Capítulo Nove: Estudos

8K 607 17
                                    

           Minha mão doía, e por isso eu larguei a caneta tentando acalmar meus dedos. No indicador já havia um pequeno calo. – Eu não sei! Eu não sei nada. Absolutamente nada! – exclamei cansada. Olhei desesperada para o relógio e já passava da uma da manhã. Eu teria que acordar em quatro horas e não tinha nem ido dormir.

A verdade era que nunca levei os estudos a sério e por isso eu não sabia absolutamente nada. Havia pedido uns livros do cursinho de Patty e eu me sentia completamente idiota tentando estudar. Eu não entendia nada de português, nem matemática, não lembrava nada de química e ignorava qualquer outra coisa de física. A única coisa que eu podia dizer que entendia de biologia era sistema reprodutor.

E pensar nisso me fez rir. O que só me fez senti ainda mais idiota, rindo durante a madrugada. Meu coração estava disparado... Sabe, como se eu estivesse indo ter um encontro ou tivesse descoberto que fui traída... Mas, a única traição era a do meu próprio cérebro. Eu tinha apenas três meses para estudar, e teria que ser o suficiente para passar em ao menos um dos cinco vestibulares que eu ia prestar. Seria algo simples se eu tivesse tempo para estudar – o que eu não tinha mais, já que eu precisava lavar banheiros e dobrar lençóis. Além disso, eu sempre odiei os estudos com todas as minhas forças.

Bufei com raiva, coloquei uma jaqueta e fui para a cozinha. Rezando para nenhum hóspede me ver. Desci pelo elevador da despensa, sai em passos largos pelo corredor e entrei na cozinha sem fazer barulho. Depois da uma não havia mais nenhum chef, eles só chegavam às cinco para o café. A única coisa que funcionava 24 horas era o bar.

- Como um ladrão. – a voz fria de Leon me fez quase ter um ataque cardíaco. Ele estava encostado do lado da pia. – No meio da noite, ela entra pela cozinha e rouba toda a comida. – ele falou de forma irônica, rindo de mim.

- Só vim comer algo, seu idiota. – retruquei ligando a luz. Como eu ia saber que ele estava ali no escuro? – Aliás, o ladrão é você que está aqui no escuro.

- Até parece.

- Cala a boca. – foi tudo o que pensei em falar. Olhei o interior da geladeira. Estava cheia de coisas boas. Fiquei com receio de pegar algo e faltar. Então, resolvi só pegar um copo de leite.

- Você sabe que existe um serviço que você pode pedir isso?

Eu o encarei incrédula. – Eu pago por qualquer serviço extra. – falei como se fosse a coisa mais óbvia.

Ele sorriu. – Pelo jeito, o vovô não te dá mole, heim?

- Aposto que ele deve dar muito mole para você. Aliás, - eu o encarei. – o que faz aqui no hotel a essa hora? Você não tem uma casa?

- Tenho. Eu só não consegui voltar para casa hoje. – foi aí que reparei que ele estava com o mesmo terno e camisa que usava no jantar.

- Achei que ia amar dormir com a sua mamãezinha hoje. – fiz voz de criança.

- Ia ser um prazer. Mas, não havia como.

O jeito que ele falou me levantou suspeita. Mas, dei de ombro. Eu não queria saber. Coloquei o leite num copo e guardei a caixa na geladeira de volta.

- E você o que faz aqui?

- Não consigo dormir.

- Por isso, veio beber seu leite, bebê.

Eu o encarei com ódio. Mas, pela primeira vez, percebi que ele não me encarava como se eu fosse uma ameaça. Até podia arriscar dizer que o jeito que ele falou bebê havia sido carinhoso e por algum motivo meu coração voltou a explodir no meu peito. Isso era terrível.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora