Capítulo Trinta e Um: O passado

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            Havia flores no túmulo da minha mãe. Mas, não havia sido eu quem as colocou ali. Na verdade, eu era uma filha péssima. Não havia vindo vê-la nenhuma vez nesses meses. Não tinha coragem. Vir ao cemitério era confirmar mais uma vez o fato de que ela não estava mais por perto. Coloquei as tulipas, que eram suas flores favoritas, sobre o túmulo, ao lado das flores que estavam enfeitando-o.

- Mãe, me perdoa pela demora. Pensei que viria antes quando o Adam disse para virmos, mas não deu. Lamento muito que você tenha tido que esperar tanto. Sinto sua falta todos os dias, fico imaginando o que pensaria de mim, hoje. Sabe, se eu soubesse de tudo o que sei agora, digo, conhecimento e forma de ver a vida, eu teria sido uma filha melhor. Sinto falta do seu sorriso, da sua risada e até das suas broncas. Quero tanto que você tenha orgulho de mim. - não havia como conter, antes que eu pudesse evitar, várias lágrimas deslizaram pelas minhas bochechas.

- Senhorita Carolina. - quase morri de susto ao ouvir o meu nome sendo chamado. Virei rapidamente pensando que encontraria um fantasma.

- Menezes!? - isso era muito surpreendente. O que o capacho do meu avô fazia aqui?

- Bom dia. Como vai?

- Não era para você estar no Sul? - perguntei ainda muito assustada e surpresa. - Sim, e você? - emendei com medo de parecer muito mal-educada. Só então reparei no buquê nas mãos dele.


- Estou bem. Cheguei ontem à noite de Santa Catarina. Mas, devo voltar em uma semana. - Então era lá que eles estavam enfiados todo esse tempo. - Trouxe flores para a sua mãe. - Ele acrescentou ao reparar como eu encarava o buquê como se fosse um Alien.


- É você que vem trazendo essas flores?


- Sim.


- Meu Deus, Menezes, não sabia que você era apaixonado pela minha mãe, nem sabia que você a conhecia pessoalmente! - exclamei alarmada. Isso era chocante! Parecia até mesmo tema de novela mexicana.


- Não!


- Não precisa se encabular. Está tudo bem, sabe? Ela era linda e apaixonante, eu sei. - disse e me aproximei dele.

- Senhorita Carolina, você está enganada. Eu...

- Sério mesmo, isso é lindo! Devia ter chegado antes, sabe? Talvez, - não consegui falar. Queria dizer que talvez ela tivesse aproveitado mais a vida, mas não consegui porque voltei a chorar.

Menezes ficou sem reação ao me ver chorando compulsivamente. Num ato quase paternal, ele me deu uns tapinhas reconfortantes nas costas. - Está tudo bem, está tudo bem... - ele repetia pacientemente enquanto eu soluçava chorosa, falando coisas inaudíveis.

- O-obrigada. - falei por fim quando já estava mais calma.
- Sim, conheci sua mãe. Mas, - ele me encarou como se procurasse as melhores palavras. - não era apaixonado por ela.

- Não? - agora nada fazia sentido.

- Não. Eu trago as flores em nome do seu avô.

- Meu Deus, meu avô era apaixonado por ela!!?? - isso sim era chocante.

- NÃO!!! - ele exclamou berrando.

Eu o encarei confusa, sem entender realmente o que estava acontecendo.

- Somente seu pai foi apaixonado por ela, Carolina. Somente ele. - falou impacientemente.

- Então, o que é isso?

- É em consideração, Carolina. Ele está tentando se redimir pelos últimos anos.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora