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A garota loira estava sentada na cama vestida de preto, seu cabelo perfeito preso em uma tiara preta, os saltos impecáveis e destoando toda sua perfeição penas bolsas negras em baixo dos olhos.

- Vamos, filha.- A mãe abriu a porta, também de preto

A garota se levantou e foi com a mãe até o carro. Estavam indo ao enterro de Laura Gomes, o corpo demorou uma semana para ser encontrado pelos pais que chegavam de viagem, a perícia concluiu que foi um assassinato, cometido por alguém extremamente profissional que fez tudo sem deixar rastros.

O cemitério estava cheio, quase toda a cidade estava ali, todos se conheciam e não conseguiam entender como aquilo tinha acontecido.

- Oi, Mara.- o rapaz loiro segurou a mão da garota- Eu sinto muito.

Mara voltou a chorar, Laura não era sua melhor amiga mas as duas haviam crescido juntas e ela foi uma das últimas a ver a garota em vida, saindo da festa que dava em casa.

- Ainda não consigo acreditar.- Comentou a mãe de Mara

- Eu também não.- Disse o rapaz- Ela estava tão animada na festa...

- Não me lembre dessa festa Augusto.- Disse seca

Mais pessoas se juntaram a eles e logo o cortejo seguiu o caixão fechado. Todos estavam lá, Mara podia dizer o nome de cada um ali. A cidade era pequena havia uma única e excelente escola, isso garantia que todos os jovens se conhecessem. Os pais de Laura estavam inconsoláveis, queriam justiça a todo custo.

O enterro foi rápido e silêncio, ninguém se dispôs a falar do ocorrido. A escola Santa Borgonha estava organizando uma pequena homenagem a Laura e todos os jovens estavam indo para lá, Mara se despediu de sua mãe e entrou no carro de Pablo junto a Augusto, no volante Luiz, o professor de física e pai de Pablo.

- Como estão crianças?- Perguntou Luiz

- Indo.- Augusto respondeu enquanto abraçava Mara- E o senhor?

- Laura foi uma excelente aluna... Mas e esse clima em?

Ele mudou completamente de assunto, enquanto começava a dirigir. Todos sabiam o quão doloroso era para Pablo, o garoto negro havia sido a última pessoa a se encontra com Laura ainda viva, chegou até ser suspeito mas foi descartado pela falta de provas, a culpava por não ter aceitado dormir na casa dela aquele dia, achava que era sua culpa.

Eles chegaram rapidamente a escola, já haviam muitos adolescentes ali reunidos, no pátio várias cadeiras estavam cheias, haviam algumas reservadas na frente as pessoas que estudaram o terceiro ano com Laura.
Mara se sentou ao lado de Augusto em uma das cadeiras da frente, havia um pequeno palanque e um microfone, o Senhor Alberto, diretor da escola, subiu e começou a discursar.

- Laura Gomes era um aluna dedicada e comprometida aluna...

Mara olhava em volta fazia quase um ano que as aulas tinham acabado e ali era a primeira vez que podia ver sua turma realmente junta, das 25 pessoas algumas já haviam saído da cidade para estudar em alguma faculdade, outras trabalhavam, alguns faziam cursinho e outros só davam um tempo, assim como Mara davam um tempo de estudar..

Toda aquela homenagem durou uma hora e depois eles se dirigiram ao refeitório onde era servido alguma coisa de comer, que Mara não queria saber. Augusto e Mara se sentaram em uma mesa perto a grande janela de vidro que dava para o Jardim da escola, logo algumas pessoas se juntaram a eles.

- Parece que não esquecemos quem fomos um dia!- Riu uma ruiva enquanto se sentava na mesa

- Não dá pra esquecer.- Disse Augusto- Como anda a vida Helena?

- A Laura morreu...- Ela colocou a bolsa sobe a mesa e puxou um espelho para retocar a maquiagem

Mara observou todos ali, estavam sentados como na época da escola. Ela estava acompanhada de Augusto seu namorado desde o nono ano, Helena, Diego, Luiz, Gabriela e Sofia, na mesa mais próxima a saída estavam o grupo dos jogares de futebol... Ou eles diziam que eram na época da escola, os nerds ocupavam a mesa próxima ao cozinha, os esquisitos, continuavam esquisitos, e estavam mais afastados de todos, os fitness estavam na mesa do centro, haviam mais alguns ex alunos espalhados.

- No que tanto pensa?- perguntou Luiz segurando a mão de Mara

- Onde a Laura se sentava?- Ela franzino o cenho

- Ela se sentava conosco.- Disse Helena confusa

- Não.- Disse Augusto- era ali.- ele apontou pra mesa dos Fitness.

- Ela se sentava em todos os lugares.- Disse Gabriela enquanto mexia no cabelo- Sempre estava com todos...

O celular de Mara vibrou e ela se levantou para atender, sua mãe estava ligando. Ela saiu pelo corredor até a porta de uma sala que estava vazia.

- Oi mãe.- Ela se sentou em cima de uma mesa- Está tudo bem aqui, eu acho que vou para casa daqui a pouco... Não precisa vir me buscar... até.

A porta se abriu fazendo um barulho estranho, Mara encarou quem quer que estivesse abrindo a porta.

- O que você quer por aqui?- Ela arqueou a sobrancelha direita

- Achei que a sala estivesse vazia.- A menina voltou a sair

- Fique Paloma.- Mara desceu da mesa- Eu que já estava saindo.

- Eu sinto muito pela Laura...

- Não sente.- Mara começou a andar, o salto fazia um grande barulho no chão- Eu sei que não.

Mara parou em frente a Paloma com um pequeno sorriso. Paloma era da mesma altura que Mara, usava uma blusa e uma saia preta, o cabelo castanho escuro estava preso em coque mal feito, os olhos castanhos estavam bem maquiados, ela era do grupinho dos Fitness.

- Não pode julgar a dor das pessoas Mara.- Paloma cruzou os braços e se escorou na porta- Você não pode julgar ninguém ou melhor não mais, você não é mais a rainha da escola.

- Uma rainha sempre é rainha até que lhe cortem a cabeça!- Mara riu e bateu no ombro de Paloma

Mara saiu e voltou a caminhar pelo corredor de volta para seus amigos, eles eram os populares, não foram, são. Populares permanecem populares até o último dia de sua existência. Ela se sentou ao lado do namorado e deu um beijo em sua boca.

- O que aconteceu?

- Eu acho que deveríamos ir embora.- Mara bateu as unhas na mesa

- Agora?- Helena questionou

- Agora!

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Paloma estava sentada em uma das carteiras enquanto mexia no celular, ela odiava a vaca da Mara com todas as forças que tinha.

- Merecia morrer...- Falou para ela mesma enquanto curtia uma foto de Mara

Mara havia transformado seus anos de escola em um inferno... bem ela tinha feito isso com todos. O barulho da porta se abrindo fez a garota olhar assustada mas ninguém entrou.

- Malditas portas!- Paloma lembrou de todos os anos que passou naquela escola, as portas abriam e fechavam sozinhas

Voltou a atenção ao celular, muitos posts sobre como estavam tristes com a morte de Laura, por um momento o sinal da internet sumiu, ela encarou o celular mas ele tinha parado de funcionar, deu algumas batidas mas nada o fazia voltar, um barulho de algo se arrastando entre as cadeiras fez com que ela se assustasse mas antes que pudesse gritar um pano tapou o seu rosto com um cheiro forte a fazendo desmaiar.

Laços da Morte [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora