A Herdeira (Concluído)

Capítulo Dezoito: Nunca imaginei que você se atrasaria.

            Eu sou a outra... Já fui traída, mas eu nunca havia traído ninguém. Quer dizer, quando sai com mais de uma pessoa ao mesmo tempo não deve ser traição. Não está exclusivo. Mas, eu nunca fui a outra. A outra, não aquela coisa de um fica com um, não, eu beijei um homem noivo de outra mulher. Ele vai se casar com outra mulher e eu o beijei. Foi só um beijinho inocente, nada demais.

Nada demais? Meu rosto fica vermelho de vergonha só de lembrar. Leon estava lá fora fazia alguns minutos. Dez, vinte, trinta? Não sei! Parecia que ele não ia voltar mais. Comecei a reler as perguntas, mas eu as revi umas dez vezes até perceber que não conseguia me concentrar. Que porr... A porta se abriu!

Eu o olhei de forma acusadora. Mesmo que de fato quem tenha tido a atitude mais agressiva tenha sido eu. Ele te beijou primeiro, uma vozinha me disse lá no fundo da minha cabeça. Não, você que o beijou mais! Outra vozinha retrucava.

- Desculpa, vamos voltar aos estudos.

Não disse nada. Só fingi que estava tudo bem. Mas, não estava tudo bem. Nós tínhamos acabado de nos beijarmos. Mas, Leon parecia impassível. Ele não parecia abalado. Meu Deus! Que cara de pau. Ele me beijou e depois falou com a noiva dele, a noiva chinesa famosa, e nem parecia estar em choque. Ele parecia estar... sendo ele mesmo. Só isso. Do jeito que sempre é.

Talvez, eu devesse perguntar. Talvez, eu devesse o acusar de algo... Mas, nada vinha na minha cabeça.

- Essa questão está errada. – ele apontou.

- Ah! – foi tudo o que saiu de mim. Um reles Ah! Um Ah!, Um Ah inútil. Meu Deus, um Ah? O que eu queria dizer com um Ah? Dá para dizer algo com um Ah? Não, não dá.

- Quer que eu explique?

- Não. Vou reler com mais atenção. – e reli, reli e refiz. E foi assim até ele se levantar e dizer que precisava ir dormir.

- Amanhã, eu volto. – anunciou. Meu coração estava sambando no meu peito.

- OK.

E sem dizer mais nada ele saiu. Meu Deus! Eu sou a outra. Me arrastei para a cama, sem conseguir mais fazer nada e dormi.

Sonhei que Joyce Lee me perseguia com uma arma, falando que eu era uma traidora, mas toda vez que ela ia atirar em mim saiam flores da arma, que caíam sobre os pés dela. Os sapatos vermelhos e caros dela esmagavam todas as pétalas e eu ria por escapar ilesa. Não era bem um pesadelo, mas acordei me sentindo mal. Mas, era até engraçado. Então, enquanto vestia meu uniforme eu fiquei rindo que nem uma boba. Saí do meu quarto, fui tomar café na cozinha e fiquei pensando o tempo todo o que eu faria da minha vida.

Ignorar... Ignorar... Era o que minha mente falava. E pela reação de Leon, era a melhor escolha. Elza me disse quais quartos eu deveria limpar, e depois de comer uma maçã – eu preciso emagrecer- fui ao trabalho.

Assim que entrei no corredor para limpar os quartos, me deparei com Margot. Ao me ver, ela deu um sorriso e se aproximou.

- Vejo que terá bastante trabalho hoje. – comentou.

- Como sempre.

- Bem, não vou te atrapalhar. Só quero dizer que na próxima segunda vamos assinar sua papelada.

- OK!

Então, ela acenou e saiu. Segunda era o meu dia e faltava quase uma semana, mas não importava. Era incrível. Eu seria oficialmente uma herdeira. E neta do Fagundes. Algo me dizia que a minha competição particular com Leon iria piorar e a mãe dele, nossa, só de pensar me fazia tremer.