Epílogo

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Lucas podia finalmente se sentir livre daquela cidade, voltou para onde estava hospedado às pressas, tinham começado a analisar as coisas encontradas no esconderijo e a recolher as informações na casa de Wagner. Ele sabia que em pouco tempo seria pego e condenado. Tinha que fugir.

Ele entrou correndo no prédio e não comprimento o porteiro que estava descendo as escadas, respirou fundo antes de procurar as chaves no bolso mas não foi necessário, a porta estava entre aberta, ele se desesperou por um segundo e tomou um susto quando sentiu uma mão tocar seu ombro, era o porteiro.

- O rapaz do ar condicionado chegou agora pouco, esses aparelhos são antigos, sempre dão problemas...

- Ar condicionado...?

- O senhor fez uma reclamação mais cedo, não lembra? O ar tinha parado de funcionar.

- Eu...- Ele buscou na mente, não tinha reclamado, estava tão desesperado que nem perceberia se o ar estivesse funcionando ou não- Tem sido dias muito conturbados.

- Eu sei... Aquele jovem trouxe a desgraça para essa cidade...

A notícia sobre Wagner ser o culpado pelo assassinatos da cidade chegou a mídia rapidamente, Wagner e sua fantasia de Unicórnio, estavam no topo de qualquer conversa no bar, na esquina, ou nas redes sociais. Wagner tinha fama e Lucas não queria estar ligado a ele publicamente. O porteiro saiu tão rapidamente quanto tinha chegado e Lucas respirou fundo antes de entrar no pequeno cômodo. Não escutou nenhum barulho, nem viu nada de diferente, andou até o banheiro e abriu a porta, ninguém, andou lentamente até a cama, foi quando viu alguém parado.

Não parecia muito velho, vinte no máximo, usava roupas escuras e usava boné com uma pequena caixa de ferramentas e uma mochila, o rapaz levou a mão enluvada a boca, fazendo sinal de silêncio, Lucas andou e fechou a porta, deixando o silêncio mortal entre eles. O investigador não estava entendendo o que estava acontecendo, mas tinha certeza que já havia visto aquele rapaz em algum lugar.

- Então... você... é...?

- Sou um bom amigo seu e como um bom amigo, trouxe um presente de despedida.

- Nós nos conhecemos? Eu não tenho tempo para brincadeiras, ok?

- Você sabia que o terreno de seu avô não estava no nome dele?- o rapaz comentou, se abaixando e mexendo na mochila- Era algum tipo de calote, uma casa bonita já pronta e uma boa localização vendido a alguém que tinha dinheiro e não tinha urgência de viver no local, o terreno continuou a ser vendido, mesmo que seu avô tenha pagado por ele. Em algum momento o terreno foi vendido com todas as formalidades e ano passado foi vendido para um dono de ferro velho, que lotou o lugar com aqueles carros amassados e nunca mais nem lembrou.- ele ficou novamente com a mão repleta de papéis

Lucas pegou os papéis e começou a folheá-los, era verdade, o lugar estava no nome de uma pessoa que ele não conhecia.

- Então isso não tem haver comigo? Não podem chegar em mim?

- É claro que podem!- o rapaz riu- Como acha que o Wagner chegou em você? Não é simplesmente porque você é um babaca que bate na namorada.

- Você...

- Me escuta, eu limpei você, ok? Mas tinha uma coisa que eu não podia limpar...- ele se abaixou novamente e mexeu na mochila, pegando algo envolvido em um pano preto

Lucas pegou aquilo e estranhou, desenrolou rapidamente descobrindo que era um notebook.

- O que...

- Eu tomaria cuidado com isso, seria complicado se descobrirem que o investigador roubou o notebook de um assassino...

O rapaz fechou a mochila, a colocou nas costas, pegou a maleta de ferramentas e encarou Lucas.

- Não posso te deixar sair. Você estava ajudando essa merdas toda a acontecer?

- É o que parece, não?- Sua expressão não se alterava- Wagner tinha ódio mas não dinheiro, Joana tinha ódio mas não conhecia ninguém que pudesse compartilhar esse sentimento. Conhece as profundezas da Internet? Você encontra de tudo lá, incluindo pessoas que tem sede de vingança.

- Então você os bancou? Você era o líder?

O rapaz de preto soltou uma risada longa e cínica.

- Wagner era o líder, ele tomou a dianteira da situação na morte do Jonas, eu fiquei com muita raiva rasguei umas fotos...- ele suspirou, rindo como se tivesse uma boa lembrança- Eu sou apenas o rapaz do ar condicionado, eu somente apareço quando necessário.

- Foi você que matou o Pablo?

A morte de Pablo era a única que ainda não se encaixava, além de ser diferente das demais, Wagner, Mateus e Augusto estavam na festa quando aconteceu e Joana havia voltado para a faculdade, onde mesmo já tento trancado o curso, passou o dia e a noite saiu com a colega de quarto. Todos tinham álibis sólidos e perfeitos.

- O Pablo era uma pedra no sapato, já o viu bêbado alguma vez?

- Assume que o matou?

- Tenha uma boa tarde senhor.- o rapaz disse, ignorando a pergunta- Espero que o ar condicionado não de mais problemas.

- Mas que merda é você?- Lucas segurou a porta e o impedindo de sair

-  Um homem apaixonado.- Ele suspirou- Protegendo a amada dos males do mundo.

- É uma piada? Ou uma brincadeira?

- As vezes é preciso limpar os males do mundo, foi isso que o Wagner fez, mas ele errou, usou a máscara de Unicórnio de um jeito contraditório e tentou tira-la de mim! Ela me ama, por isso me escolheu, o Unicórnio é o símbolo do nosso amor!- Ele já parecia irritado, elevando a voz- Se não me amasse, porque teria me salvado daquela brincadeira de mal gosto?

- Eu ainda não entendo.

- Você nunca amou ninguém, não poderá entender.- Ele andou até a porta, retirou a mão de Lucas e a abriu- Eu amo tanto a Índia que eu poderia espalhar cada parte do corpo dela pela minha casa, para que ela sempre estivesse comigo.

A porta se fechou e Lucas continuou estático dentro do quarto, enquanto isso, o rapaz descia as escadas calmamente, cumprimentou o porteiro e saiu pela rua, jogando sua caixa de ferramentas e mochila em uma van estacionada um pouco mais a frente, entrou e checou todas as redes sociais de Índia, não havia nenhuma atualização, como já era esperado, e então clicou na foto dela e sorriu ao vê-la naquela foto, era a garota dele, só dele.

Partiu, dentro de uma tarde normal de uma cidadezinha que havia acabado de conhecer a morte, o rapaz que dirigia calmamente tinha uma única convicção, Índia já era dele e ela notaria isso, custe o que custasse, iria a qualquer lugar por ela, e a teria, nem que fosse necessário que novamente algumas pessoas se machucassem. Isso não estava próximo do fim. Não mesmo.

O Unicórnio retornará.

Laços da Morte [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora