Capítulo Doze: Um dia antes

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            Eu não preciso dizer que nunca ia obedecer Leon. Ainda mais depois dele me ver sem camiseta e ficar falando aqueles absurdos (e minha imaginação voar longe). Então, por algum mistério bem cabuloso Adam conseguiu meu telefone – o que esses benditos repórteres não conseguem? Aposto que ele tinha um informante no Hotel, mas preferi ignorar. Bem, como ele fez com a Aysha, ele me chamou um dia antes da entrevista para trocarmos uma ideia.

            Aliás, eu vi a entrevista da Aysha e fiquei horrorizada. A Aysha havia sofrido abuso sexual em um ônibus por cinco caras!!!! Chocante, não é? Lá na Índia, eu não sabia, mas era um problema grave do país. Aysha falou disso naquela voz mansa, sem pestanejar uma única vez. Primeiro, pensei que ela era insensível. Depois, percebi que as mãos dela tremiam levemente, enquanto seus dedos agarravam o tecido do seu sári. Era complicado, mas seus olhos eram firmes. Aysha era uma representante da igualdade de gêneros, um dos maiores nomes femininos da atualidade... E eu nem sabia até aquele encontro quem ela era.

            - Como vai? – a voz de Adam me fez lembrar que estávamos em Moema, bairro nobre de São Paulo, num restaurante que eu precisava ficar sem comer três meses para pagar.

            - Bem, e você? – eu falei de um jeito arrisco.

            Ele riu. – Calma, Carolina, não vou te morder. – e quando meus olhos encararam os verdes dele, eu achei que ele ia me morder sim... Mas, se ele dizia que não, quem era eu para duvidar? – Eu quis trazer você aqui para falarmos melhor, ficarmos mais íntimos – e isso fez minha imaginação voar muito longe, já comecei a imaginar uma cama com dossel. – e não ficarmos constrangidos diante da câmera.

            Ele era bem constrangedor, sabe? Com esse jeito dele, de sou um repórter gostosão, vamos, tire sua roupa.

            - É, com certeza. – foi tudo o que consegui dizer, antes de beber um imenso gole do vinho tinto.

            Adam começou a falar sobre a sua carreira. Nada demais, só aquele papo de deixa-te-contar-como-fiquei-famoso. Ele falou desde o fato de ter feito um ano de engenharia, trancado e só, então, ter começado a cursar jornalismo. Falou sobre ter sido radialista por um ano. Sobre ter sido repórter de rua. Depois, sobre outras coisas que meu cérebro meio que desligou, porque a cada palavra dele, eu ia bebendo um golinho de vinho.

            Não que eu tivesse medo ou algo parecido. Mas, é difícil não se sentir intimidada porque você fica lembrando das palavras: Fique longe de Adam! Você não sabe que tipo ele é. Não que eu achasse que Adam pudesse ser um tipo ruim. Quem consegue achar um cara desses um tipo ruim? Olha para ele, como sua camisa está espremida nos seus músculos ou como os seus olhos verdes parecem me fitar com admiração. Qual admiração? Eu sou herdeira daquele velhote, mas ele me trata que nem merda. Quem sentiria admiração por alguém que está aprendendo o teorema de Pitágoras com 25 anos?

            - Desculpa, acho que estou sendo chato. – ele comentou. Eu sorri e neguei com a cabeça. Na verdade, eu não havia conseguido prestar atenção...

            - De jeito, nenhum, continue. – falei como se antes eu tivesse interessada. O que eu NÃO estava. Ao menos não interessada na vida profissional dele. Cara, isso parece um encontro...

            - Não, eu quero saber mais de você. Até para saber o que te perguntar. Vai ser a sua primeira entrevista, não é mesmo?

            - É, sim. – eu falei desanimada e beberiquei mais uma vez minha taça. Mas, não havia mais nada nela. Coloquei a taça de volta na mesa sem graça.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora