dois cruzaram a porta da cozinha, a mesma se fechou com força, deixando Suzana trancada dentro da cozinha. Raphael tentou girar a maçaneta da porta de vidro mas estava emperrada.
- Tente sair pela porta do quintal!- Gritou enquanto apontava para a pequena porta perto da geladeira
Ela andou até a porta mas estava trancada, ela voltou até eles fazendo gestos de que não conseguia abrir a porta.
- Isso não é uma coisa comum.- Comentou com Índia- As chaves estão lá em cima no meu quarto, tudo está lá!- Ele revirou os olhos
Os dois começaram a subir as escadas e chegaram no quarto de Raphael, ele tinha muitas perguntas para Índia desde no que ela queria se formar até o que realmente tinha acontecido entre ela e Daniel, mas se conteve somente a longas respiradas.
- Achei a chave!- Ele disse a balançando
- Você era amigo delas?- Perguntou Índia encarando a foto
- Nessa época sim.- Ele apontou para a foto- estávamos no nono ano, todos eram amigos... Eu nem sei por que mantive isso aí.
Raphael pegou a chave e acompanhou Índia até a ponta da escada mas o celular dele começou a tocar novamente, o barulho vinha do final do corredor.
- Não é possível.- Comentou
- O que?- perguntou Índia
- O barulho está vindo do quarto da minha avó ou melhor ex quarto.- Ele riu triste- os meus pais estão se separando, semana que vem eu tenho que resolver se vou ficar aqui ou ir com o meu pai.
- Sinto muito pelos seus pais... Quer que eu vá pegar o telefone?
- Eu tenho que abrir a porta do quarto!- Ele sorriu
- Vamos soltar a Suzana primeiro então.
- Já estamos aqui em cima!- Ele começou a andar até a porta- Ela está na cozinha, têm água e comida de sobra, ninguém vai machuca-la lá.
Ele colocou a chave e rodou a maçaneta. Índia tinha certeza que havia alguém ali dentro, seu coração saltava. Raphael procurava no quarto o celular, o que aquilo estria fazendo naquele quarto? Ele iria morar com o pai, tinha certeza, ia para a capital, para a faculdade de direito ou talvez acabasse fazendo Educação física, ainda tinha tempo para decidir. O celular voltou a tocar, estava começando a achar a música irritante, não estava na cômoda perto da porta nem na cama mas o barulho continua incessantemente, olhou de baixo dos travesseiros não estava, por um momento tudo parou, Raphael só podia escutar sua respiração.
Não era medo, era uma sensação ruim. O celular voltou a tocar, observou mais um pouco e achou o celular no chão do quarto. Trancou a porta e voltou para perto de Índia.
- Achei. Eu devo ter deixado cair la... em algum momento...- Ele se fez de confuso
- Onde é o banheiro?
- ali.- Ele apontou para a segunda porta do corredor- Eu vou liberar a Suzana.
Índia andou até o banheiro e esperou que ele descesse as escadas, para voltar ao quarto de Raphael e tirar com seu celular uma foto da fotógrafa que ele tinha junto com Laura e Paloma. Daniel desceu as escadas tranquilamente e quando chegou até perto de Suzana a garota parecia em desespero, ela apontava continuamente para o outro lado, ele balançou a chave mas ela continuava a apontar.
- Não tem nada ali!- Ele pareceu ver algo passar e começou a caminhar- O que...?
O grito que Raphael ia dar foi contido pela facada que atingiu seu estômago, era uma faca enorme. O garoto cambaleou procurando algum apoio, apertando o ferimento profundo que sangrava mas mantinha seus olhos na figura que usava uma cabeça de unicórnio. Suzana via tudo e tentava gritar o nome de Índia mas nenhum som era escutado do lado de fora.
Raphael deu alguns passos para trás tentando não tropeçar nas próprias pernas que estavam sem força mas caiu sentado, suplicando vida e existência, a figura o pegou pelos cabelos, o levantou e andou em direção a porta onde Suzana via tudo.
Com o primeiro barulho de vidro quebrando Índia se assustou e começou a ir para a sala, no alto da escada ela travou. O unicórnio batia a cabeça de Raphael contra o vidro da porta, Suzana estava sentada no chão abraçando as próprias pernas e chorando.Uma... duas... três... quatro... foi o suficiente para que o vidro se partisse em vários pedaços. Suzana podia ver o sangue escorrendo pela testa de Raphael, ele ainda estava vivo mas desnorteado. O vidro havia se partido irregularmente várias pontas, a figura levantou o rosto do menino e enfiou seu pescoço em uma das grandes pontas, o sangue jorrava e Raphael olhava para Suzana como se pedisse alguma ajuda, suplicava a ela que o tirasse dali. O assassino virou sua cabeça de unicórnio para Índia, ela podia jurar que aquela máscara sorria e então saiu pela porta da frente como se nada tivesse feito.
Índia desceu as escadas em choque, passou pelo corpo agonizante. Era culpa dela pensou. Tinha o deixado ir sozinho... Tinha se descuidado... Tinha deixado Raphael morrer.
Suzana se levantou, enfiou a mãos os cabelos e começou a puxa-los, ela estava horrorizada, completamente perdida mas tinha que sair dali, voltou a porta dos fundos e estava aberta.
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Laços da Morte [Concluído]
HorrorQuando se termina o ensino médio você realmente se livra da escola? Quase um ano depois de se formarem no ensino médio as coisas andam como sempre na vida de seis jovens. Festas, pegação e estudos para vestibular, nada foge do comum até que a morte...