Capítulo Três: O Magnata

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           Quando aquele senhor entrou na sala do delegado, eu tremi. Ele era alto, a cara limpa, cabelo grisalho penteado para trás e imensos olhos azuis, como os do homem na fotografia que achei no quarto de mamãe. Apesar de ser velho, eu podia jurar que aparentava menos anos do que tinha. Ele tinha algumas rugas, mas eu daria no máximo 55 anos para ele.

Tudo foi um mal-entendido. E quase que o Menezes, o homem de terno e gravata preta que queria que eu o seguisse lá em casa, me acusa de difamação – foi sugestão do próprio delegado. Só porque eu o acusei de mafioso, sequestrador e ladrão de órgãos. Mas, a verdade era que ele era o Menezes (meu BFF – só que não), um tipo de secretário de Ângelo Fagundes (quem eu NUNCA tinha ouvido falar! Mas que o próprio Menezes me explicou que era dono dos Hotéis Panthera – onde eu sempre quis me hospedar).

Então, quando o dono dos Hotéis, o próprio, que antes era desconhecido por mim, o tal do Ângelo Fagundes entrou na delegacia – cara, ele realmente foi na delegacia – e isso me fez perceber que talvez o caso fosse mais grave do que eu pensei – eu senti meu corpo tremer. Porque aquele velhote era simplesmente um cara de presença. Um daqueles ricos de ar nobre que ao chegar do nosso lado parece que nos faz sentir mais pobres do que somos. Faz nos sentir totalmente inferior. O jeito que ele me olhou foi horrendo. Ele cravou aquelas bolas de gudes azuis no meu rosto e me sugou a alma.

Cumprimentou o delegado, chamando-o de Doutor Oswaldo (era o nome do delegado, 'tava na plaquinha sobre a mesa). Assentiu para os policiais e deu um sorriso que buscava ser simpático, mas estava longe de ser.

Menezes voltou a explicar tudo. Ele queria me levar para conhecer o tal do dono dos hotéis. Mas, que eu estava entendendo tudo errado. Então, eu percebi que TALVEZ eu tivesse exagerado. E por isso, eu resolvi me defender.

- Sabe, eu estava ainda MUITO traumatizada com o fato de que virei órfã há dois meses. – falei me vitimando. Eu sabia disso, mas era minha única escolha naquele momento. O que eu podia fazer? – Além disso, eu fiquei endividada e isso estava corroendo o meu cérebro. – omiti o fato de que fiquei com dívidas porque eu não fui trabalhar, aliás, eu nem tinha um emprego. Eu nem fui procurar um emprego, só fiquei sofrendo mesmo! Sim, eu também omiti que eu simplesmente me isolei por dois meses.

Continuei tagarelando sobre a minha vida cruel, quando o Ângelo me interrompeu. – Dr. Oswaldo, perdoe essa jovem que não sabe medir as palavras que lhe saem da boca. Poderia apenas lhe dar um alerta? Algum tipo de recado para que ela não acuse as pessoas sem ter provas? – ele questionou olhando fixamente para o delegado. Cara, eu tenho certeza que se ele tivesse falado: TIRE A ROUPA, o delegado ia assentir. Porque sem falar nada, o homem ficou ali acenando e concordando como se o que o magnata dos hotéis estivesse falando alguma profecia.

- Senhor, - era Menezes. – eu que peço desculpas. Acabei perdendo a cabeça diante tantos insultos. – ele se referia a mim. Meu sangue subiu.

- Fala sério, no mundo de hoje, quem ia entrar no carro de um estranho? – perguntei me fazendo de sabichona. Percebi que Ângelo deu um sorrisinho presunçoso, era como se dissesse: Finalmente, algo sensato.

- Certo, certo. – o delegado disse acenando com a mão de forma impaciente. – Está liberada. Só escute o que esse homem diz, - falando sobre o magnata. – e seja uma moça mais paciente.

Uma moça mais paciente? Caramba! Eu só não dava um soco na cara dele, porque ele era o delegado. Aí sim, eu ia ser processada e presa.

- Ok. Vamos embora, por favor. – Ângelo falou me encarando. Como se eu fosse ter medo desses olhos felinos. – Obrigado pela compreensão, doutor. – falou para o delegado.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora