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Marta estava aos prantos, sentada em um dos bancos da pequena igreja. Eu te odeio, foi a última coisa que tinha dito para Suzana, dando-lhe um tapa na cara da última vez que se viram, não podia acreditar que agora sua melhor amiga estava em um caixão, que a sua única amiga estava agora em um lugar melhor e agora nunca se perdoaria pela última vez que tinham se visto. Índia deveria estar tão dopada que nem a reconheceu quando entrou em seu quarto vestida de enfermeira, na hora parecia a coisa certa mas agora era um erro, tinha se deixado levar pelo que tinham sussurrado em ouvido, se encontrasse com ele novamente diria que aquilo não tinha a ajudado, só fazia doer mais.

Terminou suas orações e saiu da igreja que ficava apenas duas ruas abaixo do Colégio Santa Borgonha, por mais que aquele fosse o caminho mais perto resolveu pegar outro já que não aguentaria passar na porta do Colégio sem se lembrar de Suzana e todos os outros que haviam morrido, em seu novo caminho acabou passando pela porta da casa de Índia, ela não sabia que aquela era a casa dela, mas ao ver o movimento de polícias deduziu, um pouco a cima cortou caminho por um terreno baldio, de um lado uma casa e do outro havia um terreno com o chão de terra, alguns carros velhos e quebrados e uma van nova parada, também havia uma casinha no centro, velha e de tijolos e madeira, desde de que se lembrava a casa estava ali abandonada mas pela primeira vez viu uma luz acesa.
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O Unicórnio estava em seu esconderijo, sua poltrona era reconfortante, estava indo para a reta final, em sua pirâmide de fotos a base estava liquidada e a próxima estava quase completa, somente uma pessoa faltava, olhou a coleção de celulares dos mortos e abriu um pequeno sorriso, mas ainda havia algo que o atrapalhava.

Andou pela casa e abriu a porta do que um dia tinha sido um quarto e se agachou perto do rapaz que não dizia nada, somente o encarava com os olhos arregalados, o sangue já havia se espalhado pela manga da camisa, os tiros de raspão dados no dia da morte de Suzana eram um pequeno aviso, ele tinha tentado ser esperto, havia traído o Unicórnio e ia pagar por isso quando a hora certa chegasse, o Unicórnio se sentou na frente dele e pegou uma caixa que estava no chão, pegou o conteúdo de primeiros socorros e fez dois curativos mal arrumados, não era um cuidado.

Estava vivo e ia continuar, até quando o Unicórnio quisesse e precisasse dele, o poderia ser em breve, o Unicórnio abriu um sorriso e se levantou, voltando a fechar a porta, andou um pouco mais desligando as luzes e arrancou uma foto de sua parede, assim trancou seu esconderijo e em silêncio voltou a ser quem era.
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Quando Daniel abriu os olhos era tarde da noite, o pai dormia na cadeira ao seu lado, logo de cara percebeu que estava em um hospital.

- Pai...- chamou e o homem abriu os olhos sonolento

- Dani!

- O que...- as memórias estavam bem vivas em sua mente, todas as lembranças o machucavam- Ai meu Deus...

- Eu vou chamar alguém... ok? Não se mexa muito, não tente levantar... Meu Deus Daniel!- Fernando se permitiu chorar e voltou a cadeira, se sentando para tentar se acalmar- Eu nunca mais achei que te veria assim... E agora está tudo tão estranho...

- Me desculpe pai...- ele suspirou afundando ainda mais a cabeça no travesseiro

- Não é sua culpa...

A noite se seguiu agitada, enfermeiras iam e viam checando se Daniel estava bem, dormiu um pouco mas não muito pois toda vez que fechava os olhos a mesma frase rodava em sua mente, Índia é minha irmã. Pela manhã tudo ficou mais movimentado, exames, mais enfermeiras, médico e um homem fardado que sempre dava uma volta pelo quarto, ele foi liberado no começo da tarde, o pai o ajudou a entrar no carro e então partiram.

Laços da Morte [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora