O Diário de Amelia Hastings

Cap. 3 - It was a perfect ilusion...

29/01/2016

Querido diário,

Primeiramente, queria me desculpar por não escrever nada nos últimos dias. Sei que deveria escrever diariamente, mas não é sempre que acontece alguma coisa que mereça ser registrada. Meus dias são sempre bem normais. Estou escrevendo isso aqui para entender melhor os meus sentimentos, então só vou deixar gravado momentos relacionados àquela pessoa, ok? Então não me espere todos os dias.

Segundamente, preciso te dar um nome. Que tal Charlie? Seria uma homenagem a um dos meus livros favoritos: As Vantagens de Ser Invisível. É, vai ser Charlie. Bom, Charlie, lembra que o Mathew me disse para ajudá-lo a sair com a Melissa? Pois é. Tentei, mas não tive sucesso. Tentei mandar algumas indiretas para ela hoje, mas se o Mat quer realmente alguma coisa com ela, vai ter que ser bem insistente.

— Mathew é inteligente, né? — falei para Melissa e olhei para ele, que estava procurando um livro na estante da biblioteca.

— Sim. — Melissa nem tirou os olhos do caderno.

Meu trabalho de cupido seria mais difícil do que eu pensava, mas confesso que estava até um pouco aliviada de ver que a Mel não parecia tão interessada naquela história. Porém, como uma boa amiga, eu ia dar o meu melhor para ver a felicidade do meu amigo.

— Você gosta de meninos assim? — Foi uma pergunta meio tosca, mas era a primeira vez que eu dava uma de cupido, ok?

— Amy, por que está me perguntando isso? — Ela me olhou com certa confusão.

— É porque Mathew anda meio solitário ultimamente. — Tentei dar meu melhor olhar de piedade. — Queria que ele saísse com alguma menina.

Ela riu, como se não estivesse acreditando no que eu estava dizendo.

— E você acha que eu seria a garota perfeita? — Ela sorriu torto. O sorriso dela não é deste mundo, não é possível de tão lindo e charmoso que é.

— Não é isso. — Acabei rindo da minha inocência.

— Então o que é?

Balancei a cabeça negativamente e decidi ser mais direta com ela.

— Não é isso de garota perfeita, mas você poderia dar uma chance para ele. Poderiam sair juntos. — Dei de ombros.

— Amy, eu nem conheço ele direito.

— Mas a intenção é justamente vocês se conhecerem — falei do jeito mais óbvio.

— Eu não tô a fim dessas coisas agora. Se ele gosta de mim, não quero iludi-lo.

— Então... por que não saem só como amigos?

Melissa parou, pensou um pouco e não sei se fiquei feliz ou triste enquanto a via considerar o meu pedido. Não sei o porquê, mas a ideia dos dois juntos não me agrada. Não que eu ache que ela faria mal para o meu amigo ou vice e versa. É muito o contrário disso. Ela é uma pessoa que ilumina qualquer ambiente, estudar esses dias com ela está sendo maravilhoso e com certeza eu quero conhecê-la mais, mas queria... sei lá, que ela não se envolvesse com meu amigo e me desse mais atenção. O que essa menina está fazendo comigo?

— Se for como amigos, você vai também — ela respondeu e semicerrou os olhos para mim.

— De jeito nenhum — reclamei. — É pra vocês se conhecerem.

— Não adianta reclamar. — Ela cruzou os braços e soltou uma leve risada. — Isso vai garantir que não é um encontro e terei mais tempo com você.

"'Mais tempo com você'. Ela tá me deixando sonhar", pensei.

— Se ele concordar, por mim tudo bem — respondi.

— Se ele não concordar, não vou. — Melissa deu de ombros.

— Eu vou fazer ele concordar. — Repeti seu gesto.

— Fazer quem concordar? — Mathew voltou já nos questionando.

— Depois a gente conversa — falei para ele.

— Ok. Já peguei o que tinha que pegar. Vamos estudar?

Nós duas assentimos e começamos a estudar física. Não vejo necessidade nenhuma em saber a velocidade que um bloco desliza sobre um plano inclinado. Como isso vai ajudar na minha vida? Mas enfim, depois de muito esforço, consegui fazer metade de um exercício! Até o fim do ano, acho que eu aprenderei a fazer o resto.

E o dia se passou assim. Estudamos e só. Vim aqui para casa, jantei, agora estou ouvindo música e escrevendo em você. Charlie, eu preciso entender o efeito que Melissa causa em mim. Ela me deixa nervosa, mas não é um sentimento ruim. Eu quero estar cada vez mais perto dela. Ela tem um jeito tão encantador. Será que devo me afastar antes de me queimar nesse fogo? Olha, até que a metáfora não é ruim não. Qualquer um se perderia facilmente naqueles doces olhos e naqueles cabelos quentes...

Bom, Charlie, por hoje é isso. Até outro dia...

30/01/2016

Querido Charlie,

Hoje eu fui na casa de Mathew e contei para ele sobre minha conversa com a Mel.

— Então ela só vai sair comigo se você for também? — ele repetiu o que eu disse, como se tentasse acreditar.

— Sim. Melissa é uma menina de personalidade e nunca vi ela com ninguém. Você é um menino muito legal, tem muitas qualidades, mas ela não parece estar interessada em romances no geral, entendeu? — Tentei suavizar a situação o máximo possível.

— Entendi, mas talvez eu ainda consiga alguma coisa.

Suspirei. Algo dentro de mim dizia para eu tentar fazê-lo mudar de ideia. Meus sentimentos confusos em relação à Melissa estavam me afetando mais que o normal.

— Olha, ser amigo dela já é uma grande coisa — falei, tocando em seu braço. — Se contente com isso.

— Vou pensar. — Ele suspirou.

— Ok. Posso dizer que você vai?

— Sim.

— Ótimo.

Depois disso, conversamos sobre várias coisas. Ficar com o Mathew era muito legal. A mãe dele me ama. Sempre que eu vou lá, ela faz várias coisas para comer, deixa a gente super à vontade e também me ouve quando eu preciso. Ela é quase como uma mãe para mim.

Enfim, eu e meu amigo jogamos vídeo game, comemos muito e foi isso. Deu umas 17:00 e vim para casa. Vim para o meu quarto e liguei para Melissa.

— Olha só se não é a minha loirinha favorita — ela atendeu e eu fiquei completamente sem jeito.

— E-eu... o-oi.

Passei a mão no cabelo e suspirei, tentando controlar as batidas do meu coração. Ouvi Melissa rindo do outro lado.

— Tá tudo bem?

— Sim. — Assenti, mesmo sabendo que ela não podia me ver. — E você?

— Tô melhor agora falando com você.

Sorri feito uma boba. Será possível uma coisa dessas, Charlie?

— Bom, eu só queria dizer que falei com o Mat hoje sobre o encontro que na verdade não é um encontro.

— O que ele falou? — ela perguntou.

— Ele disse que vai.

— Ok. Seremos apenas três amigos saindo para assistir um filme.

— Isso aí.

Depois da conversa principal, Melissa começou a puxar outros assuntos e quando eu reparei, já estava deitada na cama rindo muito mais do que já ri em toda minha vida. Ela é uma pessoa incrível. A ideia de ter ela como amiga está ficando mais sólida a cada dia e eu estou amando isso. Sempre foi só eu e Mathew. Como será que vai ser daqui para frente? Eu nunca pensei que uma pessoa como ela pudesse se aproximar de mim. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu quero ela perto.

Até outro dia, amigo...