(Leon)
Não havia muitas palavras para descrever o que eu queria nesse momento. Eu queria socar alguém. Explodir. Porém, não podia. Fiquei me perguntando se os investigadores particulares pensavam que eu era culpado. Pensei se os policiais pensaram que eu era o culpado... Como eu ia provar que não?
- A presença de Carolina te incomodava?
- Sim. – falei sinceramente.
- Acha que ela te atrapalha?
- Sim.
- O que acha de dividir a herança com ela?
- Inoportuno.
- Como assim?
- Acho que é algo a se pensar, com calma. – completei.
- Você faria algo para impedir que ela conseguisse pôr as mãos na Herança?
- Depende do que exatamente. – isso estava ficando chato. Eu queria mentir. Dizer tudo inverso. Mas, não quis. E se eu mentisse e isso virasse contra mim?
- Depende do quê?
- De como ela vai se sair.
- Se sair em quê?
- Na vida.
- Você teria motivos para sequestrá-la?
Quase ri nessa parte. As perguntas dos investigadores particulares eram ridículas. Na delegacia também haviam sido idiotas.
- Aos olhos alheios sim.
- Qual era a sua relação com ela?
Isso me pegou.
- Não sei responder.
- Não? Como assim?
- Não sei pôr em palavras. – falei com sinceridade. O que era? Na verdade, eu estava mentindo... Existia o que não era, de fato. Mas, o que era afinal? Deus, eu ia explodir. Eu não queria explodir. Queria manter a calma.
- Certo.
Depois disso, houve mais algumas perguntas que respondi com sim e não e fui dispensado. Tanto dos policiais quanto dos detetives particulares. Aliás, eles tinham muito trabalho.
Fui para o Hospital assim que me livrei deles. Como somente era um na lista dos suspeitos, eu não podia ser preso. Corri pelas ruas movimentadas de São Paulo como consegui até chegar no Hospital. Assim que entrei na sala de espera, estava o Menezes. Quando me viu, ele se levantou e caminhou em passos largos até mim.
- Não foi uma suspeita.
Queria entender porque não existia tato... Não foi uma suspeita. Ele desembuchou as palavras insensíveis sem questionar se eu era de fato um homem de fibra e forte para ouvi-las. O fato de eu ser tão duro por fora, às vezes, fazia todos acharem que eu era tão cruel e intacto por fora e por dentro. Mas, foram quatro palavras e eu me senti muito mal. Quase perdi o fôlego ou talvez realmente o tenha perdido. Não sei mesmo explicar. Só sei que foi extremamente e indiscutivelmente chocante ouvir isso.
- Ele está sendo atendido. Estão fazendo o que podem.
Estão fazendo o que podem. Não foi uma suspeita. Levei um choque. Foi quase um chute no estômago. Ou no saco. Levei um chute no saco. Busquei as cadeiras, tão próximas de nós, e ao mesmo tempo tão longe. Era chocante saber que o meu tio-avô estava sendo atendido como podia. Como podia! Como assim? Ao mesmo tempo que eu não fazia a mínima ideia de onde a Carolina estava. Onde ela estava?
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A Herdeira (Concluído)
ChickLitCarolina nunca pensou que a sua vida poderia mudar da água para o vinho - Literalmente. Ela só queria ir para a academia, fugir do trabalho, sambar e ser Madrinha de Bateria, apesar de saber que não tinha influência nenhuma para ser uma. Mas, depoi...