Capítulo Quarenta e Sete: De sangue

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            Meu Deus, alguém me ajuda? Eu não aguento mais ouvir essa história.

            -... Então, ela pegou suas coisas e partiu. – Adam falou pela milésima vez e começou a berrar, urrar, chorar ou seja lá o que ele estava tentando fazer. Eu NUNCA ia imaginá-lo chorando como um bezerro desmamado. Ainda mais por uma pessoa como Mel. Hello, cadê o humor do Adam? Ele se apagou junto com a partida de Mel? A verdade era que a música de Mel era completamente o inverso. Ela caprichou na letra, mas o vilão não era Adam. Era ela mesma. Mel o abandonou e foi atrás do primeiro namorado cantor que ela teve. Um tal de Renan – isso mesmo, só Renan. Sem sobrenome nenhum. E quem eu tenho quase certeza que fazia parte de uma boyband falida chamada La Bamba nos anos 90. Era um misto de axé, rock e música latina com passinhos sincronizados. Acho até que eu, novinha e tal, curtia e cheguei a ganhar o único CD que a banda lançou.

            - Sim. – Leon falou com certa compaixão. Ele estava dando uns tapinhas nas costas de Adam.

            Essa situação era insustentável. Os dois estavam sentados na minha cama, enquanto, eu, em pé, os observava de forma totalmente impaciente. Cara, isso não fazia lógica.

            - Será que vocês podem se retirar? Isso está muito estranho. – comentei com impaciência. Mas, Adam só me encarou com seus olhinhos marejados e fungou altíssimo. Leon estava com um sorriso debochado no rosto. – Nem sei porque você veio me procurar, Adam... Não temos nada há muito tempo. Depois de eu ir parar na delegacia por sua causa, – ok, foi porque eu saí no tapa com a Mel, realmente não deu para conhecê-la bem, só deu pra saber que minha mão cabe direitinho na cara dela...- sem falar aquela história de gravidez. – Cara, quase morro só de lembrar daquilo. – Bem, resumindo, definitivamente não há chance alguma de você vir chorar suas pitangas para mim. Sem falar que você esperou meras duas semanas para abaixar seu rabinho e ir correndo pra Mel. Quem, tenho certeza, vai voltar para você logo. Agora, saiam do meu quarto! – quase berrei na última frase e apontei para a porta.

            Nesse momento, fui inundada por um único pensamento: Preciso sair desse apartamento! Eu preciso sair desse Hotel. Já não basta trabalhar ali, ainda tenho que morar nele... Isso não está certo...

            Meu desejo de ano novo era: Sair do Hotel e morar de aluguel.

            Adam me olhou mais uma vez com seus olhinhos de cachorro abandonado. – Eu sei, mas achei que era passado. Que não havia ressentimento.

            - Hello, eu lá falei com você desde aquela época? Nós tomamos rumos diferentes.

            - Acho que está sendo muito indelicada. – Leon comentou com um tom que me pareceu de deboche.

            - E você! – apontei para ele. – Saía você daqui. Não ouviu falar que eu não quero ver sua cara nem pintada? Corra para o rabo da sua mãe. – falei de forma desbocada. Isso estava me esgotando.

            - Eu vim conversar civilizadamente.

            - Civilizadamente? Querido primo, tudo o que você fez agora não foi nada civilizado. E ainda quer tirar satisfação? Meu filho, se você quiser um oi meu vai ter que fazer muito mais do que simplesmente vir conversar civilizadamente.

            - Sinto que estamos tendo progresso.

            Eu ri alto que nem uma doida. – Pro-gres-so? Nunca! Isso aqui não é uma conversa. – ia falar para saírem novamente, mas desisti. – Quer saber? Fiquem vocês aqui. Eu sairei do meu próprio quarto. – e sem esperar resposta deixei os dois no vácuo. Bati a porta o mais alto que consegui.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora