Capítulo Dezesseis: Tudo nessa vida tem uma razão

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            Fiz um Boletim de Ocorrência Online. Não queria e nem havia tempo para eu ir numa delegacia. Só preenchi todos os dados, recebi um e-mail de confirmação e agora precisava esperar a avaliação e depois disso iam me mandar o boletim, que eu poderia imprimir. Fiquei olhando feliz para o computador. Estava na sala ON, era tipo a área de Lan House do Hotel. Os grandes riquinhos que se hospedavam aqui podia usar sem dó, caso eles não pudessem usar os seus notebooks caríssimos. Além da senha do Wi-Fi, havia computadores que se pagava pela hora de uso e laptop que podiam ser alugados. Por ser neta do velhote, não pagava. Mas, eu não podia ficar horas ali, só quando fosse necessário. Era o cúmulo ter isso de só quando fosse necessário...

            Fui trabalhar normalmente, só pedi um tempinho para Elza para vir fazer o boletim. Mas, confesso que queria dar uma escapa, eu me sentia tão mal e infeliz. Parecia que não andava, me arrastava pelos cantos, de quarto em quarto, trocando lixos e limpando como um robô. Torcendo para Leon nunca vir ter aquela conversa comigo... Ficava imaginando que ele ia falar da entrevista. Nem sabia o que mais ele podia falar comigo. Aliás, a gente não se falava, a gente só teve as aulas como um momento de paz... O resto era uma tempestade louca.

            Quando vi que já estava há quarenta minutos na sala ON, percebi que não tinha mais como enrolar. Vi minha lista de quartos para limpar, suspirei cansada e desanimada. Peguei meu carrinho e fui para o próximo quarto que precisava ser arrumado. Ao abrir a porta, nunca imaginei que veria algo tão esquisito.

            Havia uma mulher nua, sentada na mesinha que ficava no centro do quarto, tomando café e lendo jornal.

            - Me perdoe, senhorita, eu não vi o aviso na porta. – falei já abrindo a porta de novo para sair. Não lembrava de ter visto um aviso de não perturbe pendurado na maçaneta.

            - Ah, sem problema. – a mulher respondeu e a voz dela me pareceu familiar, mas não consegui identificar. – Não coloquei o aviso, completamente esqueci. – ela confessou.

            - Eu volto mais tarde. – avisei sem muita formalidade.

            - Pode continuar, isso está uma zona. – ela comentou abaixando o jornal e finalmente pude ver seu rosto. Era a mulher de ontem, a que me ajudou a passar pelo segurança. Desviei os meus olhos dos dela. Não queria ficar olhando-a. Ela estava completamente nua.

            Olhei pelo chão e realmente a palavra zona era muito adequada. Havia um monte de papel pelo chão, as roupas dela se misturavam a papel de chocolate e havia uma garrafa de Red Label no chão, ainda com metade do líquido.

            Margot me encarou. – Olha é a herdeira! – e os olhos dela brilharam.

            Abaixei ainda mais a cabeça, deixando meu corpo num ângulo estranho, como se eu fosse meio corcunda. – Bão, Bão, você tá be confundindo com outra pessoa. – falei anasalando a voz.

            Mas, tudo o que Margot fez foi gargalhar. – Foi a coisa mais ridícula que eu já vi na vida. – isso me magoou. – Então, o velhote te pôs para trabalhar. Bem, típico. – ela caminhou até a cama e pegou um robe e o pôs – aleluia!

            - Bem, eu posso voltar depois, você parece estar descansando. – até desisti de negar qualquer coisa. O jeito era ignorar.

            - Certo, volta mais tarde. Vou tomar um banho e sair. Aí você pode dar um jeito nisso.

            Me virei para ir embora, mas algo me deteve. Não sabia quem ela era. Como ela sabia do velhote? Aliás, a primeira pessoa que o chama assim, como eu, quando estou com raiva dele. No momento, quase todos os dias eu tenho raiva dele. Ah, esse velhote... Sumido ainda por cima. Inferno!

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora