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- Não Antônio, não da para fazer isso!- Gritou Luciana

- Nós temos que fazer algo!- Antônio gritava- Minha filha não vai ser culpada por algo que não fez!

- O advogado já tentou de tudo!- Rebatia a mulher- Índia não pode sair da cidade.

Leo estava sentado no sofá roendo as unhas, dois dias e Índia já havia dado depoimento e nada mudava, ela continuava sendo o único nome que ressoava, ninguém havia conseguido nada para ajudá-la, tudo era uma bola de neve. Pela primeira vez, Cecília, Antônio e Luciana dividiam um mesmo espaço e não brigavam por qualquer coisa que acontecesse. O advogado mal tinha conseguido rebater as acusações, principalmente porque toda a cidade a condenava, eles precisavam de um culpado.

Se levantou e voltou para o quarto, se tinha que fazer isso, tinha que fazer logo. Colocou o notebook sobre a cama e começou a vasculhar os arquivos que deveria ter apagado, pastas, mensagem, fotos, aquilo salvaria Índia e os outros, pegou um pendrive e transferiu os arquivos, era sua cartada de sorte, e assim que terminou limpou o computador, enquanto encarava o celular, esperando uma ligação desconhecida cheia de ameaças.

- Você precisa fazer isso.- Disse a si mesmo enquanto escolhia uma roupa

Estava muito fácil, parou para refletir voltando a se sentar na cama. Desde o primeiro momento que o Unicórnio o pediu para limpar o celular que estava usando, transferindo fotos e dados para um pendrive não fazia sentido, por que ele precisava de Leo para aquilo? O Unicórnio podia ter feito isso sozinho. A câmera de Índia não havia dado em nada mas já o número de celular que Augusto havia trazido tinha tido um bom resultado, havia conseguido uma coordenada, o lugar onde o celular estava, o covil do Unicórnio.

- Muito fácil. Muito fácil. Muito fácil.

Sussurrava abrindo as gavetas da cômoda que tinha no quarto, depois partiu para o guarda roupa, pegou a caixa, era outra coisa que ele poderia entregar, a abriu lentamente, uma máscara de unicórnio, aparentemente parte de uma simples fantasia, mas o tornava culpado, ele também tinha sido o Unicórnio, enfiou na mochila junto ao pendrive e guardou o papel no bolso.

Desceu as escadas lentamente, quase na ponta dos pés, querendo passar despercebido pela confusão na cozinha mas sua mãe o gritou.

- Onde daibos acha que está indo?

- Eu preciso fazer uma coisa.- Disse sucinto

- Não Leo, você não pode sair... não agora!

- Eu vou ver o papai...- Mentiu, não completamente mas mentiu

- Não volte muito tarde...- Luciana suspirou levando as mãos a cabeça- e fique com o telefone ligado!- Disse

- Eu te amo mãe.

Leo saiu da casa podendo finalmente respirar, precisava de um pouco de coragem e ver o pai parecia realmente uma boa ideia, andou bastante até chegar ao cemitério, parando em frente onde o pai estava enterrado.

- Então parece que o dia vai ser grande hoje.- Encarou a lápide- Eu vou fazer o certo, tirar as acusações das costas da Índia mas isso pode me custar muito caro, o senhor já teve medo de alguma coisa?- Ele ficou em silêncio- Teve medo quando percebeu que o que tinha feito não tinha mais volta? Quando percebeu que não tinha mais controle do carro?- Leo se controlou para não chorar- Pois eu tô me sentindo assim, dirigindo um carro bêbado e eu não tenho mais controle de nada, só estou a alguns metros da colisão e nada mais pode me salvar.

Laços da Morte [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora