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Eles cruzaram o portão da escola e começaram a subir a rua mas quando olharam para traz podiam ver os faróis acessos de um carro que vinha em alta velocidade. Eles tentaram correr mas Jonas estava muito debilitado, não conseguia acompanhar, a cada instante que o carro se aproximava mais tensão no corpo sentiam.

- Vamos nos esconder ali!- Apontou Wagner para um muro que os deixaria fora de vista

Os três ficaram ali parados, Wagner tirou sua camisa e Jonas a vestiu. O menino não se lembrava de nada, muito menos como havia fugido, se lembrava somente que entrou na escola pelo portão dos fundos que estava aberto e continuou a fugir.

- Simples assim?- Índia franzi-o o cenho e ele assentiu com a cabeça

- Havia uma porta...- Ele recuperou o ar para falar- mas tudo estava escuro...

- Quem nos ligou então?- Wagner perguntou

- O assassino...- o barulho do carro passando os fez engolir em seco

- Assa... assassino...- Jonas tossiu enquanto apertava o peito

- Temos que sair daqui!

- Eu vou olhar se já foi.- Disse Índia

Antes que ela pudesse passar do muro sentiu uma lâmina gelada em seu pescoço e quando olhou para cima viu a máscara de unicórnio sorrindo para ela, deu alguns passos para trás enquanto seu corpo tremia.

- O que está acontecendo?- Perguntou Wagner

- Aqui...- Ela apontou antes de tropeçar

O unicórnio girou seu rosto para onde os garotos estavam e desferiu um golpe contra eles, em um movimento brusco e desajeitado Wagner abraçou Jonas e sentiu a lâmina gelada passar por suas costas, o unicórnio deu alguns passos para trás, como se estivesse surpreso e foi o tempo suficiente para que Índia pulasse em cima dele.

- Seu maldito!- Gritou enquanto tentava agarrar o assassino

O assassino era forte, a jogou no chão e partiu de volta para cima dos garotos. Com uma mão pegou Wagner pelos cabelos e o fez soltar Jonas, naquele momento, o unicórnio tinha a oportunidade de matar Wagner mas não o fez, o jogou contra o chão fazendo-o ficar atordoado enquanto procurava os óculos. O assassino levantou Jonas pelo braço, que chorava incontrolavelmente.

- Eu juro que não fiz nada!- Disse- Eu juro...

Antes que pudesse terminar de dizer, cravou a faca em sua barriga duas vezes e enquanto o rapaz estava de joelhos, o assassino cortou sua garganta e largou o corpo no chão que se debatia e derramava uma enorme quantidade de sangue. O unicórnio não avançou contra Índia ou Wagner, enquanto os dois estavam em choque, se esgueirou rapidamente e saiu de cena como se nada estivesse acontecido.

- Nós... nós temos...- Índia disse enquanto observava Jonas morrer

- Não...- Wagner colocou os óculos- de novo não... Ai!- Ele passou a mão sobre o corte nas costas

- Temos que ir cuidar disso.- Índia disse se levantando- O Jonas está... morto... temos que ir.

- Não podemos...- Wagner se levantou confuso- Não devemos deixa-lo aqui!

- O assassino nós deixou ir... Ele podia ter nos matado mas o fez...-  Índia começou a andar e Wagner a seguiu- Vamos para a minha casa.

A casa de Índia era mais perto da escola que a de Wagner, eles caminharam em silêncio até a porta do pequeno prédio pintado de azul. Índia pegou a chave, abriu a porta. O pequeno corredor mal iluminado possuía um pequeno espelho e alguns guardas chuvas quebrados, eles andaram pelo corredor até três portas e Índia abriu a do meio.

- O meu quarto é ali.- Ela apontou para uma pequena porta no fundo- Eu vou pegar alguma coisa para cuidar das suas costas.

Wagner se arrastou até o quarto, a cabeça doía, os óculos estavam tortos, as costas feridas e tudo havia se tornado um grande filme de horror. O quarto de Índia era uma grande bagunça descomunal, a cama de solteiro estava bagunçada, o chão repleto de roupas e papéis, a única parte do quarto que estava arrumada eram os livros, a pequena coleção na estante estava muito arrumada e limpa.

- Já leu algum desses?- Ela perguntou parada na porta segurando uma maleta branca

Índia exibia um sorriso triste, em baixo dos olhos castanhos enormes bolsas escuras de quem não dormia a dois dias, usava as mesmas roupas desde a morte da Paloma. Não dava para se negar a beleza dela, os cabelos cacheados deixavam o rosto infantil mas ao mesmo tempo sério, a postura um pouco desleixada.

- Não...- Wagner sussurrou enquanto tirava os óculos- Sua mãe... não vai se importar de eu estar aqui?

- Ela está de plantão no hospital. Sente-se, vou cuidar disso.

Wagner se sentou na cama e Índia começou a procurar na maleta alguma coisa para limpar aquilo.

- Não é muito profundo... parece que ele não queria nos machucar...

- Eu também notei isso... Ai!- Ele gritou enquanto ela limpava o ferimento- Nós tínhamos que falar com a Polícia.

- E se ele começar a realmente...- Ela  finalizou os cuidados

- Realmente oque?- Ele a encarou

Índia se sentou na cama e se aproximou dele.

- Tentar nos matar...

Ela investiu contra ele em um beijo desajeitado, os lábios se pressionavam sem nenhum movimento, o corpo do garoto se contorceu e segurou os ombros de Índia a afastando dele.

- Eu...- Índia escondeu o rosto

Em um pequeno momento de silêncio, Wagner acariciou os cabelos de Índia. Era difícil, muito mesmo, entender toda essa situação, jovens mortos em suas frentes, tudo estava confuso.

- Desculpa... eu achei que...

- Não... não é sua culpa ...- Ele continuou a encarar o chão até que em meio a tanto papel, achou uma foto- Você e o Daniel pareciam muito amigos...

- Isso estava aí?- Ela pegou a foto

Festa de Halloween. Ela e Daniel abraçados sorrindo. O rosto de Daniel estava pintado como uma caveira e ela era uma bruxa, eles eram melhores amigos, eram...

- Você ainda não estava na cidade, faz uns 4, 5 anos... foi a melhor festa do ano... sem álcool mas foi.- Ela observou a foto com saudosismo e atenção- Eu e o Dani...

- Você e ele o que?

-Olha isso!- Ela mostrou a foto para ele apontando para alguma coisa

Wagner colocou os óculos e pode observar o que Índia mostrava. Não podia ser. Ele analisou a foto por mais alguns instantes. Entre todos os vultos e pessoas aleatórias, havia alguém parado em pé, completamente bem definido. Uma máscara de unicórnio, mas não era qualquer máscara, era uma exatamente igual ao que o assassino usava.

Índia pegou o celular e abriu uma foto. Era a foto que tinha tirado no quarto de Raphael e novamente estava lá, o assassino aparecia perfeitamente nas duas fotos, parado olhando para a câmera, enquanto ninguém notava sua presença.

- Ele sempre esteve nos observando...

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Unicórnio jogou a máscara no chão, ele estava com muita raiva, tudo que sempre sentia era raiva. Eles, todos eles, sempre foram hipócritas e egoístas, porque estavam protegendo um ao outro agora!? Wagner havia tentado proteger Jonas... Será que havia deixado algo passar!?

Olhou em volta da casa, haviam tantas fotos, todas as informações, o notebook em sua frente mostrava toda a vida daqueles que deveriam morrer, andou até a pirâmide de fotos e riscou a foto de Jonas, passou a mão pelas outras paredes repletas de fotos e arrancou uma delas da parede, havia deixado passar um fato e estava na hora de conta-lo para a pessoa certa.

Rasgou a foto, separando o abraço de Jonas e Wagner e voltou ao notebook, fazer o inferno, precisava fazer isso, precisava devolver o inferno.

Laços da Morte [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora