Capítulo Quinze: Margot, amarga

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          Olhei para a tela do computador e fiquei pensando se isso estava certo. Hoje era a minha folga, e já havia passado cinco dias depois da entrevista. Meu avô para variar não havia me encontrado. Nem reclamar sobre a entrevista ele havia feito, como era de seu feitio. Leon, bem, eu estava sem minhas aulas particulares e sem vê-lo.

- Não acredito que você não conhecia a Joyce Lee. – Patty falou atrás de mim. Finalmente, eu havia conseguido uma folga num dia que eu pudesse vê-la. – Ela é a versão feminina de Rodrigo Santoro, ícone brasileiro em Hollywood. – comentou. Ela estava sentada na cama dela comendo um saco de batata Ruffles.

- É, e só conheço as atrizes globais e os atores gatos de Hollywood, por que eu ia querer saber de uma chinesa-brasileira famosa? – questionei sem tirar meus olhos da foto na tela do computador. A mulher ali estampada era muito gata.

- Ela é muito gata! Tem um monte de menininhas querendo ser que nem ela, e você nem sabia que ela existia. – Patty me provocou.

- É, como eu ia saber? Eu estou ocupada demais limpando a merda nas privadas de um hotel. –falei carrancuda.

Leon não ia encostar nenhum dedo em mim ou ele ia se arrepender. Maldito! Eu ia achar um namorado, que não fosse Adam e muito menos Fernando, que me ligou e me chamou para sair depois que eu apareci na entrevista. Mas, vivendo num hotel e não tendo vida social... Bem, essa tarefa parecia muito difícil. Sem falar o quão ridículo seria falar para meu namorado que eu era camareira no Hotel que meu avô era dono. Aliás, Fagundes devia receber uma surra, ele era muito mais do que a palavra negligente conseguia abranger.

Sem Leon para me ajudar, estudar havia se tornado algo muito difícil. Eu estava ferrada e tive que implorar por ajuda. Graças aos céus Patty era muito inteligente.

- Vamos estudar inglês!

As palavras de Patty arderam em meus ouvidos. Parecia que eu nunca ia sair do verbo to be, era algo difícil de compreender. Ficamos estudando até tarde, eu cheguei a jantar com ela e sua família. Depois, me despedi e fui para o ponto. Ela foi comigo.

- Tudo bem? Não está tarde para você ir sozinha? – Patty perguntou enquanto esperávamos o ônibus.

- Relaxa. Eu vou descer no metrô. É rápido.

- OK.

- Obrigada por hoje! Eu sinto que sei mais inglês agora.

Patty riu. – Vai fundo, amiga, você vai passar fácil no vestibular.

- Eu espero, odiaria estudar à toa. – confessei. Ela riu, eu ri, falamos de mais algumas bobagens e o ônibus chegou. Dei um beijo estalado na bochecha dela e fui embora. Era um tempinho até o metrô e depois mais algumas baldeações, descer em outro metrô e pegar outro ônibus. Naquele momento, queria tanto passar no vestibular que me vi lendo uma revista sobre atualidades. Aquelas copiladas de fim de ano, com tudo que podia cair nas provas. Estava tão compenetrada que quase perdi o ponto do metrô. Era noite e ainda tinha bastante gente nos vagões, mas consegui sentar. Fiz baldeação e depois saí da estação e fui para o ponto esperar o ônibus.

Peguei a revista e comecei a folheá-la, não queria ler e perder o ônibus. Olhei ao redor e percebi um sujeito vindo em minha direção. Juro que não pensei que podia ser alguma coisa, eu simplesmente o ignorei e continuei olhando a revista. Mas, um minuto depois, o cara estava apontando uma arma para mim!

Quando vi o cano da arma, eu quis rir. Sério, eu não podia crer que estava sendo assaltada.

- Passa o celular, mina! – ele disse num tom nada agradável. Eu não consegui me mexer. Na verdade, só consegui fechar a revista e ficar olhando para aquele homem.

A Herdeira (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora