CAPÍTULO 34

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                        William estava certo. Blake havia sido desligado da empresa quase que imediatamente. Ela recebeu um e-mail do RH no fim do dia para avisá-la que Blake Lewis não mais pertencia ao corpo de funcionários da Harbor Advogados.

Crystal ficou deleitada, mas não satisfeita. Ela ajuizou a ação contra o tabloide do The Sun e também estava processando Blake. Pedia retratação pelo mesmo veículo de imprensa e uma compensação monetária por difamação.

— Eu quero cento e quarenta mil libras. — ela anunciou de frente para a juíza no dia da audiência.

Eles a procuraram com um acordo de noventa mil. Não. Aquilo não pagava nem a carcaça da BMW que estava cobiçando.

— Excelência, o The Sun fez uma proposta razoável de noventa mil libras pagas em espécie para a Srta. Sinclair. — disse o advogado da outra parte, levantando-se e abotoando seu blazer. — A mim, o pedido da vítima, parece mais uma tentativa de extorquir dinheiro.

— Extorquir dinheiro? — Crystal rebateu juntando suas mãos a frente do seu corpo. — Noventa mil reais não chega nem perto do que eu ganho por ano, Excelentíssima. De acordo com as pesquisas atuais, o The Sun é o veículo de maior circulação do país com uma média estimada de quase dois milhões de exemplares por mês, o valor do jornal são duas libras. A senhora não concorda que como o veículo de imagem mais bem remunerado do país e mais procurado, o The Sun não teria condição de me oferecer mais que noventa mil?

— Oferecemos cento e dez mil, Excelentíssima. É a nossa última proposta.

— Eu quero cento e quarenta mil. — Crystal disse ainda firme. — Eu fui ridicularizada e ofendida a nível nacional, quem sabe até global. Minha honra e dignidade não serão facilmente compensadas.

— Srta. Sinclair... — começou o advogado.

— Dra. Sinclair. — corrigiu-o. — Eu estudei, eu tenho um diploma exatamente como o seu e não estou aqui na posição de vítima. Estou como advogada.

O homem bufou e disse revirando os olhos.

— Dra. Sinclair, nós entendemos que não há dinheiro que pague sua dignidade. Entendo então que noventa mil ou cento e dez mil terão o mesmo cunho simbólico a seus olhos.

— Dificilmente. Eu sou de Nova York, mas não gosto de pechincheiros. Eu quero as cento e quarenta mil libras.

Dr. Silverstone soltou uma risada debochada, arqueando as sobrancelhas como se a achasse louca por dizer aquilo diante do juiz.

— Excelência, eu acho que está bastante claro o motivo de estarmos aqui hoje. Retiro nossa proposta de ressarci-la em cento e dez mil de danos. Obviamente a Srta. Sinclair está se aproveitando da situação e está se enriquecendo ilicitamente.

Se o Dr. Silverstone tivesse ficado calado, se ele tivesse percebido que estava falando com uma mulher, se ele tivesse conseguido enxergar a sensibilidade que havia embaixo da camada de rugas e do cansaço dos anos que a Excelentíssima Juíza Eloise Banks vinha prestando ao povo, ele poderia ter saído dali bem-sucedido – ela também não acreditava ou era grande fã da premissa que dinheiro poderia compensar sua honra e reerguer sua dignidade.

Mas ele era um homem burro e só tinha visto aquilo que queria ver. Uma mulher velha, cansada e que estava prestes a dar uma lavada no engraçadinho que pensava saber demais porque havia se formado em Oxford.

— Dr. Silverstone, ilumine-me se eu estiver errada, mas não conheço vítimas que se aproveitam de situações malquistas a que se veem envolvidas. — ela disse removendo os óculos de grau. — Você acha que quando uma moça que foi estuprada exige que o agressor seja preso ela está se aproveitando da situação?

The Other WomanOnde histórias criam vida. Descubra agora