Quarenta e oito: A fotografia

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            - Matriculada, parabéns. – foram as palavras de Menezes assim que saímos do prédio da universidade.

            - Obrigada. – falei com certo orgulho de mim mesma. – Tenho que agradecer ao velho por ter me ajudado nessa. Com aquele salário de miséria do Hotel...

            - Carolina, menos. – disse Menezes com um sorriso nos lábios.

            - Carlos, você anda menos insuportável, fez algum tipo de curso?

            - Não deveria falar com esses modos. Até porque você é herdeira do Panthera. Deveria agira como tal. – ele retrucou ainda mantendo o sorriso nos lábios.

            - Nada mudou... – falei pensativa. – Eu achei que seria a Paris Hilton brasileira.

            - Seu avô possui um jeito próprio de testar o caráter das pessoas. – ao falar isso, estávamos já em frente ao seu carro, ele destravou as portas com a chave e após o bip entramos. Ele como motorista, eu como passageira.

            - Parece que faltou testar o caráter de Belle antes de deixá-la casar com o James.

            - Não era como se o caráter do sobrinho fosse tão prestigioso desse modo. – ele ligou o carro e deu partida.

            - Carlos, por favor, - minha voz saiu como súplica. – O que houve com essa família? O que Jacques tem a ver? E afinal quem era aquela loira perambulando pelo Hotel com Leon? A Jacqueline. – desde minha discussão com Leon, nós não havíamos mais trocado palavras, no máximo nos encarávamos ao trombar no corredor. Algo raro, já que eu vivia enfurnada na cozinha ou no meu quarto, quando não estava trabalhando.

            Lembro que Margot ia me contar algo. Mas, com tudo o que houve, eu deixei passar. Completamente esqueci de ir encontrá-la e ela foi viajar. Quando cheguei da cozinha, após meu trabalho, no meu quarto havia um bilhete na minha porta:

            Ia te fofocar tantas coisas, mas você não deu as caras. Não se preocupe, baby. Não sou de guardar mágoa. Estou indo resolver questões trabalhistas no Nordeste. Mas, volto. Quem sabe até lá, eu nem precise gastar minha saliva.

                                                                                                                      Margot

            Isso porque ela disse que não guardava mágoas, pensei ao ler a última frase. Pior que seja lá o que ela tivesse que me dizer, eu deveria ter extrema vontade de ouvir. Era complicado assumir que esqueci do nosso encontro.

            - Margot ia me dizer algo, mas ela foi para o Nordeste. – comentei com Carlos.

            - Ah sim, tivemos uma queixa trabalhista lá. Nada demais. – ele falou ignorando completamente todas as minhas falas anteriores.

            - Por favor, Menezes... –usei seu sobrenome tentando parecer mais séria. - Eu sinto que estou entrando num ninho de cobras. – voltei a quase suplicar. Era uma teia imensa. Quando entrei para o quadro da família não fazia ideia das aranhas que nela viviam. Quanto mais eu estava próxima de ser uma Fagundes, de fato, mais eu me sentia enrolar nas teias, paralisando cada membro do meu corpo.

            Carlos coçou o queixo, trocou a marcha, fez cara de cão sem dono. – Abre o porta-luvas. – falou, por fim, num tom bastante sério e grave.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora